João Filho

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Ciro Gomes se tornou o maluco da praça que toda hora avisa que o mundo vai acabar

Sem apresentar qualquer prova, Ciro Gomes denunciou o governo Lula sobre o pagamento dos precatórios, alimentando a turba bolsonarista.

Ciro Gomes se tornou o maluco da praça que toda hora avisa que o mundo vai acabar

Arte amplia os olhos de Ciro Gomes, hoje um ressentido crítico do governo Lula. Ilustração: Intercept Brasil

APós fazer uma campanha movida por ressentimento e recalque, Ciro Gomes, em 2022, conquistou 3% dos votos e obteve o pior desempenho eleitoral de toda sua trajetória na política. Foi uma jornada triste, com um fim desastroso. 

Nas semanas que antecederam a votação do primeiro turno, Ciro decidiu pisar com força na candidatura de Lula, ao mesmo tempo que piscava para o eleitorado da candidatura golpista de extrema direita. Naquele momento, o pedetista jogava a pá de cal sobre a sua cova política. 

Desde que Lula assumiu, foram poucas as vezes que Ciro Gomes levantou da tumba, mas sempre que assim o fez foi para fazer acenos ao eleitorado de extrema direita. E isso não se trata de opinião, mas da mera constatação de um fato. 

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Basta ver a natureza das suas críticas, que quase sempre estão carregadas de conspiração, denuncismo vazio e aquele falso viés “antissistema” que os políticos da extrema direita tanto apreciam. Em junho do ano passado, por exemplo, Ciro afirmou com todas as letras que “todo mundo está roubando no governo Lula”, de forma genérica, sem apresentar os nomes dos corruptos e as evidências que sustentam tal afirmação. 

Tal qual um político bolsonarista, o pedetista não parece se importar em comprovar as denúncias que faz. Basta fazê-las, aguardar as manchetes e deixar os bolsominions fazerem a festa na internet. É isso o que Ciro se tornou: um grande fornecedor de carniça fresca para os urubus fascistoides que infestam o país. 

Nesta semana, o pedetista voltou com força ao denuncismo vazio ao acusar o governo Lula de comandar um gigantesco esquema criminoso de venda de precatórios para favorecer bancos privados. 

Precatórios são títulos de dívida do governo que um cidadão ou uma empresa recebe quando ganha uma ação judicial contra ele. Essas dívidas historicamente costumam levar muito tempo para serem pagas e acabam criando um mercado predatório. Para receber de imediato, credores topam vender seus títulos a terceiros por valores menores do que valem. 

Ciro Gomes acusa o governo de ter se mancomunado com bancos nesta indústria dos precatórios. Sem apresentar qualquer indício do esquema, o pedetista disse que estamos diante do “maior escândalo de corrupção da história brasileira”. 

Em resumo, ele acusa Lula e Haddad de vazarem informações privilegiadas para alguns bancos. Ao ficar sabendo que o governo pagaria os precatórios de uma vez, esses bancos teriam comprado os direitos dos precatórios dos credores com preços muito menores, lucrando alto com a decisão do governo. 

É isso o que Ciro se tornou: um grande fornecedor de carniça fresca para os urubus fascistoides que infestam o país.

“O Lula, o PT e o Haddad, sem dinheiro para nada, corta daqui, corta de acolá, confusão. De repente, resolve pagar o calote dos precatórios do Bolsonaro, R$ 93 bilhões”, concluiu com base em absolutamente nada. Ao ser perguntado se teria provas do conluio entre o governo e os bancos, Ciro lavou as mãos e afirmou que seria necessário consultar o MPF. 

Consultado, o órgão afirmou não ter recebido qualquer denúncia. 

Se a denúncia fosse verdadeira, estaríamos diante de um escândalo de enormes proporções, mas trata-se apenas de uma conspiração de um ex-político em atividade, que está buscando um enredo para si. 

Dados do Banco Central desmentiram a denúncia de araque de Ciro Gomes. Dos R$ 93 bilhões quitados pelo governo, R$ 3,18 bilhões foram pagos aos bancos que eram donos dos precatórios. Dessa quantia, R$ 1,68 bilhão são de precatórios que os bancos adquiriram de terceiros. 

