João Filho

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Bolsonaro consegue a façanha de unir CUT e Fiesp em manifesto

Dois documentos pró-democracia reúnem entidades historicamente antagônicas. Mesmo sem ser citado, Bolsonaro vestiu o chapéu e partiu para o ataque.

Jair Bolsonaro, Brazil's president, during the launch event of the Banco do Brasil SA Agro Investment Program at Planalto Palace in Brasilia, Brazil, on Tuesday, Aug. 24, 2021. Bolsonaro is growing uneasy about Brazils inflation in the run-up to general elections next year, but his complaints about rising prices dont mean he plans to interfere with the central bank, according to five people close to him including cabinet members. Photographer: Andressa Anholete/Bloomberg via Getty Images

Bolsonaro consegue a façanha de unir CUT e Fiesp em manifesto

Foto: Andressa Anholete/Bloomberg via Getty Images

O encontro que Bolsonaro teve com embaixadores, em que ele atacou o STF e as urnas eletrônicas, fez acender o sinal vermelho para alguns setores da sociedade que até então se calavam diante do golpismo do presidente. Dois manifestos, um criado pela Faculdade de Direito da USP e outro pela Fiesp, estão circulando na internet e angariando assinaturas. Os textos dos manifestos têm teor semelhante e defendem de maneira dura os mesmos princípios: o respeito ao sistema eleitoral, às instituições da República e à democracia.

Os nomes e entidades que assinam os manifestos dão ao movimento uma importância gigantesca, representando talvez o ato mais importante já feito contra os ataques do bolsonarismo à democracia. A carta da USP recebeu rapidamente mais de 700 mil assinaturas e até a publicação deste texto provavelmente já terá ultrapassado 1 milhão. Entre os assinantes estão grandes empresários e banqueiros como Roberto Setubal, Candido Bracher e Pedro Moreira Salles, do Itaú Unibanco; Guilherme Leal, da Natura; Walter Schalka, da Suzano; Eduardo Vassimon, da Votorantim, e Horácio Lafer Piva, da Klabin.

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Não é pouca coisa. O grande capital, que até então estava calado ou no máximo fazia reclamações tímidas, parece que finalmente entendeu que a degradação das instituições não faz bem para os negócios. Além dos empresários, o manifesto reúne ex-ministros de FHC, de Lula, de Dilma e de Temer, subprocuradores-gerais da República, membros do MPF e uma série de intelectuais e personalidades. O texto do manifesto afirma que o país está “passando por um momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições”. E manda um recado para o presidente que tem preparado o terreno para que um episódio como a invasão do Capitólio aconteça no Brasil: “Lá [EUA] as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão.”

O documento da Fiesp é muito parecido e reúne entidades empresariais e da sociedade civil como universidades, ONGs e sindicatos. Febraban, UNE, Câmara Americana de Comércio e as maiores centrais sindicais estão entre os assinantes. A carta é clara ao defender o STF e o TSE, duas instituições sob ataque permanente do presidente e sua horda golpista nos últimos anos.

Diz o texto: “As entidades da sociedade civil e os cidadãos que subscrevem este ato destacam o papel do Judiciário brasileiro, em especial do Supremo Tribunal Federal, guardião último da Constituição, e do Tribunal Superior Eleitoral, que tem conduzido com plena segurança, eficiência e integridade nossas eleições respeitadas internacionalmente, e de todos os magistrados, reconhecendo o seu inestimável papel, ao longo de nossa história, como poder pacificador de desacordos e instância de proteção dos direitos fundamentais.” Também enfatiza a confiança dos assinantes nas urnas eletrônicas: “o processo de apuração no país tem servido de exemplo no mundo, com respeito aos resultados e transição republicana de governo”.

As principais entidades sindicais do país, que juntas somam mais de 60 milhões de trabalhadores, decidiram assinar a carta da Fiesp. Representantes da Força Sindical, CUT e UGT se reuniram na última quarta-feira com Josué Gomes de Alencar, presidente da Fiesp. Após a reunião, os sindicalistas saudaram a posição da entidade patronal na defesa da democracia.

O golpismo bolsonarista conseguiu a proeza de juntar sindicalistas com o alto empresariado em um manifesto político em defesa da democracia. Também não é pouca coisa. Evidentemente não se trata de uma aliança política, de uma frente ampla ou algo parecido. Os embates entre trabalho e capital continuam, os interesses permanecem inconciliáveis, mas há o entendimento geral de que as instituições democráticas devem ser preservadas e de que qualquer tentativa de golpe fará todo mundo perder.

