Uma investigação do Tribunal de Contas da União revelou indícios de um esquema de corrupção no setor de compras e licitações do Exército Brasileiro. Entre os envolvidos estão militares da ativa, empresários e até a ex-funkeira MC Brunninha, hoje cantora gospel e pré-candidata a vereadora pelo PL em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
A apuração começou no ano passado, a pedido do Ministério Público junto ao TCU, depois que o Intercept Brasil revelou que MC Brunninha faturou quase R$ 1 milhão em vendas para o Executivo Federal com sua empresa ABBA Serviços de Manutenção e Comércio em Geral.
A ex-funkeira é casada com o tenente-coronel Hyago Lopes das Dôres, ex-chefe da Seção de Licitações do Exército. Mostramos que a empresa ligada ao casal ganhou R$ 856 mil do Executivo federal – R$ 769,3 mil só do Comando do Exército.
A investigação do TCU, que corre desde outubro do ano passado, agora mostra a participação de outros três militares em uma esquema ilegal de favorecimento à empresa. Dois deles, Leonardo Cordeiro e Douglas Nascimento, são apontados como sócios ocultos da ABBA.
O grupo de militares é investigado por supostas ilegalidades em 13 compras por dispensa de licitação e outros dois pregões promovidos pelo Exército para compras diversas.
Entre os produtos e serviços adquiridos sob suspeita estão equipamentos médicos, itens de escritório, coparia, serviços gráficos e editoriais.
A área técnica da corte solicitou ao ministro Augusto Nardes, relator do caso, uma medida cautelar para o afastamento imediato do terceiro militar investigado, Raphael da Rocha Lopes, pregoeiro do Museu de História do Exército e Forte de Copacabana, por sua suposta participação em favorecimento à empresa ABBA nos procedimentos licitatórios.
Em decisão publicada na segunda-feira, dia 11, Nardes destacou que há evidências de que a ABBA pode ter se beneficiado de maneira imprópria em contratos com unidades militares, em conluio com agentes públicos.
O ministro, porém, determinou novas oitivas e pediu explicações do Exército antes de determinar o afastamento de Raphael Rocha Lopes.
O pregoeiro do Museu de História do Exército e Forte de Copacabana também é suspeito de ter atuado em favor de outras duas empresas, a Fera Rio Comércio e RGL Monitoramento Eletrônico Ltda.
Somadas, elas receberam menos de R$ 15 mil do Executivo Federal – mas são presença certa em pregões do Exército, com mais de 15 participações.
A medida cautelar que deve ser tomada pelo TCU pode afastar o pregoeiro Raphael da Rocha Lopes de funções ligadas a aquisições, licitações e contratos no Museu de História do Exército, “visando evitar danos potenciais durante a investigação”. A decisão, no entanto, deve aguardar as novas etapas da investigação.
Enquanto sofre a devassa no TCU, o casal Brunninha e Hyago segue com toda força em sua atividade política. A ex-funkeira, depois da primeira reportagem do Intercept sobre o caso, assumiu a presidência do PL Mulher em Duque de Caxias e lançou sua pré-candidatura a vereadora do município da Baixada Fluminense.
Em setembro do ano passado, Brunninha foi nomeada assessora parlamentar na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro pelo deputado estadual Rosenverg Reis, líder do MDB. Desde então, intensificou as postagens nas redes sociais acompanhando o político em agendas políticas e atividades religiosas.
Rosenverg Reis é irmão de Washington Reis, ex-deputado federal, ex-prefeito de Duque de Caxias e secretário Estadual de Transporte e Mobilidade Urbana do governo Cláudio Castro, do PL.
A família é uma das mais poderosas da Baixada Fluminense, região dominada pelas milícias. Em maio de 2023, um assessor de Rosenverg foi flagrado em uma reunião com milicianos.
Hoje envolvida na política, Brunninha viveu seu ápice na carreira musical com a música “Bailão”, da Furacão 2000. Em 2014, foi uma das participantes do reality show A Fazenda 7, da TV Record. A última vez que voltou aos noticiários – antes do envolvimento no suposto esquema de corrupção – foi justamente no casamento com o então tenente Hyago, registrado pelo TV Fama, em janeiro de 2018.
Hyago, hoje fora das Forças Armadas, concilia a atividade na ABBA com a assessoria de Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde de Bolsonaro e hoje deputado pelo PL fluminense, na Câmara dos Deputados.
Ele é o responsável pelo escritório político do político no Rio de Janeiro. Hyago, Pazuello e Brunninha estiveram juntos, no topo de um trio elétrico na Avenida Paulista em ato de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, no final de fevereiro.
O Intercept questionou a assessoria do deputado Pazuello sobre a investigação. “Não fomos informados pelo TCU e deputado nem está sabendo do processo”, afirmou seu assessor. “Não temos como ajudar”.
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