Há uma passagem na Bíblia que conta a história do dia em que Jesus expulsou os vendilhões do templo. A expressão se refere àqueles homens que usavam o espaço sagrado – feito para a manifestação da fé, para os ritos religiosos – para o comércio com o objetivo de enriquecer. Há um hiato de quase dois mil anos entre o episódio relatado no evangelho que teria ocorrido em Jerusalém e o que acontece atualmente no Brasil. Mas, notem, as semelhanças são escandalosas.
Do bilionário Edir Macedo, fundador da Igreja Universal, passando por Pastor Everaldo, envolvido até o último fio de cabelo em esquemas de corrupção, até o filho do líder da Deus é Amor, que usou o dízimo dos fiéis para comprar um imóvel: tudo isso você só leu aqui no Intercept.
Ah, sim, ia quase me esquecendo do ex-presidente da Assembleia de Deus de Sergipe, Virgínio de Carvalho, que multiplicou seu patrimônio em 5.800% em 10 anos com dinheiro dos fiéis, chegando aos R$ 5 milhões. Ele ficou, digamos, incomodado com a reportagem.
Mas a gente não se intimida. Com nenhum deles. Nem mesmo com a Universal que tentou nos intimidar após a publicação de um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 33 bilhões em 4 anos. Na ocasião, repórter e editora tiveram que ir depor na Polícia Civil e o objetivo era um só: que se revelasse a fonte da denúncia. Resistimos de maneira firme e a vitória veio no mês passado. E se precisássemos faríamos absolutamente tudo de novo.
A gente tem se dedicado a essa cobertura que se tornou nossa marca porque ela objetivamente investiga crimes praticados em nome da fé. Não há outra palavra senão canalhice. Eu acredito que qualquer pessoa que use a fé para enriquecer não merece outra coisa que não ser julgado e punido.
E se você acha tudo isso um escândalo, lamento informar: só vai piorar. Além de enriquecer, vemos um crescente uso político da religião para a ocupação de cargos. Sim, é sobre as eleições municipais que estou falando, a porta de entrada na política para os que usam o nome de Deus em troca de votos. E o caminho natural dessa gente é ir conquistando mais poder e chegar a cargos de decisões que podem impactar o país inteiro.
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E, olha, que eu nem vou comentar sobre o fundamentalismo religioso que persegue a comunidade LGBTQIA+ e defende toda e qualquer atrocidade em nome de um suposto Deus. Que Deus é esse?
Como bem disse a deputada federal Erika Hilton no mês passado, em Comissão no Congresso, expondo toda a hipocrisia dessa gente: “É fácil falar em nome de Deus para abrir porta de Igreja e enriquecer, é fácil falar em nome de Deus para se eleger, eleger pai, filho, a irmã, a mãe. Difícil é aplicar os ensinamentos que estão na Bíblia”.
Passamos muito sufoco nos últimos anos com a ascensão do autoritarismo, da extrema direita, do bolsonarismo e se queremos participar dessa refundação do Brasil, a gente precisa – perdão usar novamente uma citação bíblica – separar o joio do trigo. Agradecemos seu apoio para seguir investigando os vendilhões do templo da atualidade e queremos fazer um único pedido: para que você siga compartilhando muito o nosso conteúdo e nos ajude a conseguir novos apoiadores para essa jornada.
JÁ ESTÁ ACONTECENDO
Quando o assunto é a ascensão da extrema direita no Brasil, muitos acham que essa é uma preocupação só para anos eleitorais. Mas o projeto de poder bolsonarista nunca dorme.
A grande mídia, o agro, as forças armadas, as megaigrejas e as big techs bilionárias ganharam força nas eleições municipais — e têm uma vantagem enorme para 2026.
Não podemos ficar alheios enquanto somos arrastados para o retrocesso, afogados em fumaça tóxica e privados de direitos básicos. Já passou da hora de agir. Juntos.
A meta ousada do Intercept para 2025 é nada menos que derrotar o golpe em andamento antes que ele conclua sua missão. Para isso, precisamos arrecadar R$ 500 mil até a véspera do Ano Novo.
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