Coordenadores do movimento Brasil livre fizeram um ataque sujo contra o jornalista Giovanni Pannunzio, do Intercept Brasil, após a publicação de uma reportagem investigativa sobre supostas irregularidades na coleta de assinaturas do Partido Missão. Pannunzio revelou que vários signatários relataram ter sido enganados pelos coletores.
Em oito anos de história, o Intercept já foi alvo de muitos ataques. Mas poucos deles foram tão vis. O MBL, nesta quarta-feira, 13, superou as práticas de intimidação e violência que nos acostumamos a vivenciar denunciando milicianos, políticos, bicheiros, assassinos, traficantes, criminosos e corruptos de toda sorte.
Durante uma transmissão ao vivo no canal do MBL, o deputado estadual cassado e coordenador do movimento Arthur do Val dedicou mais de uma hora para atacar o Intercept, distorcer a reportagem e proferir uma série de xingamentos e ataques de teor homofóbico contra Pannunzio. “Um merda, um bosta”, repetiu várias vezes. Um dia antes, Renan Santos, coordenador do movimento, já havia chamado o jornalista de “imbecil” em outra live.
Como se não bastasse, o ex-deputado acessou os perfis pessoais do Instagram e do Twitter do jornalista durante a transmissão, expondo na tela fotografias pessoais, prática conhecida como doxxing, e contas seguidas por Pannunzio. Arthur do Val se aproveitou de interações de teor pessoal em redes sociais para constranger o jornalista com comentários de teor homofóbico. A audiência do MBL, além de doar dinheiro na live reverberando comentários de ataque, também foi aos perfis de Pannunzio para atacá-lo.
O ex-deputado também ligou insistentemente para o contato telefônico de Pannunzio para surpreendê-lo e colocá-lo ao vivo no canal do MBL de forma involuntária.
As ligações não foram atendidas porque o Intercept já havia contatado o MBL antes da publicação da reportagem, como manda o bom jornalismo, e o posicionamento do grupo foi destacado no texto – ao contrário do que alegou Arthur do Val na live. Mais tarde, Renan Santos fez ataques semelhantes em outra transmissão ao vivo.
A reportagem MBL coletou assinaturas sem avisar que era para criar partido, dizem signatários, publicada na terça-feira, 12, foi apurada com múltiplas fontes, de diferentes localidades, que enviaram seus relatos e também provas documentais – como fotografias, que não foram publicadas para proteger as fontes.
Vale destacar que, em menos de 24 horas após a publicação do texto, mais de 70 pessoas comentaram nas publicações afirmando que também haviam sido enganadas pelos coletores do partido, reforçando os fatos narrados na reportagem. Os comentários estão disponíveis publicamente nas redes sociais do Intercept.
Importante lembrar o histórico recente de Arthur do Val: um ex-deputado cassado que perdeu seus direitos políticos por oito anos após ter áudios sexistas sobre mulheres ucranianas vazados.
Desta vez, ele e o MBL são novamente protagonistas de uma ação de intimidação suja, que mostra que, apesar da tentativa de lançar seu próprio partido, o movimento não abre mão de suas velhas táticas. Expor, constranger e ameaçar jornalistas são a marca do MBL, práticas não apenas incompatíveis com a liberdade de imprensa, mas também com a própria democracia em que o Partido Missão pretende atuar.
“Esse tipo de perseguição vai muito além da contestação de uma reportagem, aliás, na qual o MBL foi devidamente ouvido. Trata-se de uma manobra de desqualificação de profissionais de imprensa para que o que é reportado por eles, de interesse público, seja igualmente desqualificado”, disse a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, a Abraji, em uma nota divulgada na tarde desta quarta-feira. “Numa sociedade democrática, é uma estratégia perigosa que põe em risco o direito de informar e de ser informado, inflamando parte da sociedade contra jornalistas”.
O Intercept Brasil vem a público dizer que não aceita intimidações e que estará ao lado de Giovanni Pannunzio e de cada repórter ou jornalista do país atacado por aqueles que não suportam a existência do jornalismo investigativo.
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