João Filho

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Sergio Moro: a patética trajetória política do nosso herói trapalhão

Um resumo das patacoadas do ex-juiz personalista que queria ser presidente, mas vai acabar como deputado bolsonarista – se conseguir.

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Sergio Moro: a patética trajetória política do nosso herói trapalhão

Ilustração: Rodrigo Bento/The Intercept Brasil

A trajetória de Sergio Moro na política talvez seja uma das histórias mais tristes e patéticas da história da República. Começou nos tribunais, onde foi um tigrão contra potenciais adversários políticos e um tchutchuco com aqueles que viriam a ser seus aliados.

Impulsionado pelos afagos e holofotes da grande imprensa lavajatista, Moro encarnou o personagem desenhado para ele: o herói nacional que atacava o “sistema”, o salvador da pátria que combatia os malfeitores da política. Foi na esteira das suas ações nos tribunais que pavimentou a estrada por onde passaria a motociata do fascismo rumo ao Planalto.

Moro resolveu segui-la e se tornou um dos principais ministros do governo Bolsonaro. Até aí tudo estava dando certo, até que rompeu com o chefe. Mas o rompimento não se deu por divergências ideológicas, mas por disputa de poder. A fantasia do herói traído, o homem tragado pelo sistema por tentar combater os políticos corruptos, parecia perfeita para as suas pretensões eleitorais. Essa doce ilusão foi o início do seu calvário.

O páragrafo seguinte será melhor lido ao som da música-tema dos Trapalhões

Moro queria ser presidente da República. Para isso, se filiou ao Podemos, partido comandado pelo seu conterrâneo e amigo Alvaro Dias, político que contou com a benevolência do ex-juiz durante a Lava Jato. Mas, no meio do caminho, o ex-juiz percebeu que o Podemos não estava estruturado o suficiente para dar conta da sua sede de poder. Então nosso herói trapalhão abandonou velhos aliados e partiu para o União Brasil, hoje o partido que conta com a maior parte da grana do fundão eleitoral.

A estreia do ex-juiz na política partidária ficou marcada pela traição. Enfeitiçado pelas promessas de um sujeito como Luciano Bivar – aquele que comandou o esquema de laranjas do PSL que ajudou a eleger Bolsonaro –, Moro acreditou que poderia ser presidente pelo novo partido. Mas o sonho não durou uma semana. Os caciques mandaram avisar que ele não seria candidato à Presidência e, poucos dias depois, Bivar apareceu como o candidato presidencial do partido.

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Bivar, malandro, fez Moro de otário. Achincalhado dentro do seu novo partido, o nosso herói trapalhão se viu obrigado a desistir do sonho presidencial e a se contentar com uma vaga ao Senado por São Paulo. O orgulhoso morador da “República de Curitiba” rejeitou uma vaga pelo Paraná, porque seu estado seria muito pequeno para o tamanho da sua vaidade.

O ex-juiz então se lançou como pré-candidato por SP e, para isso, tentou ser o malandro da vez e fraudou o domicílio eleitoral. Para provar o vínculo com a capital paulista, afirmou que recebeu títulos de cidadão honorário em… cidades do interior paulista.

Outra tentativa de provar que mora na cidade foi a ida ao mercado central de SP, onde tirou foto comendo o famoso sanduíche de mortadela, um programa de turista que paulistanos nunca fazem. Moro apostou também em um documento que provaria sua paulistanidade: um contrato de locação de um apartamento assinado UM DIA antes dele pedir a mudança do seu domicílio eleitoral.

A pororoca de constrangimentos não acabou. O PT percebeu a brecha e entrou com uma ação no Tribunal Regional Eleitoral, o TRE-SP, pedindo a inelegibilidade de Moro por fraudar o domicílio eleitoral. Diferentemente do que Moro fez com Lula nos tribunais, o PT conseguiu provar a fraude, e o tribunal derrubou a sua elegibilidade por São Paulo.

