João Filho

O jornalismo destemido do Intercept só é independente graças aos milhares de leitores que fazem doações mensais. Mas perdemos centenas desses apoiadores este ano.

Nossa missão tem que continuar mesmo depois que o último voto for dado nesta eleição. Para manter nossa redação forte, precisamos de 1.000 novos doadores mensais este mês.

Você nos ajudará a revelar os segredos dos poderosos?

SEJA MEMBRO DO INTERCEPT

O jornalismo destemido do Intercept só é independente graças aos milhares de leitores que fazem doações mensais. Mas perdemos centenas desses apoiadores este ano.

Nossa missão tem que continuar mesmo depois que o último voto for dado nesta eleição. Para manter nossa redação forte, precisamos de 1.000 novos doadores mensais este mês.

Você nos ajudará a revelar os segredos dos poderosos?

SEJA MEMBRO DO INTERCEPT

O mundo aplaudiu o Brasil contra o massacre de Israel na Palestina – menos Sergio Moro, esse vira-lata

O senador bolsonarista Sergio Moro se colocou caninamente ao lado dos EUA, assim como fez durante toda a condução da Lava-Jato.

Ilustração: Intercept Brasil

Os EUA vetaram uma resolução proposta pelo Brasil, que preside o Conselho de Segurança, que salvaria vidas em Gaza. Depois de costurar a proposta com integrantes do Conselho, inclusive com os EUA, a diplomacia brasileira foi pega de surpresa com o veto americano. A proposta foi aceita por 12 países, incluindo França, Japão, Suíça e China.

Sabendo que os EUA têm poder de veto, o Brasil se esforçou em atender as reivindicações dos americanos no texto da proposta: não mencionou Israel como responsável pela tragédia humanitária em Gaza e trocou o termo “cessar-fogo imediato” por “pausa humanitária”. O texto ressaltava a necessidade de levar eletricidade, água, alimentos e medicamentos para a população civil em Gaza. Além disso, condenava a violência contra os civis, os atos de terrorismo e pedia a libertação imediata de reféns. Nada disso sensibilizou os americanos. 

A justificativa para o veto foi a falta de menção no texto ao “direito de autodefesa de Israel”. Trata-se de desculpa esfarrapada, já que desde o início esse direito esteve explicitamente garantido pelo Conselho de Segurança. O governo Joe Biden deixou claro que sua principal preocupação do momento é com a política interna, já que ano que vem haverá eleição presidencial. Que se danem os palestinos.

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

O esforço diplomático brasileiro para salvar vidas foi elogiado pela grande maioria da diplomacia internacional. Não fosse o veto americano, seria uma unanimidade no Conselho de Segurança. No Brasil, há também quem se preocupe mais em cativar sua base eleitoral do que com salvar vidas humanas. É o caso de Sergio Moro. Embriagado pelas convicções próprias de um bolsonarista ignorante, o senador resolveu criticar duramente a atuação da diplomacia brasileira. Desde o início dos ataques, ele e sua esposa, Rosângela Moro, têm se aproveitado da questão Israel-Palestina para fazer politicagem e ganhar alguns pontos com sua base eleitoral.

LEIA TAMBÉM

 Quem conhece as credenciais morais do casal Moro não se espanta em vê-lo desprezando uma resolução que salvaria muitas vidas, principalmente as de crianças. Metade da população em Gaza tem menos de 17 anos. Quatro entre cinco crianças palestinas que vivem o apartheid imposto por Israel sofrem de depressão. Há também cidadãos brasileiros em Gaza. Ou seja, em vez de defender uma proposta que salva a vida de crianças palestinas e a de cidadãos brasileiras, o patriota bolsonarista preferiu se alinhar caninamente aos EUA. Pior que isso: na ânsia por atacar Lula, o senador demonstrou o seu profundo complexo de vira-latas ao desprezar a diplomacia brasileira: “O Brasil não tem relevância internacional suficiente para fazer qualquer diferença na guerra no Oriente Médio. A crise serve apenas para Lula exercitar a sua megalomania diplomática e para revelar o quanto a ideologia comprometeu a capacidade de parte da política brasileira de condenar atos terroristas”. 

Sobre o veto americano, Sergio Moro disse em audiência no Senado: “A resolução brasileira é vetada não pela Rússia, não pela China, não por outros países que seguem a nossa tradição democrática, mas pelos EUA, (…) um país que cultua valores democráticos muito próximos ao nosso”. Moro não apresentou um argumento sequer para defender o veto e deixou claro que o defende apenas porque foi dado pelos EUA. Cinicamente, cita apenas China e Rússia como apoiadores da resolução e omite que países como França e Suíça também apoiaram. A omissão tem a função de sustentar a tese de que países com valores democráticos não apoiaram o Brasil. 

