Mudanças climáticas e deslocamentos de pessoas impactadas por eventos extremos estão cada vez mais conectados. Vimos cenas assim nas enchentes do Rio Grande do Sul. Para falar sobre esse e outros temas ligados ao colapso climático e a urgência de respostas do estado, o Intercept Brasil entrevistou a socióloga Sabrina Fernandes.
Fernandes, colunista do Intercept, traça caminhos para o que seria uma boa resposta em casos como o do Rio Grande do Sul, que ela chama de calamidade climática e humanitária. “Alguns princípios de justiça socioeconômica são essenciais para dar respostas à tragédia. Uma renda universal faria muito mais sentido agora”, enfatiza.
“É um momento de pensar o que é o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’ em um contexto de calamidade climática, de adaptação. O MTST tem boas experiências que podem ser destacadas aqui para reconstrução de moradias de um modo mais ecológico”.
Ela defende também um modelo de justiça tributária planejado para que o país tenha o nosso próprio fundo de perdas e danos – e com isso entrarmos em uma lógica de reparação. “Eu não acredito que o caminho do saque calamidade é adequado para um princípio de justiça socioeconômica, sair lançando linhas de crédito é um caminho adequado porque aqui estamos falando de pessoas que vão ter que se endividar de uma forma ou de outra”.
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Modelos de reconstrução pós-calamidade
Segundo a socióloga, existem três modelos a evitar nessa fase de reconstrução:
O modelo adotado por Nova Orleans após o furacão Katrina. O governo decidiu contratar empresas de consultoria para a reconstrução do estado, resultando em um modelo urbano mais segregado, excluindo os mais pobres, que foram justamente os mais afetados pela furação.
O modelo em curso na Ucrânia por conta da guerra com a Rússia. É um modelo similar com o de Nova Orleans, porém com a diferença que os empresários utilizam investimentos do estado para minimizar os riscos, podendo levar a mais privatização de serviços básicos.
O modelo do Líbano, que por conta de uma sequência de guerras e conflitos acabou normalizando a lógica do voluntariado e uma ‘onguização’ de serviços que o estado deveria prover.
Contradições
“É nossa responsabilidade chamar atenção para algumas contradições, algumas políticas que prejudicam a população do Rio Grande do Sul e de todo o Brasil, que se torna cada vez mais vulnerável às mudanças climáticas, se a gente continua investindo em uma lógica de pré-sal como uma forma de desenvolver o Brasil”, explica Fernandes.
A socióloga também questiona o conceito de refugiados climáticos, que ela não considera adequada para tratar do que está acontecendo no Rio Grande do Sul agora. Ela enfatiza a necessidade de o Brasil pensar políticas públicas voltadas para pessoas que tiveram que se deslocar internamente por conta das mudanças climáticas, enquanto a discussão sobre refugiados climáticos não avança para a criação de uma convenção internacional.
Segundo a agência da ONU para Refugiados, a Acnur, os desastres relacionados ao clima provocaram mais da metade dos novos deslocamentos relatados em 2022.
Assista a entrevista completa com Sabrina Fernandes:
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