Moro descobriu que a lei do karma não é fraudável. Em nota, afirmou: “Anunciarei em breve meus próximos passos. Mas é certo que não desistirei do Brasil”. O problema é que, segundo as últimas pesquisas eleitorais em que esteve presente, parece que foi o Brasil que desistiu dele.

Depois dessa sequência de trapalhadas, o ex-juiz se viu obrigado a se contentar com uma candidatura pelo Paraná, o seu verdadeiro domicílio eleitoral. Ocorre que Moro queimou muitas pontes no estado ao deixar seu partido e aliados com o pires na mão para tentar voos mais altos.

No Podemos, desfilava sobre o tapete vermelho. No União Brasil, terá que lidar com os caciques regionais do partido, que são bolsonaristas fiéis e o enxergam como um traidor. Não terá vida fácil. O diretório estadual do partido é comandado pelo clã Francischini, cujo filho é o presidente do partido e o pai está cassado e inelegível por divulgar fake news golpistas em 2018.

Mas política é política, e os caciques já sinalizaram que topam Moro como candidato a deputado federal, já que seria um ótimo puxador de votos para a sigla. O sonho do ex-juiz era o Senado, o que o faria concorrer com Alvaro Dias, o padrinho político a quem pagou com traição.

Mas tudo leva a crer que ele se contentará em disputar votos por uma vaga na Câmara dos Deputados com o seu coleguinha lavajatista Deltan Dallagnol, do Podemos. Resta saber se Moro aceitará passar por mais um constrangimento: apoiar Ratinho Júnior, do PSD, o candidato de Bolsonaro e do União Brasil ao governo do Paraná.

Cansado de sofrer, Moro resolveu mobilizar a tropa lavajatista fundando um movimento político batizado com seu próprio nome: M.O.R.O, sigla para Movimento Organizado República e Ordem. Parece nome de partido fascista e tem o personalismo típico de líderes fascistas, mas deve ser apenas uma coincidência.

O movimento é a cara do seu dono: não apresenta grandes propostas nem tem ideias inovadoras para o país. O discurso do grupo se resume basicamente àquele surrado lero-lero moralista do lavajatismo que ajudou a eleger um presidente fascistoide.

O presidente do movimento é Márcio Coimbra, um cientista político que fez parte do governo Bolsonaro e sempre foi muito próximo da família do presidente. Mas o amigo de Moro não foi um bolsonarista qualquer.

Coimbra foi o principal cabo eleitoral de Eduardo Bolsonaro para embaixador dos EUA e o responsável por aproximar a família Bolsonaro de Donald Trump. Logo no primeiro dia de governo Bolsonaro, escreveu uma coluna para a Folha sobre uma viagem que fez aos EUA junto ao filho do presidente. Nela, ele deixa claro que acredita nas ideias alucinadas de Olavo de Carvalho: a luta contra o “globalismo” e a defesa dos “valores ocidentais”.

Duas semanas depois de escrever essa coluna, Coimbra seria presenteado por Eduardo Bolsonaro com uma vaga de diretor na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Esse é o presidente do MORO, que até pouco tempo estava sapateando na lama intelectual do olavismo e apoiando um governo fascistoide.

E assim a trajetória de Sergio Moro na política vai se encaminhando para um fim melancólico. Seu resumo é tragicômico: traiu aliados para tentar ser presidente por outro partido, foi traído pelo novo partido e teve que desistir da presidência. Fraudou uma lei eleitoral para tentar uma vaga ao Senado em SP e ficou inelegível no estado. Voltou para o Paraná e agora terá que se acertar com bolsonaristas para conseguir se candidatar a qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo. O seu passado controverso recomenda que ele se proteja com um mandato.

A vaidade fez com que Moro abandonasse uma carreira prestigiada no magistrado para se aventurar na política. Mas a realidade mostrou que o pretenso candidato Nem-Nem – nem Lula, nem Bolsonaro –, na verdade, é o candidato Sem-Sem: sem projetos, sem carisma, sem habilidade política, sem moral.

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