É um jogo sujo criado especialmente para cativar o seu eleitor médio: o patriota com complexo de vira-latas munido da convicção de que os EUA são um oásis da democracia mundial. Traduzindo: “se os EUA acharam ruim, como pode ser bom?”. Apesar de estúpida, essa ideia dialoga com facilidade com os tiozões bolsonaristas que formam suas convicções por meio de memes e vídeos cortados que recebem no Whatsapp. É isso o que ele quer.

Sergio Moro revive o papel de capacho dos americanos que cumpriu durante a Lava Jato. Atua como um pequeno chihuahua com complexo de inferioridade que balança o rabinho para o Tio Sam. Não é apenas patético, é também cruel. Na prática, defender o veto desta resolução humanitária é defender o direito de Israel continuar lançando bombas sobre crianças sitiadas. Essa é a dimensão moral do homem que já foi alçado pela imprensa corporativa à condição de herói nacional e que até hoje é paparicado por ela.

Sergio Moro revive o papel de capacho dos americanos que cumpriu durante a Lava Jato. Atua como um pequeno chihuahua com complexo de inferioridade que balança o rabinho para o Tio Sam.

O senador bolsonarista escolheu criticar a diplomacia brasileira justamente na semana em que ela brilhou. Além da elogiável postura do país na presidência do Conselho de Segurança, o Brasil intermediou com sucesso um acordo para amenizar os conflitos políticos entre EUA e Venezuela. Sem atuar como capacho de nenhuma das partes, a diplomacia brasileira costurou o acordo depois de meses de negociação. O governo e a oposição chegaram a um acordo histórico para estabelecer garantias para que as próximas eleições presidenciais ocorram com a presença de observadores internacionais e para a libertação de presos políticos. Em contrapartida, os EUA suspenderam temporariamente as sanções sobre o petróleo, gás e ouro venezuelanos. Trata-se de um acordo histórico. É resultado da atuação da diplomacia brasileira em um mundo cada vez mais multipolar.

O inaceitável veto dos EUA mostra a necessidade de uma reformulação geral nas regras da ONU. Não é possível que o desejo de um país tenha mais peso que uma solução construída em consenso por 12 países do Conselho de Segurança. Todos os esforços feitos de maneira multilateral para salvar vidas dos dois lados foram derrubados pelo veto de um país que está alinhado a uma das partes envolvidas no conflito. Como bem disse o diretor da Human Rights Watch na ONU, “mais uma vez, os EUA usaram cinicamente o seu veto para impedir que o Conselho de Segurança da ONU agisse sobre Israel e a Palestina num momento de carnificina sem precedentes.”

A defesa de um mundo cada vez mais multipolar não é uma questão que passa pela polarização de ideias entre direita e esquerda. Passa pela lógica e bom senso daqueles que querem um mundo mais justo e democrático. Mas a mediocridade moral e intelectual de homens como Sergio Moro os colocam contra o mundo multipolar. Como um bom vassalo colonizado, o bolsonarista prefere apoiar a postura isolacionista dos EUA em vez do acordo costurado pelo Brasil em consenso com todos os outros países do Conselho de Segurança. Afinal de contas, na cabeça do xerifinho de Maringá, Lula não pode estar certo e os EUA não podem estar errados. Assim como Biden, Moro quer faturar politicamente em cima de cadáveres de crianças palestinas.

Assista ao documentário que Israel não quer que você veja

Você sabia que...

O Intercept é quase inteiramente movido por seus leitores?

E quase todo esse financiamento vem de doadores mensais?

Isso nos torna completamente diferentes de todas as outras redações que você conhece. O apoio de pessoas como você nos dá a independência de que precisamos para investigar qualquer pessoa, em qualquer lugar, sem medo e sem rabo preso.

E o resultado? Centenas de investigações importantes que mudam a sociedade e as leis e impedem que abusadores poderosos continuem impunes. Impacto que chama!

O Intercept é pequeno, mas poderoso. No entanto, o número de apoiadores mensais caiu 15% este ano e isso está ameaçando nossa capacidade de fazer o trabalho importante que você espera – como o que você acabou de ler.

Precisamos de 1.000 novos doadores mensais até o final do mês para manter nossa operação sustentável.

Podemos contar com você por R$ 20 por mês?

APOIE O INTERCEPT

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar