O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, disse nesta quarta, 8 de junho, que “não houve retardo” no envolvimento das Forças Armadas nas buscas pelo indigenista Bruno Araújo Pereira e pelo jornalista Dom Phillips no Vale do Javari, Amazonas.
“Quero deixar bem claro: imediatamente após a notícia circular, o ministro da Defesa comunicou-se com os três comandantes de forças para que iniciassem planejamento de socorro à dupla de desaparecidos”, garantiu, na Câmara dos Deputados, aonde havia sido chamado para explicar os gastos de dinheiro público com viagra e próteses penianas para seus colegas militares.
Bruno e Dom desapareceram na manhã de domingo, dia 5. No início da manhã da segunda, o fato já era de conhecimento mundial via redes sociais. Ao meio-dia do dia 6, já havia notícias sobre o sumiço deles em todos os principais portais, rádios e tevês do país.
No início daquela noite, o Comando Militar da Amazônia, o CMA, fez circular entre jornalistas uma nota em que dizia o seguinte: “está em condições de cumprir missão humanitária de busca e salvamento, como tem feito ao longo de sua história”, mas “as ações serão iniciadas mediante acionamento por parte do Escalão Superior”.
Os metadados da nota do CMA indicam que o PDF com o texto definitivo foi criado às 17h28. Ou seja, pelo menos cinco horas e meia depois que a notícia já corria nos principais meios de comunicação do país.
Daí, restam algumas perguntas ao general Paulo Sérgio, principal responsável pela defesa nacional: ele só foi avisado do desaparecimento de Bruno e Dom no final daquela tarde? (É uma má notícia para todos nós que os sistemas de informação que alimentam o ministro da Defesa sejam lentos dessa forma.)
Se esse não é o caso, por que a ordem demorou tanto para chegar ao CMA? (Também é péssima a constatação de que uma determinação do ministro da Defesa levou mais de cinco horas e meia para ser transmitida do Comando-Geral do Exército a um dos oito comandos militares do Brasil.)
Existe, claro, uma outra possibilidade: a de que ninguém nas Forças Armadas deu a mínima para o desaparecimento de Bruno e Dom, e que a busca só começou efetivamente na terça, 7, quando a pressão da opinião pública se fez ouvir. De todas as opções, essa é sem dúvida a mais aterradora.
As perguntas foram feitas ao Ministério da Defesa e aos comandos-gerais do Exército e da Marinha. Se houver respostas, o texto será atualizado.
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