Aline Souza Santos morreu na última quinta-feira, 23, aos 42 anos, sem esperanças. Desde 18 de junho de 2021, esperava pelo início da investigação sobre o assassinato do filho, Thiago Santos Conceição, de 16 anos. Vivia numa casa com o cenário congelado naquele dia: a porta sanfonada com a perfuração e manchas de sangue do filho, o violão com a capa furada pela bala, que se alojou ali. Deixava tudo quase intacto à espera da chegada dos investigadores. Eles nunca apareceram.
Naquele 18 de junho, mais de um ano atrás, a Polícia Civil, com apoio da militar, fazia uma operação no Morro da Fé, no Complexo da Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Batizada de Coalizão do Bem, o objetivo da operação era prender um dos chefes do Comando Vermelho, tanto no Rio quanto em cidades do Pará e Amazonas.
Naquele dia, segundo contam familiares e testemunhas, Thiago passava pela janela quando levou um tiro na testa e morreu na hora. Dentro de casa.
Na época, em entrevista coletiva, o subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil do Rio, Rodrigo Oliveira, disse que o caso seria investigado. “No local onde ele foi baleado, não havia nenhum policial naquela localidade. Eles perceberam um tumulto à distância e obtiveram a informação que o adolescente tinha sido baleado”, disse. Mas a investigação nunca deu um passo. As provas foram largadas na casa de Santos, sem qualquer perícia. Só a primeira fase da oitiva com as testemunhas aconteceu, mas a reprodução simulada não.
Santos cobrava, com a ajuda da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, a presença do Ministério Público na casa para coleta das provas. De nada adiantou a pressão – o caso do filho parecia não tocar o MP. Ao longo do tempo, sem sinal de justiça, Santos adoecia de tristeza e desesperança, com quadros sérios de depressão.
Em fevereiro de 2022, sofreu um acidente cardiovascular, AVC, que deixou metade do seu corpo paralisado. No mês que o assassinato de Thiago completaria um ano, a doença piorou e Santos precisou ser internada. Na última terça, pegou uma pneumonia no hospital e os médicos a colocaram em coma induzido. Ontem, a mãe de Thiago não resistiu e faleceu. Na foto, ela aparece com seu companheiro, Orllean Figueiredo.
“O estado mata nas favelas e não investiga. Isso precisa ser desnaturalizado. Não é a primeira vez que a mãe de uma vítima do estado morre de tristeza, digamos assim. Quem está no acolhimento (amigos e familiares) fala que é nitidamente uma morte de tristeza. A Aline morreu de tristeza”, lamenta Guilherme Pimentel, ouvidor da Defensoria Pública do Rio, que acompanhou a família no último ano.
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