João Filho

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Eleição em SP: O jogo dúbio de Bolsonaro favorece Marçal

Marçal disparou entre os bolsonaristas. Isso se explica pelo fato de Bolsonaro ter sumido da campanha de Nunes e por ter autorizado seus aliados a apoiar o coach.


As últimas pesquisas para as eleições municipais em São Paulo indicam que nenhum candidato garantiu lugar no segundo turno. Há um empate técnico triplo entre Boulos, Marçal e Nunes.

No Datafolha, por exemplo, Boulos consolidou 26% dos votos, enquanto Nunes e Marçal estão com 24%. Tudo pode acontecer nessa reta final.

É impossível cravar quem avançará, mas é possível identificar algumas tendências que aparecem em todas as pesquisas. Na última semana, grande parte dos eleitores bolsonaristas do prefeito Ricardo Nunes migrou para o coach Pablo Marçal, deixando a disputa ainda mais parelha.

No Datafolha da semana passada, 43% dos que votaram em Bolsonaro em 2022 declararam voto no coach, enquanto 39% indicaram voto no prefeito. No Datafolha da última quinta-feira, Marçal disparou entre os bolsonaristas, ganhando o apoio de 51% contra 32% do Nunes.

Ou seja, em apenas uma semana, a distância entre eles pulou de quatro pontos percentuais para 19. Isso se explica pelo fato de Bolsonaro ter sumido da campanha de Nunes e por ter autorizado, ainda que de maneira velada, seus aliados a apoiar Marçal.

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O jogo dúbio de Bolsonaro favorece Marçal. Não se sabe se essa migração de votos já atingiu o teto. É possível que ela continue crescendo até o dia da votação, aumentando as chances de Marçal chegar ao segundo turno. 

A favor de Nunes está a baixa rejeição em relação aos outros dois, com apenas 23%. Boulos é rejeitado por 38%. Marçal conseguiu a façanha de ser rejeitado por 53% do eleitorado. Entre as mulheres ele atingiu 59% de rejeição. 

Apesar de ser muito rejeitado, o coach é o candidato que mais tem crescido nessa reta final. Enquanto Nunes despenca e Boulos oscila para cima dentro da margem de erro, Marçal tem surfado uma onda consistente que o fez crescer cinco pontos percentuais nas duas últimas semanas.

A favor de Boulos está o seu alto índice de cristalização dos votos. Na pesquisa espontânea, ele tem 24% dos votos contra 20% de Marçal e 16% de Nunes. Se fizermos a relação com a pesquisa estimulada, Boulos aparece com 92% dos seus votos consolidados, contra 83% de Marçal e apenas 66% de Nunes. Isso significa que o psolista tem pouca chance de perder os votos, diferente do atual prefeito.

Último debate

Em um jogo tão embolado, o último debate poderia mudar os rumos nessa reta final. Mas os três líderes das pesquisas entraram no estúdio da Globo na última quinta-feira com o resultado das pesquisas debaixo do braço.

Foi um debate modorrento, cansativo, em que os candidatos se comportaram de maneira engessada, se limitando a fazer o arroz com feijão para não correrem risco de perder votos.

Praticamente não houve confrontos de ideias e propostas. Cada candidato usava o seu tempo para fazer discursos prontos que não tinham necessariamente a ver com as perguntas. 

Pablo Marçal, preocupado em estancar o aumento da sua rejeição, começou o debate no sapatinho, tentando se comportar como um candidato sério e propositivo. Mas o personagem não durou muito.

Lá pelas 23h30, quando boa parte da audiência já tinha ido dormir, a costumeira delinquência de Marçal deu o ar da graça. O coach repetiu os ataques dos debates anteriores, mas tanto Nunes quanto Boulos se saíram bem nas respostas.

Qualquer que seja o resultado da eleição, a democracia sairá derrotada e Pablo Marçal sairá vencedor.

Nunes finalmente respondeu ao questionamento sobre o boletim de ocorrência aberto por sua esposa por violência doméstica. O prefeito negou ter havido agressão física e afirmou que a ocorrência foi fruto de um desentendimento de quando estavam separados.

Certamente a explicação não convenceu a todos, mas foi a primeira vez que ele não fugiu do assunto. Já Boulos, que foi acusado por Marçal durante a campanha inteira de ser “cheirador”, apresentou seu exame toxicológico para enterrar de vez as insinuações.

O coach passou a campanha prometendo que apresentaria as provas da sua acusação no debate da Globo, mas não apresentou nada e acabou sendo desafiado por Boulos a também fazer um exame toxicológico. O tiro saiu pela culatra e o provocador acabou sendo provocado.

Entre os três que lideram as pesquisas, acredito que Boulos teve o melhor desempenho no debate, enquanto Nunes, que passou a maior parte do tempo como vidraça, o pior. Marçal e o seu novo personagem não tiveram sucesso, mas isso não deve ter grande impacto no eleitorado.

O debate não deve mudar as tendências apontadas pelas últimas pesquisas, pelo contrário, pode reforçá-las. Boulos e Marçal estão subindo, enquanto Nunes está caindo. 

Se eu tivesse que apostar em um cenário de segundo turno depois das últimas pesquisas e do debate, apostaria em Boulos contra Marçal. Mas seria apenas uma aposta. Qualquer prognóstico é arriscado diante de um empate técnico triplo faltando poucos dias para a eleição.

Eleições municipais costumam ser decididas em cima da hora e tudo pode mudar. A depender da força dessa onda de crescimento de Marçal, é possível que ele termine em primeiro lugar. 

Mas Boulos, o único não-bolsonarista com chances de avançar ao segundo turno, está se mantendo bem na disputa, apesar dos percalços. Caso passe, o cenário ficará ainda mais difícil para ele, com o bolsonarismo concentrando todas suas forças em um só candidato. Nesse cenário, Boulos seria o candidato da democracia disputando contra o candidato das trevas. O jogo será duro.

Qualquer que seja o resultado da eleição, a democracia sairá derrotada e Pablo Marçal sairá vencedor. Estando ou não no segundo turno, o coach já foi normalizado pela grande imprensa e pela justiça eleitoral como um ator político aceitável. Se ele perder, sairá com um público ainda maior, o que significa mais grana no seu bolso e um recall para as próximas eleições.

Se ganhar, as chances de atormentar o país com uma candidatura à presidência aumentarão consideravelmente.

JÁ ESTÁ ACONTECENDO

Quando o assunto é a ascensão da extrema direita no Brasil, muitos acham que essa é uma preocupação só para anos eleitorais. Mas o projeto de poder bolsonarista nunca dorme.

A grande mídia, o agro, as forças armadas, as megaigrejas e as big techs bilionárias ganharam força nas eleições municipais — e têm uma vantagem enorme para 2026.

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