Há 20 anos, o assassinato de 29 garimpeiros na terra indígena Roosevelt, em Rondônia, fez o povo Cinta Larga ganhar as manchetes no Brasil e no mundo. Mas, em vez de sua cultura única e sua história de resistência, o que se propagou nas notícias foi a fama de indígenas sanguinários e perigosos.
Até hoje, ninguém foi julgado pelo crime. Quatro dos 23 acusados pelo Ministério Público Federal, em 2014, já morreram. Dois foram removidos da ação e outros dois têm situação pendente – um por problemas de saúde e um por alegar ser menor de idade quando ocorreu o crime.
Em setembro deste ano, uma movimentação no processo trouxe mais uma reviravolta para o caso: alegando falta de provas, o próprio MPF se manifestou por não levar a júri oito dos 15 réus restantes, incluindo sete indígenas. Entre eles, está Nacoça Pio, que se tornou um porta-voz do seu povo por ser um dos caciques Cinta Larga na época do massacre.
Pio é também o fio-condutor da narrativa de um livro recém-lançado sobre a história do seu povo: When We Sold God’s Eye – Diamonds, murder, and a clash of worlds in the Amazon (Quando vendemos o olho de Deus – Diamantes, assassinato e um choque de mundos na Amazônia, em tradução literal para o português).
“De um lado, se pode comemorar o fato de que o MPF pediu para tirar essas pessoas da acusação. Mas, de outro, mostra que essas pessoas nunca deveriam ter sido acusadas desses crimes. Elas foram acusadas dos piores crimes imagináveis durante 20 anos. Essa mancha não se apaga de um dia para o outro”, afirmou Alex Cuadros, autor do livro, em entrevista ao Intercept Brasil.
Cuadros, que é jornalista e já escreveu para Bloomberg, The New Yorker e The Washington Post, passou seis anos no Brasil e fez 11 viagens até Espigão D’Oeste, em Rondônia, onde fica a Aldeia Roosevelt. O livro, que também revela detalhes inéditos do primeiro contato dos Cinta Larga com os “brancos”, já está à venda em inglês, mas ainda não tem previsão de ser lançado em português.
Além de investigar o massacre ocorrido em abril de 2004, a obra mostra, após centenas de horas de entrevistas com os indígenas, a história pregressa dos Cinta Larga até o marcante episódio – perpassada por descaso, desrespeito e violência com o povo indígena, incluindo os impactos do sangrento massacre do Paralelo 11 e intervenções do estado brasileiro para incorporar uma visão capitalista à cultura ancestral.
“A minha meta foi inverter a narrativa ocidental da Amazônia e contar a história da perspectiva dos próprios indígenas. Essas pessoas poderem contar o que vivenciaram é uma oportunidade única de se ter uma perspectiva, em primeira mão, sobre todos esses processos de dizimação que a gente conhece na história indígena”, disse Cuadros.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Intercept – Como o assassinato de 29 garimpeiros na terra indígena Roosevelt, em Rondônia, transformou a história do povo Cinta Larga? Depois de anos de pesquisa e conversas com esses indígenas, você considera justo este rótulo?
Alex Cuadros – Depois do massacre em 2004, os Cinta Larga ficaram conhecidos no Brasil como “índios assassinos”. Dois anos antes, vale dizer, o jornal O Globo já havia os citado como “barões do diamante”. Com algumas poucas exceções, a imprensa brasileira não mergulhou para contar toda a história deles.
São indígenas que só tiveram contato com o povo ocidental nos anos 1960. Não houve menção, por exemplo, ao fato de que eles foram vítimas de ataques de empresas seringueiras, garimpeiros e fazendeiros que queriam, como se dizia na época, “limpar a área” – ou seja, basicamente tirar os indígenas de lá para poder produzir ou se apropriar de recursos naturais das terras deles.
Tudo isso foi esquecido no meio do ultraje sobre esse massacre. E os Cinta Larga sentem isso até hoje. Lembro a primeira vez que visitei a Aldeia Roosevelt, em 2017, em que fui conversar com alunas entre 17 e 18 anos. Uma delas perguntou para mim: “Você não tem medo de vir aqui? Medo de que vão matar você?”.
