O canal Foco do Brasil, que contratou um apoiador fake para fazer uma pergunta a Bolsonaro e viralizar em 2020, recebeu pelo menos R$ 9,3 mil de verbas públicas em sete meses de pandemia, entre 2020 e 2021. A grana foi repassada ao canal por meio de anúncios do governo federal no YouTube.
No auge, o canal – um dos investigados no inquérito autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes sobre os atos antidemocráticos de 2020 – chegava a faturar dezenas de milhares de reais por mês em propaganda. Parte dela vinha do próprio governo, central em sua cobertura: diariamente, o Foco do Brasil publicava vídeos com falas do presidente no cercadinho do Palácio da Alvorada.
Como a Folha revelou hoje, em abril de 2020, o publicitário Beto Viana foi pago para ir ao cercadinho do Alvorada questionar se Bolsonaro havia assistido à entrevista do então ministro da Saúde, Henrique Mandetta, na Globo. Bolsonaro respondeu que não assistia à emissora. A resposta viralizou. A pergunta foi combinada previamente com seu contratante, identificado como Anderson. Segundo a reportagem, naquele mesmo dia, o publicitário recebeu R$ 1.100. A Folha também mostra que o governo sabia do combinado com o apoiador fake para garantir “livre acesso” a ele.
Segundo investigação da CPI da Pandemia, o Foco do Brasil foi o maior beneficiado em verbas públicas despejadas para publicidade no YouTube em canais cloroquiners – ou seja, que incentivavam o ineficaz tratamento precoce – em um período de sete meses durante o auge da pandemia. Do total de R$ 44 mil, repassados a 34 contas, o Foco do Brasil abocanhou R$ 9,3 mil. O filé de sua programação eram os vídeos exclusivos de Bolsonaro, que ele recebia por WhatsApp direto de um assessor do presidente, Tércio Arnaud Tomaz, um dos membros do chamado gabinete do ódio. Era uma via de mão dupla: o canal recebia grana, conteúdo e atuava como linha auxiliar da comunicação de Bolsonaro.
“A propaganda de conteúdo extremista no campo digital culmina, de fato, em ações subsequentes: as manifestações reais contra o estado democrático de direito, criando um ciclo que se realimenta, com a difusão das manifestações pelos canais de internet dos produtores, que, por sua vez, são alardeados e replicados em perfis pessoais de redes sociais de agentes do estado, gerando mais visualizações”, afirmou a investigação da Polícia Federal no âmbito do inquérito dos atos antidemocráticos do STF.
O canal não está na lista dos que tiveram a monetização suspensa pelo YouTube após uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral para tentar coibir fake news. Segundo o inquérito do STF, entre março de 2019 e maio de 2020, o Foco do Brasil lucrou mais de 307 mil dólares – mais de R$ 1,6 milhão – com anúncios no YouTube.
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