Engana-se quem pensa que o apoio da cantora Anitta à candidatura de Lula aflige os bolsonaristas. Ao menos nos grupos de WhatsApp, o assunto foi praticamente ignorado, de acordo com o levantamento feito pelo publicitário e mestre em Comunicação Renato Ribeiro. Desde 2021, ele monitora sistematicamente 25 grupos, que somam mais de 350 mil mensagens.
Entre os dias 11 e 17 de julho – período em que Anitta movimentou as redes sociais ao declarar voto em Lula e, depois, ao dizer que não era petista – a cantora foi assunto em apenas 46 mensagens enviadas nesses grupos, o que representa apenas 0,36% do conteúdo. O assassinato do petista Marcelo Arruda por um agente penitenciário em Foz do Iguaçu, no dia 10, preocupou muito mais os bolsonaristas. O crime foi assunto em quase o dobro de mensagens, cerca de 0,62%.
Segundo Ribeiro, os grupos de WhatsApp bolsonaristas são voltados para um público bem específico, que é a militância bolsonarista. “Para essas pessoas, Anitta não tem a relevância que tem para o público geral. Mal comparando, seria como se um grande artista sertanejo declarasse voto no Bolsonaro”, disse o pesquisador.
Mesmo assim, o bolsonarismo não deixou de construir e reforçar argumentos contra a cantora. “A narrativa mais utilizada foi a ligação entre Anitta, Lula e legalização da maconha, articulando isso com a pauta de costumes”, afirmou Ribeiro. Sobre esse assunto, foram compartilhados principalmente links de notícias de sites bolsonaristas que diziam que Anitta cobrou de Lula a legalização da maconha, caso fosse ele eleito. Essa decisão, contudo, cabe ao Poder Legislativo, e não ao Executivo.
Lula, aliás, tem sido um dos assunto preferidos nos grupos bolsonaristas, principalmente a partir de junho. Em 2022, cerca de 10% das mensagens falavam no ex-presidente, todas com viés negativo. Também são alvo recorrente o Supremo Tribunal Federal e Tribunal Superior Eleitoral, com 8,6% do conteúdo neste ano. O termo “esquerda” aparece em 5,7% das mensagens e Deus em apenas 3,7%.
Em primeiro lugar no ranking, claro, está Bolsonaro e os temas relacionados à sua gestão. Mensagens com esses assuntos representam 22% do que foi compartilhado nos grupos este ano. Somados, os temas secundários e que não têm relação com nenhum dos assuntos já mencionados aparecem em 49,8% das mensagens.
Mais agrotóxicos, mais câncer de mama
Agricultoras do município de Paripiranga, na Bahia, sofrem com maior incidência de câncer de mama devido à concentração de nitrato na água consumida pela população, principalmente nos povoados que ficam na divisa entre Sergipe e Bahia. O poluente, encontrado nos agrotóxicos, pode ser perigoso especialmente para lactentes e mulheres grávidas.
De acordo com a pesquisa realizada pela enfermeira Francielly Vieira Fraga, na sua dissertação de mestrado na Universidade Federal de Sergipe, cerca de 15 mil mulheres vivem em Paripiranga, onde 10% das moradoras morrem de câncer, sendo que 20,3% têm câncer mama. Ao menos 75% das entrevistadas usam agrotóxicos, principalmente inseticidas e herbicidas como o glifosato – 83% delas não têm equipamentos de proteção individual. Metade das mulheres consumem água de nascentes ou de fontes e 75% têm histórico familiar de câncer.
A pesquisa concluiu que a poluição dos recursos hídricos pelos agrotóxicos se junta à deficiência no acompanhamento à saúde, o que aumenta os índices de óbitos e adoecimento na região. Os riscos para câncer na população rural e feminina de Paripiranga também se expandem para as cidades vizinhas, que possuem as mesmas características sociais, econômicas e demográficas.
Esse estudo lembra o que acontece em Uruçuí, no Piauí, onde uma a cada quatro grávidas sofre aborto devido à exposição ao glifosato, usado nas plantações de soja na região. Em 2021, o Brasil bateu record em liberação de agrotóxicos – 562, sendo 33 inéditos.
Você sabia que...
O Intercept é quase inteiramente movido por seus leitores?
E quase todo esse financiamento vem de doadores mensais?
Isso nos torna completamente diferentes de todas as outras redações que você conhece. O apoio de pessoas como você nos dá a independência de que precisamos para investigar qualquer pessoa, em qualquer lugar, sem medo e sem rabo preso.
E o resultado? Centenas de investigações importantes que mudam a sociedade e as leis e impedem que abusadores poderosos continuem impunes. Impacto que chama!
O Intercept é pequeno, mas poderoso. No entanto, o número de apoiadores mensais caiu 15% este ano e isso está ameaçando nossa capacidade de fazer o trabalho importante que você espera – como o que você acabou de ler.
Precisamos de 1.000 novos doadores mensais até o final do mês para manter nossa operação sustentável.
Podemos contar com você por R$ 20 por mês?