As mentiras que matam voltaram a assombrar o país. O negacionismo assassino que voou nas asas das mamadeiras de piroca do bolsonarismo durante a pandemia voltou com ainda mais força durante a tragédia do Rio Grande do Sul.
Recordemos o falecido Olavo de Carvalho, o guru da ignorância, afirmando que a tese do aquecimento global é a ‘mãe de todas as fraudes‘. Este gênio da raça é o mesmo que passou os últimos dias da vida negando a letalidade do COVID e acabou morrendo com… COVID.
Guiados pelo obscurantismo olavista, políticos bolsonaristas que passaram os últimos anos negando o aquecimento global tentam agora criar novas narrativas para explicar a tragédia causada por ele.
Uma quantidade industrial de fake news negacionistas passou a circular pelas redes sociais assim que começaram as enchentes. Todas as mentiras criadas seguem o mesmo padrão narrativo: atacam o poder público e exaltam o heroísmo de celebridades e empresários.
Vejamos algumas das mentiras que mais circularam na internet:
- Caminhões de doações foram barrados por falta de nota fiscal
- Caminhões com doação de água foram retidos na fronteira do Rio Grande do Sul
- Resgates por barcos e helicópteros de voluntários foram proibidos
- Lula proibiu distribuição de donativos em Lajeado até sua chegada na cidade
- Neymar alugou e doou 10 helicópteros para resgates no RS
- Madonna fez doação secreta de R$ 10 milhões para vítimas.
O conjunto dessas mentiras conta uma história: o poder público não está fazendo nada e ainda está impedindo as pessoas de ajudar, mas graças a Deus temos os ricos salvadores agindo. Até a Madonna, que há poucos dias atrás era tratada pelos bolsonaristas como uma satanista, foi imediatamente beatificada pela turma.
Não há comparação entre a atuação dos governos e a de um punhado de celebridades ricas se mobilizando para ajudar.
Essas fake news são organizadas para construir a ideia de que o heroísmo individual é mais efetivo que o trabalho coletivo representado pelo poder público.
Tudo isso faz parte de um projeto de manchar a imagem da política e da democracia e
supervalorizar a ação de indivíduos — que invariavelmente são ricos alinhados à
ideologia bolsonarista.
Após a divulgação dessas mentiras, celebridades do alto e do baixo escalão passaram a repercutir em massa a informação de que os governos, especialmente o federal, não estão fazendo nada. Nada pode ser mais falso.
É inegável que as forças estatais de todas as esferas (municipais, estaduais e federais) têm atuado ativamente para salvar vidas. Não há qualquer comparação possível entre a atuação dos governos e a de um punhado de celebridades ricas se mobilizando para ajudar.
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Enquanto os bolsonaristas espalhavam que a polícia rodoviária federal estava dificultando a entrada de caminhões com doações no Rio Grande do Sul, o governo federal ofereceu R$ 50 bilhões em crédito para empresas gaúchas, antecipou a restituição do IR aos gaúchos, prometeu aliviar a dívida do estado com a União, liberou o seguro desemprego para 140 mil desempregados e antecipará o pagamento do bolsa família e do auxílio gás.
Não fez mais do que a obrigação, sem dúvidas, mas vivemos em tempos em que ações do Estado precisam ser exaltadas para confrontar a canalhice bolsonarista.
Obviamente, há críticas a serem feitas a todas instâncias de governos, principalmente o estadual e os municipais, que são os principais responsáveis pelos planos de prevenção de uma tragédia anunciada no estado.
Antes das chuvas, o governador Eduardo Leite fez pouco ou quase nada, mesmo tendo sido alertado pelos institutos de meteorologia. Sebastião Melo, o prefeito bolsonarista de Porto Alegre, não destinou um real sequer para a prevenção de enchentes anunciadas.
A ajuda da iniciativa privada é importante, mas ao contrário do que contam as mamadeiras de piroca do bolsonarismo, é quase nada perto do que tem feito o Estado.
A bancada bolsonarista no Congresso também atua ferozmente para boicotar toda ação em defesa do meio ambiente. Mesmo com todos esses problemas, o poder público é o único ente que está estruturado para fazer o socorro da população e atuar na reconstrução das cidades destruídas.
