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Líderes mundiais de esquerda alertam sobre ‘golpe brando’ em andamento na Colômbia

Um grupo proeminente de líderes progressistas sai em defesa do presidente colombiano Gustavo Petro, cujo governo enfrenta dificuldades em série.

O presidente Gustavo Petro, da Colômbia, acena para jornalistas ao chegar no Itamaraty, em Brasília, em 30 de maio de 2023.

Uma vasta gama de líderes de esquerda de todo o mundo alertou em uma carta, na quarta-feira passada, que “um golpe brando” está em curso na Colômbia, acusando a oposição de trabalhar ilegalmente para remover do poder o presidente Gustavo Petro e muitos dos seus principais aliados.

A carta é assinada por Ernesto Samper, ex-presidente colombiano; Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores, que atualmente governa o Brasil sob Luiz Inácio Lula da Silva; Rafael Correa, ex-presidente do Equador; o ex-presidente espanhol José Luis Rodríguez Zapatero; e antigos dirigentes de partidos de oposição em todo o mundo, incluindo o britânico Jeremy Corbyn e o ex-presidenciável francês Jean-Luc Mélenchon.

“Desde a eleição do primeiro governo progressista do país”, diz a carta, “os poderes tradicionais da Colômbia têm se organizado para restabelecer uma ordem marcada por extrema desigualdade, destruição ambiental e violência patrocinada pelo estado”. A carta vem em defesa de Petro em um momento em que seu governo enfrenta dificuldades em série.

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Petro, um ex-guerrilheiro, chegou ao poder em junho de 2022 prometendo acordos de paz com os grupos rebeldes ainda ativos no país, juntamente com uma agenda robusta de política interna. Mas ele não tinha maioria no Congresso e criou uma coalizão com partidos rivais, que incluía a necessidade de ceder o controle de alguns ministérios. Seu projeto de reforma do sistema de saúde foi rejeitado pelo Congresso, e os acordos de paz continuam indefinidos. Seus principais assessores renunciaram recentemente após serem envolvidos em um escândalo bizarro no qual recursos do estado foram usados para vigiar uma babá suspeita de ter roubado dinheiro. O escândalo se aprofundou com a divulgação de um áudio em que os assessores discutiam e ameaçavam divulgar informações prejudiciais relacionadas à campanha de Petro.

Petro disse que não tem nada a temer com as investigações em andamento, embora o grupo de líderes progressistas esteja menos otimista em relação à política. “Eles estão empregando o poder institucional combinado das agências reguladoras do país, dos conglomerados de mídia e do poder Judiciário para interromper suas reformas, intimidar seus apoiadores, derrubar sua liderança e difamar sua imagem no cenário internacional”, alerta o grupo de mais de 400 progressistas internacionais.

Em janeiro, nove membros do Congresso dos Estados Unidos, liderados pelo deputado democrata Hank Johnson, da Geórgia, escreveram uma carta para Francisco Palmieri, o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA em Bogotá, expressando preocupação sobre a segurança da vice-presidenta colombiana Francia Márquez. Explosivos tinham sido recentemente descobertos perto da casa dela. A carta também foi assinada pelos deputados democratas Barbara Lee, da Califórnia; Raúl Grijalva, do Arizona; Rashida Tlaib, do Michigan; Jim McGovern, de Massachusetts; Ilhan Omar, de Minnesota; Mark Pocan, do Wisconsin; Cori Bush, do Missouri; e Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York.

A carta de quarta-feira passada tinha como foco principalmente no uso, por parte da oposição, da Procuradoria-Geral e da Promotoria-Geral da Colômbia para atingir Petro e seus aliados. Essas investigações poderiam levar à expulsão de membros do partido do Parlamento ou até mesmo ao afastamento de Petro, advertiu a carta, acrescentando que “o precedente legal estabelecido na Corte Interamericana de Direitos Humanos” insiste que esses órgãos administrativos não têm esse poder. Um senador, Wilson Arias, por exemplo, está sendo investigado por “caluniar” a polícia com comentários críticos que fez sobre a corporação em 2021.

A carta foca no uso, por parte da oposição, da Procuradoria-Geral e da Promotoria-Geral da Colômbia para atingir Petro.

A colombiana Gimena Sánchez-Garzoli, uma defensora de direitos humanos no Escritório Washington para a América Latina, disse que muitas das investigações parecem ser um abuso de poder. “O procurador-geral está abusando de seu poder para minar as políticas do governo Petro”, disse ela ao Intercept. “As motivações da promotora-geral para abrir casos contra os membros [da coalizão governista] Pacto Histórico são questionáveis”.

Segundo ela, o escândalo envolvendo os assessores de Petro foi exagerado pela mídia, mas levantou questões sobre por que ele permitiu que Armando Benedetti, um dos membros de alto escalão que renunciaram recentemente, dirigisse sua campanha.

“A reação da oposição e dos meios de comunicação em relação ao escândalo envolvendo Benedetti e [Laura] Sanabria é exagerada”, disse ela. “Parece que eles estavam esperando um motivo para conduzir uma campanha para desacreditar o governo Petro. Ao mesmo tempo, Benedetti tem um histórico problemático, e é difícil entender por que Petro o colocaria para dirigir sua campanha presidencial”.

Leia a carta na íntegra:

Desde a eleição do primeiro governo progressista do país – liderado pelo presidente Gustavo Petro, pela vice Francia Márquez e pelo Pacto Histórico no Congresso – os poderes tradicionais da Colômbia têm se organizado para restabelecer uma ordem marcada por extrema desigualdade, destruição ambiental e violência patrocinada pelo estado.

Agora, menos de um ano depois da posse do governo Petro, eles estão estão empregando o poder institucional combinado das agências reguladoras do país, dos conglomerados de mídia e do poder judiciário para interromper suas reformas, intimidar seus apoiadores, derrubar sua liderança e difamar sua imagem no cenário internacional.

A partir dos gabinetes da procuradora-geral e do promotor-geral respectivamente, Margarita Cabello e Francisco Barbosa estão mirando ativamente em membros do Pacto Histórico com investigações que podem resultar na suspensão, remoção e inelegibilidade de membros do Congresso como o senador Alex Flórez, o senador Alexandre López, o presidente da Câmara David Racero, a deputada Susana Gómez, a negociadora de paz María José Pizarro – e até o próprio presidente Petro.

No caso do senador Wilson Arias, por exemplo, Cabello – uma aliada próxima do ex-presidente Álvaro Uribe, que atuou como ministra de Justiça no governo anterior de Iván Duque – apresentou acusações de suspensão do Senado pelo “crime” de se manifestar contra a violência policial nos protestos nacionais de 2021: uma violação flagrante do precedente legal estabelecido na Corte Interamericana de Direitos Humanos, que impede que órgãos administrativos como o gabinete do Promotor-Geral destituam autoridades eleitas de seus cargos.

Enquanto isso, ex-generais, coronéis e membros das Forças Armadas colombianas não apenas proclamaram sua oposição ao presidente Gustavo Petro, mas também marcharam em frente ao Congresso para pedir um golpe de estado contra seu governo.

O objetivo dessa campanha coordenada é claro: proteger os interesses dos poderes tradicionais da Colômbia diante de reformas populares que aumentariam salários, melhorariam o sistema de saúde, protegeriam o meio ambiente e entregariam a “paz total” ao país.

Nós, abaixo-assinados, conclamamos os amigos do povo colombiano e os aliados da democracia em todo o mundo a se oporem a essas táticas insidiosas e impedir o avanço de um golpe brando na Colômbia.

Tradução: Maíra Santos

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