Ao menos 22 golpistas presos pela Polícia Militar do Distrito Federal em 8 de janeiro relataram, em seus depoimentos à Polícia Civil, ter embarcado gratuitamente em ônibus de suas cidades ou localidades próximas para Brasília. Apenas cinco deles dizem saber o nome de quem fretou os veículos ou estava organizando a viagem. Outros 11 depoimentos relatam caravanas do mesmo tipo partindo de diversas cidades, mas com os passageiros pagando do próprio bolso. Os valores das viagens variavam entre R$ 20 e R$ 580, e os pagamentos foram feitos por pix, em dinheiro vivo e em alguns casos até direto ao motorista.
Os depoimentos dos presos obtidos pelo Intercept integram os processos judiciais dos golpistas presos em flagrante logo após os ataques às sedes dos Três Poderes, em Brasília.
Um dos depoentes afirma que, apesar de não conhecer o responsável pela contratação do ônibus em que embarcou, soube que a viagem havia sido paga por um grupo de empresários de São Pedro, cidade de 35 mil habitantes do interior de São Paulo. Outra presa afirmou que não pagou nada pelo ônibus que saiu de Birigui, no interior paulista. Segundo ela, o organizador do grupo de WhatsApp e da excursão era chamado de “Ferrite”.
Golpista confirma que tinha intenção de destituir o atual governo – e que caravana foi paga por empresários.
É o mesmo sobrenome de Erlon Palliota Ferrite, chefe do serviço de ambulâncias da prefeitura de Penápolis, município vizinho à Birigui, que foi alvo de uma reportagem do Fantástico, da Rede Globo, no fim de semana após as invasões. Junto com outra pessoa de Penápolis, o servidor público gravou vídeos falando que colocaria fogo no Supremo Tribunal Federal e filmou outro golpista na cadeira do ministro Alexandre de Moraes.
Os depoimentos também citam os nomes Roberta, Wander, Rogério, Marlon e Silmara como responsáveis pela organização das caravanas, mas sem sobrenomes ou outros meios para identificação.
Hotel pago e comida de graça
As oportunidades de viajar, em geral, chegaram por WhatsApp, redes sociais e conversas com amigos, segundo os depoimentos. Nos documentos que analisamos, apenas um preso alegou ter ido sozinho, e não em grupo, para Brasília. Apesar de sua data de chegada coincidir com a dos demais presos, ele disse em depoimento que estava na cidade fazendo turismo. Teria visto uma movimentação, “participou da caminhada de manifestação, inclusive para conhecer a área dos prédios” e alegou ter se escondido no Palácio do Planalto após a briga entre manifestantes e policiais começar. De lá, saiu preso.
Outros dois depoimentos mostram golpistas que também foram para Brasília em ônibus de linha, não em excursão, apesar do destino final ser o mesmo dos fretados: o QG do Exército.
Em sua maioria, os depoimentos apontam que os passageiros entraram nos ônibus com pouco dinheiro, reservado para alimentação e hospedagem, se necessário, e desembarcaram direto para o QG do Exército na capital. Lá, passaram a noite anterior à tentativa de golpe com os demais golpistas que acampavam no local.
Mulher pegou uma caravana, mas afirmou não saber quem é o responsável pelo fretamento. E que tinha trazido “muito pouco dinheiro” e se alimentou no QG.
Dos 35 terroristas que viajaram em grupo ouvidos pela polícia, quatro citam hospedagens em hotéis – três com recursos próprios e um, segundo afirmou à polícia, com conta paga pelo “pessoal que ficava acampado no QG”. Três depoimentos citam uma “hospedagem” no próprio ônibus de viagem.
Com exceção de uma depoente que alegou se hospedar em hotel e levar R$ 1,5 mil para a viagem, os demais ouvidos possuíam valores entre R$ 20 e R$ 700. Ao menos três presas afirmaram fazer todas as suas refeições no acampamento do QG do Exército em Brasília – onde, segundo os relatos, havia alimentação gratuita.
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