“Os garimpeiros deixaram bem claro: ‘nós vamos retornar à noite, vamos matar todos vocês’”. Foi com essas palavras que um grupo de cerca de 40 garimpeiros armados ameaçou 60 indígenas da comunidade Naperopi, na região do rio Uraricoera, na terra indígena Yanomami, em Roraima, na tarde da última segunda-feira, 13.
Com medo de serem assassinados, os indígenas – e seus filhos – fugiram da aldeia para dentro da floresta e desde então não fizeram contato. O caso foi denunciado à URIHI Associação Yanomami.“Os garimpeiros não atiraram e deixaram bem claro que retornariam à noite para matar todos. Aí, os Yanomamis tiveram que correr para floresta depressa”, me disse o presidente da entidade, Junior Hekurari Yanomami.
Após a denúncia, a associação enviou ofício a diversos órgãos federais solicitando “proteção imediata das comunidades afetadas pelo garimpo ilegal” e “adoção de medidas de proteção territorial como ação imprescindível na desintrusão dos invasores”. O documento foi entregue ao Ministério dos Povos Indígenas, Funai, Ministério Público Federal, Superintendência da Polícia Federal/RR, Frente de Proteção Etnoambiental-YY e Fundação dos Povos Indígenas Regional.
Segundo Junior, a Força Nacional e a Polícia Federal foram à comunidade, mas ele não tem informações sobre os desdobramentos da ação. No ofício, a Associação criticou a forma como é feita a operação de combate ao garimpo ilegal promovida pelo governo Lula e teme o aumento do risco de genocídio indígena.
“A comoção gerada pelo forte impacto do garimpo, aliada à pressão dos líderes Yanomami e autoridades internacionais, levou o Presidente da República, em um dos seus primeiros atos na presidência, decretar a desintrusão imediata dos invasores que estão dentro da Terra Indígena Yanomami, agravando o risco de genocídio indígena, em razão dos atos de retaliação que serão cometidos contra a população”, considera a associação.
Desde a semana passada, uma força-tarefa do governo federal atua no combate ao garimpo ilegal em terras indígenas. A operação, que envolve 500 policiais federais, agentes da Força Nacional e militares das Forças Armadas, optou por permitir a fuga de garimpeiros para evitar o uso da força “sem planejamento”.
O Intercept procurou a Polícia Federal e o Ministério da Justiça para saber os possíveis desdobramentos da ação, mas não houve retorno até o fechamento deste texto.
Atualização: 24 de fevereiro, 16h32
Em nota enviada, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que em a Polícia Federal foi comunicada do fato no dia 13 de fevereiro e, mesmo sem confirmar a informação, “prontamente acionou a Força Nacional, que enviou dez agentes para realizar diligências na região da Aldeia Naperopi, em apoio à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai)”.
A pasta ressaltou ainda que uma equipe da Força Nacional embarcou juntamente com militares da Força Aérea em um helicóptero H36 em voo com duração de 1h30. E, ao chegarem ao destino, foi “constatado que não havia local adequado para pouso imediato, o que implicaria reconhecimento diurno para mais informações. Diante da impossibilidade, foi realizado sobrevoo ostensivo por cerca de 30 minutos antes do retorno à base aérea”.
O ministério destaca por fim que, cabe destacar que os efetivos da Polícia Federal, Força Nacional de Segurança Pública, Forças Armadas, Ibama e Funai permanecem mobilizadas na Terra Indígena Yanomami na execução da Operação Libertação e seguem as ações operacionais para a interromper as atividades criminosas na região e para a proteção e assistência à população indígena.
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