A segurança pública no Rio está mais caótica do que aquele “normal” que todos conhecem. E agora, quem vai tomar boa parte das decisões é o comentarista do SBT e “policial influencer” Marcus Amim, que acabou de ser nomeado secretário de Polícia Civil. E para isso, o governador mudou uma lei, exonerou outro delegado e cedeu aos caprichos de deputados, que apesar de aliados, racharam o governo ao meio.
Um contexto rápido: não existe plano de segurança no Rio, a secretaria de segurança do Rio foi extinta e deu lugar às secretarias de Polícia Civil e de Polícia Militar, o STF precisou interferir e cobrar um plano de controle de letalidade policial, uma vez que as duas maiores chacinas já cometidas no estado aconteceram durante operações policiais na gestão de Cláudio Castro. O ex-secretário de Polícia Civil de Castro, Allan Turnowski, deve ser afastado de funções públicas por 12 anos a pedido do MP. Ele perdeu o cargo ao ser preso acusado de envolvimento com o jogo bicho e de fazer parte de uma organização criminosa dentro da Polícia Civil e forjar operações. Detalhe: Ele foi chefe de polícia entre 2010 e 2011 – e foi afastado sob a acusação de vazar operações.
Castro está enfraquecido e a base aliada está tão rachada que outro dia o deputado Carlos Minc (PSB), que é da oposição, foi ao microfone da Assembleia Legislativa do Rio – Alerj e soltou essa: “a base do governo tá fazendo tanta crítica ao governo que tá tirando espaço da oposição. Como fazer oposição, se todo dia um deputado da base vem aqui e pede a cabeça de um secretário?”.
Polícia Civil do Rio está rachada, diz ex-secretário
Marcos Amim estava na presidência do Detran há menos de três meses. Saiu de lá e assumiu o posto do delegado José Renato Torres, que estava há menos de um mês no cargo.
Torres pediu exoneração após saber – pela imprensa – das decisões sobre seu futuro. Em seu discurso de despedida, disse que “a polícia está rachada“.
Ele não mentiu. O racha na base de Castro se reflete na polícia e na política de segurança.
A nomeação de Torres ocorreu contra a vontade de boa parte dos deputados. Já Amim, tem o apoio dos parlamentares aliados, especialmente de Marcio Canella, do União Brasil, e do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, do PL.
Bacellar tem um papel importante nessa movimentação. Ele nega, mas as evidências são inegáveis.
Para aprovar a posse do seu pupilo como secretário, Bacellar mudou a lei orgânica da Polícia Civil, onde era estabelecido que a corporação seja comandada por delegados que estejam há 15 anos na instituição. Isso não é pouca coisa. Amim está há 20 anos na polícia, mas entrou como inspetor e só tem 12 anos como delegado – ele não poderia ocupar esse cargo.
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O sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro, o Sindepol, criticou a mudança na Lei Orgânica feita a toque de caixa e disse que “infelizmente, a prática corriqueira de interferências políticas diretas na escolha do chefe da Polícia Civil pelos mais diversos agentes externos, se tornou tão banal e escancarada no Estado do Rio de Janeiro que não causa mais sequer surpresa ou perplexidade a sociedade carioca”.
Direta e objetiva, a nota do Sindepol diz ainda que a mudança é um ato “para tão somente atender um capricho pessoal, em claro desvio de finalidade, além de violar os princípios constitucionais da moralidade e impessoalidade”.
Tudo isso aconteceu em menos de uma semana. Mas quem se importa, não é mesmo? O real secretário de segurança pública do Rio é Bacellar. Ou seria Bacellar o governador em real exercício do Rio?
A fraqueza de Castro vem de tempos, mas ficou cristalina diante destas últimas movimentações absurdas.
O governador é refém dos próprios aliados, que como bem mostrou Octávio Guedes em sua coluna, estão exigindo o controle da segurança pública, em um movimento que já foi apelidado pela oposição de “Novo Cangaço”.
“Eles fazem um cerco ao palácio e levam o comando de batalhões e delegacias”, definiu um deputado ouvido por Octávio.
A polícia civil já foi. Agora a polícia militar está na mira do “Novo Cangaço”.
Deputados do “Novo Cangaço” miram a Polícia Militar do Rio
Guedes levanta outra lebre sobre os objetivos do “Novo Cangaço” em tomar as rédeas das polícias.
A ideia surgiu quando o governo federal nomeou para a superintendência da Polícia Federal o delegado Leandro Almada. Isso porque alguns políticos temem ser foco de investigações e querem também monitorar os avanços das investigações sobre o caso Marielle. Foi o jeito que acharam de sentar no próprio rabo.
O real secretário de segurança pública do Rio é Bacellar. Ou seria Bacellar o governador em real exercício do Rio?
Isso mostra uma ingerência temerária sobre a segurança no estado, que há semanas está recebendo visitas até agora infrutíferas de membros do Ministério da Justiça, que vem se dizendo preocupados com o caos no estado.
Espero que essa situação esteja então, sendo levada em consideração – pois é ali que ela está sendo definida, não nos jantares com a Firjan.
Mas parece que as coisas “vão melhorar” – confia.
Deixo aqui um trechinho dos ilustres pensamentos do novo secretário-influencer-comentarista e nos preparar para o que nos espera.
“A polícia mata sim. Mata vagabundo que atira em polícia. E vai continuar matando. Tem que matar mesmo. Vagabundo que atira em polícia tem que ser morto. Tem que ser neutralizado. A lei diz isso, a Constituição diz isso, a Bíblia, no que você quiser se amparar”.
Vai render muitos likes – não disse de quem.
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