Tem circulado nas redes sociais uma entrevista de 2021 em que o então ministro da Economia, Paulo Guedes, afirma que o Brasil viraria uma “Argentina em seis meses e uma Venezuela em um ano e meio”, caso seu receituário ultraliberal não fosse seguido. No ano seguinte, haveria eleição e Guedes já começava a fustigar o terrorismo eleitoral para evitar uma vitória de Lula. Mas o petista venceu e, passados sete meses de governo, a previsão catastrófica do ex-ministro bolsonarista virou piada.
Até aqui, todos os indicadores econômicos do país têm melhorado com a substituição da dupla Jair Bolsonaro-Guedes por Lula-Fernando Haddad. O brasileiro tem percebido a diferença no supermercado. Até um pastor que organizava motociatas em defesa de Bolsonaro gravou vídeo atestando uma significativa diminuição nos preços. “Como fui tão trouxa em apoiar uns cretinos desses?”, perguntou o bolsominion arrependido depois de perceber que o pão Pullman caiu de R$ 12 para R$ 5.
Mas não foram só Guedes e Bolsonaro que fizeram o povo de trouxa. Há uma legião de pregadores do mesmo receituário ultraliberal espalhados pelas redes sociais e que são consultados frequentemente pela imprensa como especialistas em economia. A maioria está ligada ao mercado financeiro e, na verdade, a única especialidade deles é lucrar e fazer panfletagem ultraliberal.
Em toda véspera de eleição presidencial, essa turma aparece para fazer terrorismo em favor de sua agenda. Em 2018, o mercado estava eufórico com a possível eleição de Bolsonaro. James Gulbrandsen, sócio da gestora NCH Capital, disse que a a vitória do extremista de direita faria com que o dólar caísse para menos de R$ 3. Já o economista Ricardo Amorim, um dos mais queridinhos da grande imprensa, afirmou categoricamente que uma vitória de Fernando Haddad faria o dólar chegar a R$ 5. O resto da história nós já sabemos: Bolsonaro ganhou e o dólar ultrapassou os R$ 5.
Outro “Mãe Dinah” do mercado financeiro é Rafael Ferri, um influente investidor que ficou famoso pelas polêmicas e pela atuação nas redes sociais. Com mais de 230 mil seguidores só no Twitter, Ferri se destaca pelos conselhos de investimentos, pela idolatria a Paulo Guedes e pelas previsões furadas. Vejamos essa, feita dias após a eleição de Lula, quando Haddad aparecia no noticiário como o favorito para assumir o Ministério da Economia.
O tom catastrófico do faria limer é muito parecido com o daqueles doidinhos que ficam no centro da cidade gritando que “Jesus vai voltar” para se vingar dos pecadores. Nada, absolutamente nada, do que ele previu no tweet aconteceu. Pelo contrário, o que ele dizia que iria piorar, melhorou. O dólar caiu, a inflação está sob controle, a dívida está controlada e todos os prognósticos sérios apontam para o crescimento do PIB.
Talvez tenhamos que esperar mais 72 horas para que as profecias do apocalipse econômico se cumpram. Mas, convenhamos, não há muito o que se esperar de um falso profeta que mandou fazer uma estátua de 2 metros do baixinho Paulo Guedes e a colocou na sede da sua empresa na Faria Lima.
Outra figurinha carimbada do mercado financeiro nas redes sociais é Eduardo Cavendish, que também tem se destacado por anunciar uma hecatombe econômica que nunca chega.
Com apenas quatro dias de governo Lula, Cavendish decretou um fim trágico para o governo e recomendou aos seus seguidores que comprassem dólar. Naquele dia, o dólar equivalia a R$ 5,44. Hoje, está a R$ 4,73. Mesmo assim, como se nada tivesse acontecido, este pastor da Igreja Ultraliberal dos Últimos Dias grita quase que diariamente seu mantra na praça pública do Twitter: “Dolarizem, irmãos!”.
Navegando na direção oposta a todas as previsões alucinadas, o ministro petista aprovou um novo arcabouço fiscal e engatilhou uma reforma tributária — algo que Guedes tentou, mas não teve competência política para fazer.
As agências de classificação de risco passaram a avaliar positivamente a economia brasileira. No mês passado, a Standard & Poor’s mudou sua avaliação de estável para positiva. Neste mês, a Fitch também elevou a avaliação, depois de passar os quatro anos de Guedes caracterizando o país como um destino negativo para investimentos. Em comunicado, a agência afirmou: “O upgrade do Brasil reflete uma performance macroeconômica e fiscal acima do esperado em meio aos sucessivos choques recentes”.
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Quando Lula criticou o presidente do Banco Central, faria limers e colunistões brasileiros alinhados a eles protagonizaram verdadeiros chiliques no debate público. A Fitch, porém, os deixou esperneando sozinhos: “As críticas explícitas de Lula ao BC não resultaram em tentativas de introduzir grandes mudanças no arcabouço das metas de inflação. As expectativas de inflação estão melhorando, depois de algumas tensões”.
Essas agências fazem projeções que norteiam as ações futuras dos investidores. É um aceno ao mercado de que o desempenho econômico e fiscal do país está trilhando um caminho sólido. Ou seja, os profetas da Faria Lima estão sendo desmentidos pelas agências nas quais se fiam para direcionar seus investimentos.
Qualquer analista econômico sério sabia que Lula e Haddad têm perfil pragmático e um histórico de responsabilidade fiscal. Nem Lula, nos seus primeiros mandatos, nem Haddad, na sua gestão da prefeitura paulistana, ficaram marcados por barbeiragens na economia, muito pelo contrário. A rápida recuperação da economia de Lula-Haddad depois do desastre Bolsonaro-Guedes, portanto, não deveria ser uma surpresa.
Engana-se quem pensa que, depois de serem estapeados pela realidade dos fatos, os analistas alucinados do mercado fizeram mea culpa ou revisaram seus prognósticos. Não, nada disso. Eles seguem embriagados pela ideologia ultraliberal, fingindo que nada aconteceu e mantendo previsões catastróficas no horizonte.
Engana-se também quem pensa que eles caíram em descrédito com a grande imprensa. Não, eles continuam sendo consultados como especialistas em economia, e seus rostos estão dia sim, dia não, nas telinhas da CNN e da GloboNews. Não importa que suas previsões tenham falhado miseravelmente. O importante é manter a propaganda ultraliberal no ar.
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