Eles sentem vergonha dessa reputação de serem “indígenas assassinos” e “indígenas que mexem com coisas ilegais”. É verdade que um grupo pequeno dentro do povo Cinta Larga teve envolvimento no comércio de madeira e de diamantes, mas a grande maioria não teve nada a ver. E eles sentem muito esse preconceito, que dura até hoje.
E eles, sem dúvida, têm muita desconfiança de qualquer pessoa que chega de fora. Mas tem uma coisa que o Pio falou para mim: vários Cinta Larga queriam, na época, legalizar o garimpo na terra deles. O próprio Pio estava indo direto a Brasília para conversar com pessoas do governo sobre isso. Depois do massacre, ele falou que as portas se fecharam.
É uma mancha que segue até hoje.
E hoje se vê que os Cinta Larga não são um povo que recebe muito apoio de organizações não-governamentais, diferente de outros. Parte disso deve ser por conta dessa reputação de “pessoas que mexem com coisas ilegais” e cometeram um massacre. É uma mancha que segue até hoje.
Você vê relação entre o assassinato dos garimpeiros e a série de ataques violentos que o povo Cinta Larga sofreu antes disso, incluindo o massacre do Paralelo 11, em que mulheres e crianças indígenas foram mortas de forma cruel?
A primeira vez que os Cinta Larga vieram a ser conhecidos no Brasil foi nos anos 1960, quando uma de suas aldeias foi atacada e mulheres e crianças indígenas foram mortas brutalmente. Este massacre, na época, virou notícia internacional.
A Sunday Times Magazine, por exemplo, colocou o assunto na capa com a chamada “genocídio”, citando a política de expansão territorial do estado brasileiro na Amazônia e de como os indígenas brasileiros estavam sendo dizimados.
Então, há um contraste interessante entre os anos 1960, em que os Cinta Larga foram símbolos do genocídio contra os povos indígenas, e 2004, quando viraram símbolos de medos antigos de colonizadores, ou seja, sendo apontados como indígenas selvagens e violentos.
A tensão entre os Cinta Larga e os brancos é algo que começou já durante o primeiro contato, nos anos 1960?
A história do contato deles não é uma história de mera vitimização. Quando começaram a ver que os brancos tinham ferramentas de metal, os Cinta Larga começaram a se interessar muito em estabelecer relações amistosas com os forasteiros. Foi aí que eles começaram a perceber que, na região do Rio Roosevelt, havia grupos de garimpeiros buscando diamantes.
Na época, houve reuniões nas aldeias sobre o que fazer. Alguns falaram que, por já terem tido experiência com violência de garimpeiros e seringueiros, sugeriram atacar. Outros disseram para chegar em paz e atacar só se forem atacados. E os garimpeiros receberam e foram recebidos de forma amistosa pelos indígenas no final dos anos 1960.
Alguns dos Cinta Larga começaram a visitar os garimpeiros no Rio Roosevelt, trocar presentes. Os garimpeiros deram ferramentas de metal e eles retribuíram com colares. Até que, em certo momento, um grupo de Cinta Larga levou garimpeiros para uma das aldeias onde o garimpo de diamantes foi estabelecido. E eles acabaram levando doenças do mundo ocidental que os indígenas não tinham resistência.
Morreram muitos. Uma população de aproximadamente 1.500 indígenas, antes do contato, acabou caindo para 400 nos anos 1980. E essa questão mais complexa é muito importante para entender o que aconteceu depois.
E como os órgãos estatais que se diziam defensores dos povos indígenas atuaram neste contexto?
É preciso falar sobre a Fundação Nacional dos Povos Indígenas, a Funai, e o Serviço de Proteção aos Índios, o SPI. Desde a criação, com o marechal Cândido Rondon, o SPI tinha um desejo genuíno de querer salvar e proteger os indígenas, mas, ao mesmo tempo, era parte de uma estratégia do Estado de conquistar esses territórios e converter essas áreas em economicamente produtivas.
