Ataques de Israel no Líbano e em Gaza deixam rastro de destruição.

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Trégua de Israel no Líbano não é boa notícia para Gaza

Netanyahu concordou com um cessar-fogo entre Israel e Líbano, mas suas intenções continuam voltadas para a guerra

Ataques de Israel no Líbano e em Gaza deixam rastro de destruição.

Israel: estado genocida

Parte 11

Em um ano, Israel matou mais de 186 mil palestinos e aniquilou a infraestrutura de Gaza. Ao contrário do que a mídia hegemônica afirma, não se trata de uma "resposta ao ataque do Hamas" de 7 de outubro.


Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, anunciou na terça-feira à noite, em um pronunciamento televisionado, seu apoio a um acordo de cessar-fogo para interromper o combate de Israel no Líbano, transmitindo uma mensagem de vitória para seu público israelense. Ele falou sobre um Hezbollah diminuído pela campanha de Israel.

“Esse não é o mesmo Hezbollah — estamos há décadas oferecendo resistência”, disse Netanyahu, durante seu pronunciamento. “O Líbano não é o mesmo.” 

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Joe Biden, presidente dos EUA, se manifestou a favor do cessar-fogo no mesmo dia, um pouco mais tarde, e acrescentou que seu governo usaria o impulso do acordo de terça-feira entre Israel e o Hezbollah para avançar em um acordo de cessar-fogo em Gaza. Biden também culpou o Hamas pelo fracasso das negociações de paz em Gaza até agora, alegando que o grupo não teria negociado de boa fé, apesar das apurações em sentido contrário.

Mas o próprio discurso de Netanyahu aparentemente prejudicou o argumento de Biden. Ao defender o cessar-fogo para o público israelense, Netanyahu, que é procurado pelo Tribunal Penal Internacional por possíveis crimes de guerra, enfatizou que o fechamento da frente norte de sua guerra permitiria que os militares de Israel se reagrupassem, e daria ao país a oportunidade de se concentrar em outros inimigos: o Irã e o Hamas. Ele também enfatizou que Israel “manteria completa liberdade de ação militar”, e acrescentou que “caso o Hezbollah viole o acordo ou tente se rearmar, atacaremos decisivamente”.

Logo de saída, são raros os indícios de que o governo Netanyahu esteja interessado em algum tipo de paz duradoura no Líbano e em Gaza. 

‘Você não pode sair de Gaza se pretende construir assentamentos lá.’

Israel intensificou sua campanha de bombardeio contra o Líbano nos últimos dias, inclusive durante e após o anúncio do futuro cessar-fogo. Um dia antes do anúncio da trégua, ataques israelenses mataram pelo menos sete palestinos na Cidade de Gaza. Nos últimos dias, surgiram notícias de que as Forças de Defesa Israelenses estariam usando drones atiradores para atacar e matar civis. E como o fluxo de ajuda humanitária para Gaza foi sufocado por Israel, os especialistas alertam sobre “uma forte possibilidade de fome” nas áreas do norte de Gaza.

“O consenso no momento é que não há um acordo de cessar-fogo porque Netanyahu não quer um acordo de reféns — ele não quis porque pretende manter sua coligação unida, e a extrema direita quer reocupar Gaza“, diz Mairav Zonszein, analista sênior da organização International Crisis Group (Grupo de Crises Internacionais) com foco em Israel e Palestina. “Você não pode sair de Gaza se pretende construir assentamentos lá.” 

Ela conta que os israelenses estão questionando por que Netanyahu resolveu fechar um acordo com o Hezbollah, em vez de priorizar um cessar-fogo em Gaza, onde permanecem mais de 100 reféns israelenses. Moradores do norte de Israel também criticaram o acordo de terça-feira, dizendo que a campanha de Israel no Líbano não melhorou sua sensação de segurança perto da fronteira. Embora os ataques do Hezbollah tenham matado 45 cidadãos israelenses no norte de Israel e nas colinas de Golã ocupadas, as perdas para o Líbano têm sido espantosas.

Desde que Israel começou sua campanha no Líbano, em setembro, os ataques israelenses já mataram mais de 3.800 libaneses e feriram mais de 15.000, muitos deles, civis. Mais de um milhão de pessoas foram desalojadas no Líbano, incluindo mais de 500 mil refugiados sírios. Os militares israelenses destruíram vilarejos inteiros no sul do país. O custo da reconstrução está estimado em mais de 8 bilhões de dólares (46,5 bilhões de reais). 

‘[Israel] decidiu praticar crimes de guerra em seu vizinho unilateralmente, sem nenhum ganho estratégico aparente’

“Embora um cessar-fogo seja bem-vindo, e eu tenha implorado por ele desde o primeiro dia, e esteja aliviado porque ele está vindo, fica mais do que um gosto amargo na boca porque esse suposto acordo de cessar-fogo é basicamente um retorno ao status quo antes de toda essa operação”, diz Drew Mikhael, especialista em deslocamento e resolução de conflitos no Instituto Tahrir de Políticas do Oriente Médio.

“Aproximadamente 3 mil mortes conhecidas, famílias exterminadas de que nunca teremos notícia porque foram mortas no contexto do assassinato de Nasrallah, 1,5 milhão de pessoas desalojadas — tudo isso por quê?”, pergunta Mikhael. Israel “decidiu praticar crimes de guerra em seu vizinho unilateralmente, sem nenhum ganho estratégico aparente”, diz. 

Pelo acordo de terça-feira, o combate deveria cessar às 4h da manhã, hora local, na quarta-feira. Ao longo de um período de 60 dias, Israel deve retirar seus soldados do Líbano, enquanto o governo libanês assume o controle do sul do Líbano para restaurar uma zona tampão de segurança entre o Líbano e Israel. 

Essa zona existia, antes do conflito recente, como resultado de um acordo que entrou em vigor em 2006. Por esse acordo, a área era supervisionada pelas forças de paz da ONU, que Israel bombardeou reiteradamente durante o conflito em curso. Também como parte do acordo, o Hezbollah, o partido político e grupo militar xiita, está proibido de reconstruir sua capacidade militar ou se reafirmar no sul do país. 

Embora Biden afirme que o acordo deveria representar “uma interrupção permanente das hostilidades”, ele sustenta que “Israel tem o direito de se defender” caso suspeite que o Hezbollah está violando o acordo. Netanyahu assegurou que ainda lançará ataques no Líbano se isso acontecer. 

Zonszein considera que a trégua não significa que Israel esteja interessado na paz. Ela diz que o apoio contínuo dos EUA dá a Israel a capacidade unilateral de se mover livremente pelo Líbano, por terra, mar e ar. Manter a ameaça de violência contra o Líbano, e, como Netanyahu mencionou em sua fala, contra o Irã, é fundamental para a estratégia israelense, explica ela.

“Israel quer ser esse monstro furioso, é a percepção que busca, porque perdeu toda essa dissuasão e potência em 7 de outubro”, pondera Zonszein. “Então isso faz parte do que [Israel] quer vender: quer que as pessoas achem que o país é louco e meio desumano, que vai atacá-las, porque isso projeta poder.” 

Mikhael concorda. Netanyahu “precisa criar ilhas de insegurança ao seu redor”, diz, “ele só tem violência, insegurança e ansiedade para oferecer ao povo israelense”. 

Momento após o anúncio do acordo por Biden, caças israelenses atacaram Beirute mais uma vez. A campanha de bombardeio continuou nas horas que antecederam o cessar-fogo prometido.

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