Ao ver o alto empresariado quase que unanimemente abandonando de vez o barco, Bolsonaro demonstrou ter sentido o peso do golpe. Mesmo sem ter seu nome citado nos manifestos, o presidente vestiu a carapuça que foi feita sob medida para ele. Reagiu com agressividade e deboche: “Esse pessoal que assina esse manifesto é cara de pau, sem caráter.”

A reação raivosa do bolsonarismo mostra a importância desse movimento organizado por diversos setores sociais, muitos deles antagônicos entre si.

Em outro momento, chamou o manifesto de “cartinha” e afirmou que se trata de uma nota política feita em ano eleitoral. Bolsonaro se reuniria na próxima semana com empresários em São Paulo e participaria de uma sabatina na Fiesp, mas ficou tão ofendido com a “cartinha” que decidiu cancelar ambos os compromissos  com esse “pessoal sem caráter”. A revolta de Bolsonaro com o manifesto mostra que ele se sente traído pelo grande capital, que teria abandonado a trincheira na guerra contra o “comunismo”.

Em culto organizado pela bancada evangélica no Congresso na última quarta-feira, Bolsonaro voltou a ironizar a carta: “Nenhum de vocês que assinaram cartinhas por aí se manifestaram naquele momento”. O momento referido é a pandemia, quando governadores e prefeitos tomaram medidas para contar a crise do coronavírus.

Nos delírios do presidente isso, sim, representou um verdadeiro ataque contra a democracia. Os delírios continuaram durante o culto: “Peço a Deus que meu povo, nosso povo, não sinta as dores do comunismo. Nós somos a maioria, nós somos do bem, e tenho certeza que venceremos essa batalha”.

Em outro momento, Bolsonaro passou a descredibilizar a carta ao reduzi-la como uma iniciativa de banqueiros: “Você pode ver, esse negócio de carta aos brasileiros, à democracia, os banqueiros estão patrocinando. É o Pix que eu dei paulada neles, os bancos digitais que nós facilitamos”, disse ao gado que fica no cercadinho do Palácio da Alvorada. A conclusão dele é que a carta foi escrita depois que ele “acabou com o monopólio dos bancos”.

Essas mentiras são facilmente desmascaras. O Pix é uma criação do governo Temer. Aliás, até poucos meses atrás, Bolsonaro não sabia nem o que era Pix. Quando foi perguntado pelo gado no cercadinho, disse não saber o que era essa nova modalidade de transferência bancária. A outra mentira é de que os bancos estariam perdendo dinheiro depois do Pix. Os grandes banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro como durante o governo Bolsonaro, tendo batido o recorde de lucro neste ano.

A tropa de choque da seita bolsonarista sustentou os delírios do seu messias. O parajornalista Alexandre Garcia, da empresa de parajornalismo Jovem Pan, também reduziu os manifestos que contam com amplos setores da sociedade a uma iniciativa exclusiva de banqueiros: “Uma micro elite brasileira está levando a sério um manifesto pela democracia assinada por banqueiros”.

Outros jornalistas e comentaristas da Jovem Pan se dedicaram a descredibilizar os manifestos em favor da democracia ao longo da programação. O comentarista bolsonarista Caio Coppola atacou a carta em defesa da democracia ao dizer que os assinantes estão a serviço de Lula, inclusive os banqueiros.

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que antes de fazer parte do governo chamava Bolsonaro de “fascista”, também atribuiu a carta a uma iniciativa de banqueiros revoltados com uma suposta perda de arrecadação dos bancos. A deputada federal, Carla Zambelli, foi outra que ajudou a alimentar a boiada nas redes sociais com a mentira dita pelo presidente:

Acuado, Bolsonaro tem percebido que o preço a se pagar por uma tentativa de golpe está ficando cada vez mais caro. Um dos motivos que fazem Bolsonaro fazer ameaças golpistas é a possibilidade de acabar na cadeia se perder o mandato. Ocorre que vai ficando cada vez mais claro que uma tentativa de golpe frustrada poderá acelerar a sua prisão. Ele está sozinho e conta apenas com os mesmos setores de sempre, como os militares, alguns integrantes do Centrão e do governo e pastores neopentescostais obscuros. Isso é muito pouco para quem planeja dar um golpe na democracia.

A reação raivosa do bolsonarismo mostra a importância desse movimento organizado por diversos setores sociais, muitos deles antagônicos entre si. Apesar de tardio, o recado é claro: Bolsonaro está sozinho em sua empreitada golpista. Ao contrário do que prega o bolsonarismo, está claro que não se trata de um ato partidário, mas de uma ação política cuja única pauta é a defesa das instituições, das eleições e da democracia.

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