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Por que devemos escrever sobre o caso Marielle

Investigar o mais importante atentado político de nossa história recente segue sendo uma missão minha e de meus colegas no Intercept.

*ARQUIVO* SÃO PAULO, SP, 20.03.2018 - Lambe-lambe em homenagem a vereadora Marielle Franco (PSOL) em escadaria na rua Cristiano Viana, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress)

O caso Marielle

Parte 24

Marielle Franco virou um símbolo internacional após seu assassinato no dia 14 de março de 2018. Com os olhos do mundo no Rio de Janeiro, todos estão perguntando: #QuemMandouMatarMarielle? E por quê?


*ARQUIVO* SÃO PAULO, SP, 20.03.2018 - Lambe-lambe em homenagem a vereadora Marielle Franco (PSOL) em escadaria na rua Cristiano Viana, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress)
Foto: Danilo Verpa/Folhapress

Este texto foi publicado originalmente na newsletter do Intercept. Assine. É de graça, todos os sábados, na sua caixa de e-mails.

Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados na data em que minha filha, uma menina negra, chegou aos 12 anos de idade. Li a notícia quando me preparava para dormir. Fiquei chocado, mas ainda não tinha vislumbrado a dimensão daquele fato.

Não conhecia Marielle. Passei o dia seguinte na redação em que trabalhava pesquisando sobre sua trajetória, lendo seus discursos e projetos. No fim da tarde, fui a um protesto na Avenida Paulista contra o covarde atentado.

Ainda hoje consigo acessar o mal-estar que senti e que parecia dominar todos à minha volta. Era possível tocar o desânimo. Todos sentíamos uma tristeza pelas vítimas e por nós, enquanto gritávamos palavras de ordem ao vento. Se uma mulher negra a exercer o mandato de vereadora na cidade mais famosa do Brasil não estava minimamente protegida da violência, então todos nós também estávamos vulneráveis. Minha filha estava vulnerável. A obviedade me assusta até hoje.

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Outra anotação óbvia: ao atirar em Marielle, o assassino ceifava toda sua potência, tudo que ela poderia alcançar, tudo que ela trazia de novo como liderança ao dar os primeiros passos na política. Passamos a olhar todos seus discursos, suas ações, seus gestos, com uma frustração doída.

Certas fotos em que Marielle sorri nos remete a esse lugar incômodo. Que futuro ela poderia nos oferecer como figura política? A gente pode especular. Nunca iremos saber. Você olha para aquele sorriso largo, para aquela mulher bonita e altiva, e fica alegre até se dar conta de que ela foi assassinada. Nos roubaram muita coisa com a morte de Marielle. É por essa razão que considero o atentado de 14 de março de 2018 o mais importante homicídio político da nossa história recente.

Escrevo sobre o caso Marielle desde então, assim como vários outros colegas. Publiquei reportagens sobre erros da investigação e os suspeitos de serem os mandantes. Tento não cair em demagogia. Escrevo sobre o atentado, não falo em nome dela. Quem pode falar por Marielle são as pessoas que a amaram em vida: sua esposa, sua mãe, sua filha, sua irmã, seu pai e seus amigos.
 
Semana passada publicamos mais uma reportagem que mostra que a Câmara do Rio tem muita coisa a esconder sobre o atentado e suas relações escusas com milicianos. Continuarei, com ajuda de repórteres como minha colega Carol Castro, a investigar o que aconteceu. É o que nos cabe aqui no Intercept. É a homenagem que podemos prestar à memória de Marielle. E é o que posso fazer como pai de uma mulher negra.

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