O próprio Rondon queria integrar o indígena à nação brasileira. Basicamente, ele – e vários outros da Funai mais tarde – tinha a intenção de “branquear” e converter o indígena brasileiro, ou seja, fazer ele parar de caçar e começar a produzir, ou seja, virar um cidadão economicamente produtivo.
Não foram só os garimpeiros que ofereceram ferramentas de metal a eles, mas a própria Funai e o SPI. Primeiramente, como sinal de amizade, mas depois para também mostrar o quão avançada era a civilização ocidental e criar uma dependência. Isso foi muito consciente. Depois, quando foi criada essa dependência, a Funai começou a ensinar que, para obter essas ferramentas e outras coisas, era preciso trabalhar.
A Funai mostrou as ferramentas, falou que precisavam trabalhar, mas nunca deu a eles uma forma de ganhar dinheiro de forma sustentável.
Os Cinta Larga sempre reclamaram disso em entrevistas comigo, dizendo que a Funai mostrou as ferramentas, falou que precisavam trabalhar, mas nunca deu a eles uma forma de ganhar dinheiro de forma sustentável.
Tem uma frase que cito no meu livro, do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro: “o estado brasileiro converteu o índio em pobre.” Antes, eles tinham poucas necessidades, fáceis de suprir. E, então, passaram a ter muitas, mas faltava dinheiro para pagá-las.
Nesse sentido, houve um momento muito importante na história do povo nos anos 1980. Após várias invasões de fazendeiros no território Cinta Larga, alguns guerreiros indígenas acharam um monte de mogno já cortado, umas 800 toras. Eles falaram para a Funai e um agente que não me falaram o nome disse a eles: “isso aí vale dinheiro, não deixem apodrecer, vocês tem que vender isso aí”.
Eles dizem que foi a Funai que ensinou a eles que madeira dá dinheiro. Foi aí que começaram a fazer parcerias com madeireiros brancos, pois tinham começado a querer e precisar de bens industrializados, do mundo ocidental, e porque queriam acessar serviços, como de saúde, nas cidades vizinhas. O fato de que eles começaram a virar capitalistas foi exatamente a intenção do governo desde o início.
Como esse viés e a resistência dos Cinta Larga pode ter impactado a investigação do assassinato dos garimpeiros?
Basicamente, acredito que tem a ver com racismo. A sociedade ocidental não consegue entender o indígena como um indivíduo complexo. Ela vê o povo Cinta Larga como um povo que são “todos a mesma coisa”, agem em conjunto, tem um chefe que manda como cacique absoluto. Isso é algo que nunca existiu.
Essa questão foi muito problemática nas acusações envolvendo o massacre de 2004. Primeiro, vale dizer que não há dúvida que alguns Cinta Larga, talvez junto com indígenas de outras etnias, participaram do massacre dos garimpeiros. Mas a acusação do Ministério Público Federal citou que os indígenas cometeram esse massacre motivados por ganância para monopolizar o comércio de diamantes na terra deles. Basicamente, isso é uma teoria, pois não existe prova concreta.
A sociedade ocidental não consegue entender o indígena como um indivíduo complexo.
O MPF sempre quis rebater a ideia de que foi um ato em defesa do território. Acredito que as evidências mostram que o massacre aconteceu, sobretudo, porque eles tinham medo de uma invasão. E é preciso lembrar a história deles de sofrer invasões, em que morreram muitas pessoas.
Pouco antes do massacre, houve uma invasão de garimpeiros na Grota do Sossego, que estava localizada em uma parte meio escondida do resto do garimpo. Essa invasão foi liderada por um homem conhecido como Baiano Doido, acusado de crimes violentos. Ele se gabava, segundo entrevistas que fiz, de ter matado gente em outros garimpos e sempre estava ameaçando os Cinta Larga.
Os indígenas tinham medo, pois esses garimpeiros estavam armados, o líder era um criminoso confesso. Por isso, eles chegaram a discutir o que fazer. Alguns líderes Cinta Larga sugeriram avisar a Funai e a Polícia Federal.
