Incendiário. Foi assim que Rico Dalasam, rapper paulista de 33 anos, descreveu o espírito de seus primeiros álbuns. Neles, proferiu palavras de ordem pela autoaceitação e confrontou a cena do rap nacional, em que se destacou não apenas pela lírica, mas também por ser o primeiro gay a alcançar visibilidade, abrindo um novo caminho onde seus passos seguem sendo referência. Hoje, Rico está em outro lugar. Quer ser “guardião do alívio”. Isso porque, ele deixa claro, a melhor versão do povo preto nunca existiu “na agonia, na confusão dos ódios ou na distração dos brancos”.
É falando de amor, de relacionamentos, de corpos periféricos e de “bichas pretas”, como ele mesmo define, que Dalasam entrelaça o que é subjetivo e o que é palpável nas violências políticas brasileiras. “Eu sonhava com o dia em que iam por asfalto na minha rua. Eu falava ‘mano, quando tiver asfalto é porque a gente é alguma coisa'”, ele me disse.
A política, para Dalasam, está em crescer em um bairro sem saneamento básico, ver mais representação política na organização de mães na quebrada do que na Câmara Municipal de Taboão da Serra, andar três quilômetros para chegar ao ponto de ônibus mais próximo. E também atravessar o governo Bolsonaro olhando para líderes favelados que são referência quando momentos difíceis chegam.
Para Rico Dalasam, sua colaboração política é produzir arte que permita se desviar do que está proposto para o sul da América. É com ele o papo de estreia do PPRT, nova série de entrevistas do Intercept. Conversamos com artistas periféricos sobre política, cidadania e arte para entender como, no momento mais frágil da recente democratização brasileira, os caminhos políticos do Brasil atravessam suas carreiras e visões de mundo. As entrevistas serão publicadas ao longo do mês de setembro, sempre às quintas-feiras.
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