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O Twitter já é um lugar horrível, e nós podemos provar

Agora propriedade de Elon Musk, rede social foi invadida por conteúdo neonazista e pornografia infantil em 2020 e 2021.


A compra do Twitter pelo multibilionário Elon Musk, dono da fabricante de carros elétricos Tesla e da SpaceX, anunciada ontem, 25, apavorou a comunidade tuiteira. Muitas análises pipocaram: a compra pode piorar o diálogo institucional da empresa com autoridades brasileiras, resultar na chegada de um botão de editar postagens, dar transparência aos algoritmos, pode incorporar um modelo de liberdade de expressão sem limites.

Eu vou focar nesta última.

Se realmente Musk aplicar os seus conceitos de liberdade de expressão sem limites – que considera são elogiados por gente da estirpe de Jair Bolsonaro –, imagina-se que o Twitter pode mudar a maneira como modera conteúdo. A rede social tem uma longa lista de regras sobre discurso, que proíbem, por exemplo, ameaças, ódio e desinformação.


O ex-presidente dos EUA Donald Trump, por exemplo, foi banido da rede social no começo do ano passado, o que inflamou os ânimos dos defensores intransigentes de uma liberdade de expressão sem limites como o respeito à segurança de minorias, à estabilidade de democracias e punições a ataques mentirosos. A expectativa é que, sob Musk, o Twitter esteja mais alinhado com esses valores, e também menos sujeito a escrutínio público, já que se tornará uma empresa de capital fechado.

Se você está vivendo esse mesmo luto, tenho uma notícia: o Twitter já é um dos piores lugares da internet. Talvez a sua timeline seja legal, talvez você tenha criado listas e bloqueado trolls. Mas, ao olhar números objetivos da maior organização que monitora denúncias de crimes online no Brasil, a Safernet, o cenário é desolador.

Em 2021, o Twitter foi a rede social que acumulou mais denúncias: foram 7.426, seguida pelo TikTok, com 5.607 casos. Em 2020 e 2021, o Twitter foi campeão em denúncias de conteúdos de neonazismo e pornografia infantil. Só de neonazismo, em 2020, foram 3.097 denúncias. No ano passado, o número foi bem menor: 236, mas ainda o suficiente para colocar o Twitter na frente de outras redes sociais, como TikTok, YouTube e Facebook.

Já de pornografia infantil, foram 5.139 casos denunciados, um número absurdamente alto dada a gravidade do crime. Ainda assim, ligeiramente menor do que 2020, quando houve 5.557 denúncias (o número explodiu na pandemia). De racismo, foram 920 denúncias em 2021; de violência contra mulheres, 175 casos. Nessas duas últimas, o Twitter está entre os cinco piores domínios.

E esse não é um problema de hoje. Segundo a Safernet, o Twitter está desde 2010 entre os três domínios (ou seja, sites ou redes sociais) mais denunciados por crimes online.


Os números também mostram a maneira que a rede responde – removendo os conteúdos criminosos – em velocidade muito inferior à das denúncias. Em 2021, só 29 páginas foram removidas por promoverem neonazismo no Twitter. Pornografia infantil? O Twitter nem aparece no ranking dos dez domínios que mais removeram conteúdo (foram menos de 250 conteúdos removidos, uma fração das denúncias). Racismo? Só 33 remoções.

Isso significa que as atuais políticas de moderação já não funcionam adequadamente para manter o Twitter como uma rede de conversas saudáveis. Já é uma rede tóxica.

Talvez medidas como a de proibir pseudônimos, já anunciada por Musk, coíbam esse tipo de crime. Mas, vale lembrar, isso também pode deixar vulneráveis pessoas que dependem do anonimato para se protegerem. De qualquer forma, o prognóstico não é bom. Mas isso não significa que o Twitter tenha sido, até agora, um lugar tranquilo. Há tempos que não é. Se há alguma mudança necessária, seria justamente aplicar as regras de comunidade que já existem. Mas essa não parece ser uma prioridade do novo dono do Twitter.

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Quando o assunto é a ascensão da extrema direita no Brasil, muitos acham que essa é uma preocupação só para anos eleitorais. Mas o projeto de poder bolsonarista nunca dorme.

A grande mídia, o agro, as forças armadas, as megaigrejas e as big techs bilionárias ganharam força nas eleições municipais — e têm uma vantagem enorme para 2026.

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