Outros lembraram de todas as mortes horríveis que tinham acontecido e sentiram que não podiam esperar algo acontecer, pois a invasão poderia crescer até tomar o território e matar os Cinta Larga. Então, tudo sugere que foi um ato motivado por medo de ser invadido.
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Isso pode ter contribuído para que indígenas que não tiveram relação com os assassinatos fossem acusados injustamente?
Vale pontuar que os Cinta Larga que eram contra qualquer violência contra os garimpeiros eram aqueles que tinham mais envolvimento com o garimpo. Esse foi um problema na acusação dos procuradores. É preciso lembrar que, após o que ocorreu em 2004, havia muita raiva na região entre os garimpeiros e suas famílias, e o caso virou notícia internacional.
Então, acho que teve muita pressão para acusar. Mas não havia prova do envolvimento no massacre em alguns casos – como de Nacoça Pio, personagem do meu livro. Não havia nenhuma prova de que ele estava no local. Tinha gente da Funai inclusive dizendo que ele estava na aldeia naquele dia e não participou de nada. Mas ele foi acusado de instigar e orquestrar o massacre. Só que a única prova que tinham é que ele era o cacique, sem entender como funciona a cultura Cinta Larga, que nunca teve um cacique único para o povo todo.
Você vê isso quando olha as transcrições dos depoimentos que a Polícia Federal coletou na época. Eles perguntavam qual era o papel do cacique, no sentido de ele mandar nos indígenas. Alguns falaram que o cacique era um líder, mas de uma forma bem vaga em relação ao que aconteceu. Porque, na prática, todo guerreiro Cinta Larga decide o que vai fazer individualmente.
Há algum outro momento que essa falta de conhecimento sobre a cultura Cinta Larga impactou na investigação?
Na jurisprudência brasileira, o laudo antropológico é um ponto importante no caso de crimes supostamente cometidos por indígenas. Neste caso do massacre, foram feitos três.
O primeiro, elaborado por duas antropólogas, menciona que o massacre foi uma reação à invasão territorial, mas, ao mesmo tempo, coloca o povo inteiro como monolítico e pontua que, por conta da tradição guerreira dos Cinta Larga, teria sido um contrassenso cultural eles não agirem contra esses invasores.
Ou seja, ao mesmo tempo que falam de reação à invasão territorial, não ponderam que havia parte do povo que era contra reagir com violência. É mais um exemplo de como a sociedade ocidental não consegue ver os Cinta Larga como indivíduos complexos.
Como você avalia a cobertura e o papel da imprensa no caso?
Foi muito sensacionalista. A imprensa brasileira sempre mostrou mais simpatia pelos garimpeiros do que pelos indígenas. Teve muitos garimpeiros que eram pessoas honestas, desempregadas e estavam tentando se manter. Mas outros eram criminosos e assassinos.
A Globo, por exemplo, chegou a falar que os caciques estavam ganhando mais dinheiro do que qualquer brasileiro não-indígena e do que indígenas da etnia deles. Foi a primeira vez que vi uma reclamação assim.
Nas matérias de negócio, nunca a Globo vai reclamar de o presidente ou fundador de uma empresa ou um bilionário ganhar milhares de vezes mais do que um trabalhador comum. Isso é mais um exemplo do racismo que guiou essa cobertura. Com poucas exceções, toda a história do povo Cinta Larga foi ignorada.
O que significa a recente decisão do MPF em pronunciar somente sete dos acusados?
Os procuradores que agora estão tocando o processo pediram para o juiz não pronunciar alguns dos acusados, reconhecendo que as evidências eram muito fracas. Isso mostrou que não há provas para acusar muitos dos indígenas, que o “ouvi dizer” e os testemunhos apresentados não eram suficientes.
o projeto do Estado brasileiro sempre foi desenvolver a Amazônia à custa da existência dos indígenas.
