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Puxei o fio do banco do Marçal

E achei ligações com fintechs acusadas de lavar bilhões para o tráfico.


Este texto foi originalmente publicado na newsletter no Intercept Brasil.

Nos bastidores do sistema financeiro brasileiro, uma bomba pode explodir – e envolver figuras como o candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, e uma rede de bancos digitais e plataformas financeiras investigados por facilitar a lavagem de dinheiro.

A peça central da história é a BRM1, uma empresa fundada por Rogério Tavares Pierro, que intermedeia interessados em abrir novas fintechs a um banco autorizado para alojar as operações – e emite cartões pré-pagos para os clientes movimentarem o dinheiro.

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Marçal usou os serviços de Pierro para lançar seu banco digital, o General Bank. O acordo foi costurado por meio de uma parceria com a B4A, um CNPJ registrado no nome de Bruno Pierro, filho de Rogério.

(Pierro, o pai, contesta a ligação da BRM1 com o banco de Marçal – leia abaixo, na íntegra, o posicionamento dele enviado após a publicação deste texto. )

Olhei a lista de clientes do BRM1 e descobri que um deles é o YouBanking. E isso foi uma coincidência incrível: esse banco compartilha o mesmo CNPJ com uma fintech que venho investigando há meses: a Zuri, uma instituição financeira projetada para evitar bloqueios judiciais – e que teve, em sua concepção, a participação de um delegado da Polícia Federal.

Lista de clientes do BRM1.

Sim, há bastante tempo, eu trabalho em cima de um conjunto de documentos vazados que indicam que José Navas Júnior, delegado da PF, fundou uma fintech chamada Blindei – que hoje chama-se Zuri. O material é um grande volume de e-mails, mensagens e áudios que indicam a atividade empresarial de Navas.

Falei com o delegado nesta semana sobre isso. Ele argumentou que a Blindei não foi à frente; que não seria sócio-administrador, o que é impedido por lei, apenas sócio; que, na visão dele, o Blindei não desafiaria a Justiça, apenas oferecia maior segurança contra golpes; e que não soube que o Blindei, agora, se chama Zuri. “Não tive recursos, não percorri o restante do caminho”, ele me disse.

Fundado como Blindei, banco digital à prova de bloqueios judiciais hoje se chama Zuri e é cliente da BRM1, do sócio de Marçal.

Eu disse ao delegado que, além das conversas e mensagens obtidas, até a identidade visual do Blindei foi aproveitada pelo Zuri. “Não conheço o Zuri”, ele garantiu.  

Ouvi gente que participou da criação da empresa: o modo de funcionamento do Zuri/Blindei é exatamente o mesmo usado pelas fintechs que foram alvo da gigantesca Operação Concierge, deflagrada pela Receita Federal e pela própria PF em agosto. Trata-se do uso de plataformas de pagamento para fraudar operações financeiras.

No caso da Operação Concierge, que levou sócios de fintechs à cadeia por suspeita de fraudes de R$ 7,5 bilhões e lavagem de dinheiro para o Primeiro Comando da Capital, o PCC, o banco digital utilizado era o T10 Bank. Mais uma coincidência: tenho um print dos diretores da Zuri comentando o contrato social do T10. “Tem gente que já está no corre”, disse o executivo do banco hospedado na BRM1.

Protagonista do escândalo de lavagem de dinheiro para o PCC, o T10 Bank operava, por sinal, por meio de um banco chamado Bonsucesso. E não é que Paulo Henrique Pentagna Guimarães, fundador do banco BS2, o antigo Bonsucesso, doou R$ 100 mil à campanha de Pablo Marçal por meio de um Pix? O dono do T10, o advogado José Rodrigues, está preso, mas seu último post no Instagram é uma declaração de apoio a Marçal. Não dá para negar: é um apoio de preso.

Opa, desculpa, a fumaça aqui de Brasília está me fazendo tossir: coaf, coaf, coaf!

Atualização: 12 de novembro de 2024, 16h22

O fundador do BRM1, Rogério Tavares Pierro, enviou o seguinte posicionamento após a publicação deste texto:

No dia 04 de outubro de 2024 foi publicada reportagem, assinada por Sr. Paulo Motoryn, associando o nome de Rogério Tavares Pierro e uma de suas empresas, de forma desassociada da verdade, pois nada tenho em envolvimento comercial muito menos pessoal com o Sr. Pablo Marçal, Sr. José Navas Junior.
Nessa reportagem foi apontado que uma das plataformas na qual “foi” nossa cliente, em 2017, a Youbank, teria participação em fraudes financeiras.
Fez uma assimilação superficial de similaridade de imagens públicas, usadas rotineiramente por empresas e fintechs em sites e concluiu sem nenhum critério que eram da mesma pessoa e criada com a mesma finalidade.
Publicou meu nome completo afirmando que eu era “PEÇA CENTRAL” e minha empresa “BRM1” era responsável pelo banco do Pablo Marçal.
Dias antes da divulgação da reportagem, o Sr. Paulo Motoryn entrou em contato somente com meu filho, Bruno Pierro, o qual deixou bem claro que houve uma dissolução de sociedade e que desenvolveu o banco digital “GENERAl BANK” através da empresa B4A, empresa do Bruno que não faz mais parte da sociedade da BRM1, toda conversa printada e arquivada.
Também foi afirmado nessa reportagem que a ZURI, novo nome fantasia da YOU Bank, seria dos mesmos donos da BLINDEI, mais um fato que não é verdadeiro. Assimilando também de forma vazia meu nome e da minha empresa na mesma reportagem com a operação Concierge, na qual empresas sem nenhuma ligação direta ou indireta com minha pessoa ou qualquer uma das minhas 12 empresas tem proximidade comercial.
Estou no mercado desde 1994, tendo uma reputação solida no mercado de Fintechs, financeiro tecnológico, Bacen, CVM.
Entendo a motivação da reportagem com intenção de atingir até então candidato Pablo Marçal, o qual não tenho nenhum apresso, mas acabou denegrindo a imagem pessoal e empresarial de uma das empresas mais antigas do setor, trazendo prejuízo moral e financeiro comprovado acima de mais de R$ 1.000.000,00, devido a desistência de futuros clientes que estavam negociando com a BRM e se sentiram inseguros de seguir nas tratativas devido a reportagem acima citada.
Diante dos esclarecimentos acima, colocamo-nos a disposição para quaisquer esclarecimentos necessários e solicitamos a gentil providência de ser disponibilizado espaço para a correção dessas informações, que não são verdadeiras, desvinculando o meu nome, Rogério Tavares Pierro, e da minha empresa BRM1 de qualquer associação com a matéria publicada”.

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