Ou seja, ou consideramos Ciro um completo ignorante — o que sabemos não ser verdade — ou ele mentiu deliberadamente com o intuito único de atacar Lula e o PT e cair nas graças do seu novo eleitorado alvo. 

Depois que essas informações foram divulgadas pela imprensa, Ciro, que vinha inflando sua própria mentira dia após dia, sumiu das redes sociais e se evaporou do debate. Mas o estrago já estava feito. Apesar de não convencerem quase ninguém na imprensa, nem mesmo a parte mais antipetista, as mentiras de Ciro Gomes ganharam o coração dos políticos e da militância bolsonarista. 

O deputado Nikolas Ferreira, do PL, anunciou que irá encaminhar uma representação ao Ministério Público pedindo uma investigação sobre a denúncia do pedetista. Ele pretende questionar a ministra do Planejamento, Simone Tebet, a respeito do processo de liquidação de precatórios e convocará uma CPI caso as explicações não forem convincentes. 

O senador Cleitinho, dos Republicanos, foi à tribuna dar seu showzinho histriônico para reverberar os delírios de Ciro Gomes. Carla Zambelli, Kim Kataguiri e outras figurinhas obscuras do antipetismo no parlamento também ficaram excitados com a falsa denúncia. 

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Sabemos que a verdade não importa para essa turma. O que vale é colocar o governo nas cordas do debate público. Ciro Gomes passou a chupeta no mel e colocou na boca dos reacionários.

Há um cálculo político na fabricação dessa denúncia. Ela foi feita justamente em um momento difícil para o governo, em que as pesquisas indicam queda na aprovação e aumento da desaprovação popular. Ciro quer surfar neste momento visando galgar um espaço no noticiário e superar sua atual irrelevância dentro do jogo político. Isso nos leva a crer que aquela promessa de não se candidatar é tão fake quanto esta denúncia. 

Depois de derreter seu capital político junto à esquerda, Ciro não pretende mais se esforçar para se manter em um ponto equidistante entre Lula e Bolsonaro. Vai assumir um ponto cada vez mais próximo de Bolsonaro no espectro político, por acreditar ser esse o melhor caminho para se sair melhor nas urnas em 2026. 

Trata-se apenas de uma conspiração de um ex-político em atividade, que está buscando um enredo para si.

O voto do eleitor de Lula é um voto que ele não terá mais. O voto em Bolsonaro, apesar de ser difícil, ainda tem alguma chance de ser conquistado por ele. Esse é o  movimento que ele vem fazendo desde o final da última campanha eleitoral e que falhou miseravelmente. Ciro dobra a aposta nessa estratégia, mas nada indica que dessa vez irá dar certo. 

Hoje Ciro é um morto-vivo na política. De vez em quando ele aparece pra fazer alguma gritaria, animar sua tropa de fanáticos cada vez mais minúscula e capturar alguns votos alimentando o fetiche da extrema direita em fabricar mentiras mirabolantes contra Lula. 

O pedetista foi abandonado politicamente pelos seus irmãos. Perdeu influência política no Ceará, foi isolado pela esquerda e agora vê no voto da extrema direita sua única tábua de salvação. Ciro virou aquele maluquinho que fica nos centros das grandes cidades gritando que o apocalipse vai chegar. O fim de sua carreira vai se tornando cada vez mais melancólico. 

JÁ ESTÁ ACONTECENDO

Quando o assunto é a ascensão da extrema direita no Brasil, muitos acham que essa é uma preocupação só para anos eleitorais. Mas o projeto de poder bolsonarista nunca dorme.

A grande mídia, o agro, as forças armadas, as megaigrejas e as big techs bilionárias ganharam força nas eleições municipais — e têm uma vantagem enorme para 2026.

Não podemos ficar alheios enquanto somos arrastados para o retrocesso, afogados em fumaça tóxica e privados de direitos básicos. Já passou da hora de agir. Juntos.

A meta ousada do Intercept para 2025 é nada menos que derrotar o golpe em andamento antes que ele conclua sua missão. Para isso, precisamos arrecadar R$ 500 mil até a véspera do Ano Novo.

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