Depois de muito afrontar a justiça, o bilionário Elon Musk enfiou sua violinha no saco e resolveu obedecer as leis brasileiras. Desde a última quarta-feira, o X passou a cumprir ordens judiciais e teve que pagar na marra R$18 milhões em multas.
Contas de golpistas como o empresário Paulo Figueiredo Filho e o blogueiro Allan dos Santos foram suspensas no Brasil. O primeiro é o neto do ditador João Figueiredo, investigado por participar da tentativa de golpe de estado no Brasil.
O segundo é um blogueiro condenado à prisão pelo inquérito das fake news que se encontra foragido nos EUA. É esse tipo de delinquente que o X protegia no Brasil em nome da tal liberdade de expressão absoluta.
Para que possa voltar ao ar, o X apresentou dois advogados como representantes legais da empresa no Brasil. Um erro na documentação deles atrasou um pouco a confirmação e liberação do site. Tudo indica que o showzinho criminoso de Elon Musk está chegando ao fim, ao menos por enquanto.
O circo narrativo não se sustentou e o bilionário está tendo que enfiar o rabinho entre as pernas. No fim das contas, é melhor para o X garantir o segundo maior mercado da empresa no mundo e manter a máquina de manipulação da opinião pública operando no país em favor da extrema direita.
Antes de se curvar às decisões da justiça, o bilionário fez chacota dela alguns dias antes. Musk burlou a decisão que suspendeu o X e tornou o site acessível no país novamente.
Através de uma manobra técnica, a empresa driblou os bloqueios impostos pelos provedores de internet do Brasil. Em nota, o X alegou que a mudança técnica não teve a intenção de liberar o site — uma mentira que foi desmascarada pela Anatel, que foi enfática ao declarar que a ação foi deliberada.
Musk não conseguiu esconder o prazer pela molecagem. “Qualquer magia suficientemente avançada é indistinguível da tecnologia”, escreveu em seu perfil no X.
A provocação é uma referência à famosa frase do escritor de ficção científica Arthur C. Clarke que diz que “qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia”.
Padrão moral do bolsonarismo
Políticos bolsonaristas, como o deputado federal Gustavo Gayer e o ex-deputado federal Deltan Dallagnol, exaltaram a “genialidade” do bilionário. Segundo Gayer, “Moraes, no auge da sua megalomania, caçou briga com um dos homens mais inteligentes do mundo” e levou um “xeque-mate”.
Deltan Dallagnol, bastante excitado com as provocações do empresário, chamou a ação fora da lei de “jogada de mestre” e emendou: “Moraes achou que ia ser imperador do mundo, mas a resposta do Elon Musk foi simples e direta: ‘você não contava com a minha astúcia'”.
Para a surpresa de ninguém, nossos patriotas festejaram o drible tecnológico que o estrangeiro deu na justiça brasileira. Esse é o padrão moral do bolsonarismo.
Mas nem deu tempo da cachorrada fascistóide comemorar muito. Alexandre de Moraes agiu rapidamente e impôs uma multa diária de R$5 milhões ao X pelo descumprimento de ordem judicial que suspendeu a operação da plataforma. Era o fim da farra.
Imediatamente, Musk decidiu cumprir as decisões de Xandão. Até pouco tempo atrás, o empresário dizia que o ministro era um “ditador brutal”, “um criminoso disfarçado de juiz” cuja prisão seria uma “questão de tempo”. A postura da empresa mudou da água para o vinho.
Musk não conseguiu a atenção internacional que queria.
Agora, pelo menos por enquanto, a empresa se mostra disposta a colaborar com a justiça. Parece que o jogo virou, não é mesmo?
Muito se falou na imprensa sobre a existência de um embate entre Moraes e Musk, o que nunca existiu de fato. Essa é uma falsa narrativa que só interessa ao bolsonarismo, cujos principais líderes estão encalacrados com a justiça, e ao próprio Musk, um homem mentalmente perturbardo que está obcecado em cumprir o papel do guerreiro salvador da liberdade de expressão pelo mundo.
Na verdade, o que vimos foi a justiça brasileira obrigando uma empresa estrangeira a cumprir as leis do país. A decisão que suspendeu o X não foi tomada arbitrariamente por um único juiz, como Musk e seus lacaios com complexo de vira-latas querem pintar.
A suspensão foi confirmada pela primeira turma do tribunal por unanimidade no início do mês. Não se trata de uma vitória de Xandão, mas de uma demonstração de força da democracia brasileira que resistiu aos ataques do homem mais rico do planeta, que tem se dedicado a desestabilizar governos que não estejam alinhados aos seus interesses e a promover o extremismo de direita pelo mundo.
O empresário não conseguiu a atenção internacional que queria, pelo contrário. Um grupo de 50 intelectuais de vários países — gente verdadeiramente preocupada com a liberdade de expressão — assinou uma carta em que conclama o mundo a apoiar a justiça brasileira “em sua busca por soberania digital”.
Na carta, eles afirmam que o Brasil se tornou o principal front de um conflito global que opõe as Big Techs àqueles que “buscam construir um espaço digital democrático e centrado nas pessoas, com foco no desenvolvimento social e econômico”.
O X é de Elon Musk, mas ainda depende de investidores e da sua imagem pública. Certamente essa insistência em atuar fora da lei no Brasil arranhou a imagem da empresa os anunciantes. Isso ajuda a explicar a arregada do bilionário.
Musk cometeu crimes, descumpriu sucessivas ordens judiciais, se recusou a pagar multas, provocou, fez chacota da justiça brasileira, chamou Xandão para a briga e, no fim das contas, acabou levando uma vigorosa cadeirada da democracia brasileira.
Agora, o bilionário ficará manso nos próximos dias, mas, conhecendo a figura megalomaníaca, é muito provável que ele não fique no sapatinho por muito tempo.
Você sabia que...
O Intercept é quase inteiramente movido por seus leitores?
E quase todo esse financiamento vem de doadores mensais?
Isso nos torna completamente diferentes de todas as outras redações que você conhece. O apoio de pessoas como você nos dá a independência de que precisamos para investigar qualquer pessoa, em qualquer lugar, sem medo e sem rabo preso.
E o resultado? Centenas de investigações importantes que mudam a sociedade e as leis e impedem que abusadores poderosos continuem impunes. Impacto que chama!
O Intercept é pequeno, mas poderoso. No entanto, o número de apoiadores mensais caiu 15% este ano e isso está ameaçando nossa capacidade de fazer o trabalho importante que você espera – como o que você acabou de ler.
Precisamos de 1.000 novos doadores mensais até o final do mês para manter nossa operação sustentável.
Podemos contar com você por R$ 20 por mês?