A ajuda da iniciativa privada é importante, mas ao contrário do que contam as mamadeiras de piroca do bolsonarismo, é quase nada perto do que tem feito o Estado.
Quem está na linha de frente do atendimento às vítimas é o corpo de bombeiros, as forças armadas e as defesas civis. As celebridades que estão resgatando pessoas com jet ski merecem todos os aplausos, mas são os servidores públicos que estão fazendo os resgates em massa.
Pablo Marçal e Luciano Hang, duas celebridades do bolsonarismo, se destacaram nas redes criticando uma fictícia inação dos governos enquanto supervalorizavam suas ações solidárias. O bolsonarismo os alçou à condição de heróis nacionais.
Lembremos que Marçal já foi condenado por furtar bancos enquanto, segundo a receita federal, Hang sonegou R$25 milhões e é suspeito de lavagem de dinheiro, agiotagem e contrabando, segundo a Abin — eis as credenciais morais dos heróis do bolsonarismo.
É esse o tipo de picareta que está sendo valorizado enquanto o poder público é
atacado de todas as formas. Marçal espalhou uma série de mentiras durante a tragédia e afirmou categoricamente que os militares não estão fazendo nada.
A verdade é que as forças armadas mobilizaram cerca de 17 mil homens que já efetuaram 52 mil resgates aéreos, terrestres ou fluviais. Luciano Hang, um ferrenho negacionista do aquecimento global que causou a tragédia no Sul, declarou durante o governo Bolsonaro que ‘(a defesa do) meio ambiente é um câncer do país’.
Circulou a notícia mentirosa de que Hang teria mais aviões atuando no socorro às vítimas do
que a força aérea brasileira. O empresário não desmentiu.
A tragédia no Rio Grande do Sul é sem precedentes e o grosso dos gastos no socorro às vítimas e na reconstrução das cidades será feito com dinheiro público.
Populações de cidades inteiras terão que ser deslocadas para outras regiões, haja vista que os eventos climáticos inevitavelmente irão se repetir. Só o poder público terá dinheiro e estrutura para operar esse deslocamento em massa.
Ações individuais de ricos negacionistas não darão conta do problema. Quando a água baixar e o assunto esfriar no noticiário, os empresários negacionistas voltarão para os seus negócios e as celebridades endinheiradas voltarão a fazer publicidade de casas de apostas no Instagram.
A solidariedade performática tem prazo de validade, já a ação do poder público deve ser permanente.
Bolsonaro está fora do poder e inelegível, mas o seu projeto de destruição da democracia segue vivo entre bolsonaristas (com ou sem mandato) e empresários obscuros.
As mentiras são meticulosamente criadas para desacreditar a política e impulsionadas por integrantes de uma elite escrota, mesquinha, sonegadora, que enxerga o Estado como o grande vilão para os seus negócios.
Parte da direita que se diz não-bolsonarista e da imprensa corporativa tem caído no discurso fácil de ataque à coisa pública. SBT e Folha de São Paulo, por exemplo, divulgaram algumas fake news que visavam descredibilizar as ações do governo durante a tragédia.
As grandes tragédias mobilizam as pessoas, e o bolsonarismo sabe como canalizar a comoção popular em favor dos seus propósitos. Essa é a especialidade deles. Não é difícil criar esse ambiente quando não se tem o menor pudor em disseminar mentiras.
A criação dessas narrativas serve também a outro propósito: manter seus seguidores dentro da seita, teleguiados, unidos e mobilizados para as próximas eleições.
O que aconteceu no Rio Grande do Sul continuará acontecendo em outros lugares do mundo.
As catástrofes climáticas resultantes do aquecimento global são inevitáveis e todos os países do mundo terão que lidar com o negacionismo que a extrema direita usa para servir à sua ideologia antidemocrática.
Até quando as democracias aguentarão a destruição causada pelas fake news? É fundamental que os democratas continuemos a lutar para que esse tipo de mentira seja penalizada de alguma forma. É uma tarefa árdua mas inadiável.
As big techs que faturam com as mentiras que matam precisam ser reguladas e responsabilizadas pela circulação desse tipo de conteúdo. Trata-se de uma questão de sobrevivência das democracias.
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