A figura do vídeo a seguir é um político chamado Washington Lee Abe, oficial aposentado da Polícia Militar do Paraná que, em 2018, se elegeu deputado estadual pelo PSL usando o nome de urna de Coronel Lee.
Do púlpito do plenário da Assembleia Legislativa do Paraná, Lee – hoje filiado ao Democracia Cristã (risos) e que se apresenta como “o inimigo número um do MST” – ameaçou “mandar Lula para o inferno” após o ex-presidente convocar manifestações em frente às casas de deputados para “conversar com eles, suas esposas, seus filhos” antes de votações importantes, caso seja eleito. A fala soa como uma ameaça de morte escancarada.
De quebra, Lee também sugeriu, de viva voz, ter participado do assassinato de integrantes do movimento dos sem-terra. “A última vez que esse bando do MST e da esquerda vieram nos visitar – queriam conversar com a gente no meio do mato –, foram parar no inferno. Então, Lula, mande a sua turma toda falar com a gente, de novo. E vocês vão visitar os seus amigos que estão lá [no inferno]. É esse o nosso recado”.
Quando na PM, Lee se orgulhava de comandar seu batalhão mais letal. “Este estudo, feito por um suposto especialista, diz que a polícia mais letal do mundo é a Polícia Militar do Brasil. No Brasil, a mais letal é a do Paraná e, no estado, o Comando Regional que está na primeira colocação é o 5º”, disse o político, que comandou o 5º Comando da PM paranaense, na região de Cascavel, segundo registro do jornalista Rogerio Galindo.
Em 2016, após o batalhão dele assassinar dois sem-terra em Quedas do Iguaçu – numa ação que o MST sempre qualificou como emboscada –, Lee afirmou que a corporação não iria “se curvar” ao movimento e não rejeitou o tratamento de herói que passou a lhe ser dado por moradores que se alegraram com os assassinatos.
Na biografia publicada por ele mesmo no site da Assembleia Legislativa, Lee afirma que “entre suas ações mais marcantes dentro da PM estão as reintegrações de posse de terra, sobretudo nas cidades de Quedas do Iguaçu, Santa Terezinha do Itaipu, Mangueirinha, Tijucas do Sul, Piraquara, Francisco Beltrão, entre várias outras”.
No plenário, Lee também fez referência ao deputado estadual paulista Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, o Coronel Telhada, ex-comandante da Rota, hoje deputado em São Paulo: “aqui é o coronel Lee, ex-comandante do Bope no Paraná. O nosso modus operandi, coronel Telhada, é o mesmo”. Após a fala de Lula, Telhada, filiado ao PP de Arthur Lira, Ciro Nogueira e Ricardo Barros, também publicou um vídeo – gravado no estacionamento da Assembleia Legislativa em São Paulo – em que acaricia uma pistola que carrega na cintura e desafia Lula: “Pode vir quente, que a gente está fervendo”.
A afirmação de Lula também rendeu vídeos de outros políticos bolsonaristas, como os deputados federais Junio Amaral, do PL de Minas Gerais, e Carla Zambeli, do PL de São Paulo. Mas nenhum deles fez ameaças tão diretas quanto as de Lee. Tampouco as proferiu no plenário de um parlamento, espaço democrático por essência.
Fosse séria, a Assembleia paranaense levaria Lee ao Conselho de Ética. Mas, como se percebe na expressão do presidente, Ademar Traiano, do PSD, ao final do vídeo e logo após a fala inacreditável do ex-PM, a chance de isso acontecer é nenhuma.
A polícia do Paraná é suspeita de ter vazado, há poucos dias, detalhes do roteiro de Lula a grupos bolsonaristas.
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