De um lado, se pode comemorar o fato de que o MPF pediu para tirar essas pessoas da acusação. Mas, de outro, mostra que essas pessoas nunca deveriam ter sido acusadas desses crimes. Elas foram acusadas dos piores crimes imagináveis durante 20 anos. Essa mancha não se apaga de um dia para o outro.
Diante de casos como esse, como você, que nasceu nos Estados Unidos, analisa a forma que o Brasil trata os povos indígenas?
Na colonização do Brasil, durante muito tempo, houve um projeto muito aberto de genocídio dos povos indígenas, que foi muito bem-sucedido. Depois, olhando para o século 20, claro que você tinha esforços para proteger os povos indígenas, mas o projeto do Estado brasileiro sempre foi desenvolver a Amazônia à custa da existência dos indígenas.
Muitas vezes, eles perderam a vida. Em outros casos, a meta era eliminar e apagar sua cultura. Hoje em dia, é claro que a estratégia da Funai mudou. Mas, na prática, o governo não investe na proteção dos povos isolados, por exemplo.
O Bolsonaro sempre é apontado como anti-indígena, mas também é verdade que, no governo Lula, há intenção de construir uma estrada que vai abrir mais áreas da Amazônia para o “desenvolvimento”. Então, é um projeto do Estado brasileiro bem consistente.
Há discursos bonitos e pessoas idealistas que querem proteger os indígenas e dar a eles uma forma de se sustentar, mas essas forças são bem pouco poderosas comparadas com este projeto do Estado brasileiro, do agronegócio e da mineração. Com Lula, melhorou, sem dúvida, mas tem uma contradição muito importante.
O seu livro não trata apenas do massacre de 2004, mas da história do povo Cinta Larga, sua cultura e sua resistência. Como foi essa experiência e o que mais lhe chamou atenção?
Essas pessoas poderem contar para a gente o que vivenciaram é uma oportunidade única de se ter uma perspectiva em primeira mão sobre todos esses processos de dizimação que a gente conhece na história indígena. E, também, sobre como foi, para eles, passar a lidar com o capitalismo, considerando que era um povo que não tinha conhecimento sobre isso, pois o conceito do dinheiro não existia.
Quando falei a eles que queria fazer um livro não só para tratar do garimpo, mas contar a história toda, do contato, da cultura, muitos gostaram da ideia. Então, o livro segue sobretudo o Pio, desde os anos 1960, quando ele era criança, até os dias de hoje. A primeira parte do livro conta qual era o mundo deles antes da chegada dos “brancos” através dos olhos de uma criança, o Pio, e os amigos dele.
A minha meta era inverter a narrativa ocidental da Amazônia, pois geralmente essas histórias do encontro entre essas duas culturas diferentes são contadas da perspectiva de um explorador branco. Eu quis inverter e contar da perspectiva dos próprios indígenas porque, certamente, esse encontro foi muito mais bizarro para eles.
Fiz centenas e centenas de horas de entrevistas com eles sobre esses momentos e outros, como a primeira vez que comeram comida salgada, que viram dinheiro, as experiências de tentar aprender português, entender o que é um governo e por aí vai.
Qual a importância de contar todas essas histórias?
Fiz 11 visitas no total, geralmente passando três semanas por lá em cada uma. Eu dormi muitas vezes na Aldeia Roosevelt. Queria me submergir o máximo possível na vida e na cultura deles. A última vez que estive lá faz algumas semanas, quando fui apresentar o livro para eles. Inclusive, levei um exemplar do livro e uma versão traduzida automaticamente para o português usando inteligência artificial.
Nesta visita, dois deles falaram assim: “nossas crianças não sabem a história dos avós deles”. Então, espero que o livro seja traduzido para português porque os próprios Cinta Larga falaram que isso pode ser um recurso para as crianças e a sua própria história. Hoje, as crianças têm acesso ao WhatsApp, por exemplo, mas as pessoas que guardam essas histórias dos Cinta Larga estão morrendo.
Lógico que, de certa forma, é um projeto impossível porque eu não posso entrar completamente na cabeça deles para contar tudo. Mas eu tentei representar o melhor que pude a visão deles.
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