Há exatos dois anos, o Brasil assistiu, perplexo, a uma tentativa de golpe de estado. As cenas de vandalismo e de atos terroristas no Congresso Nacional, no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal entraram para a história como um dos momentos mais sombrios da nossa democracia. Um biênio depois, a pergunta que permanece é: o que estamos fazendo para garantir que isso nunca mais aconteça?
A celeridade do STF para a punição dos envolvidos diretos, presos naquele próprio domingo fatídico, foi reconhecida internacionalmente, com destaque para o papel de protagonismo do ministro Alexandre de Moraes. E é inegavelmente positivo que, até o momento, 229 executores e 55 incitadores já tenham sido condenados. Mas o Brasil corre o risco de enxugar gelo se não enfrentar a raiz do problema: Jair Bolsonaro e seus financiadores.
O inquérito que investiga a tentativa de golpe de estado, pelo qual o ex-presidente foi indiciado pela Polícia Federal, não exclui a responsabilidade de Bolsonaro por aquele domingo que nunca acabou. Nem pode ignorar o papel de grupos de empresários que ficaram conhecidos por diversas alcunhas nos últimos anos, como a “Turma do Agro” e a “República de Sorriso”. Cada um desses grupelhos de endinheirados merece o mesmo que Bolsonaro: cadeia pelo que houve em 8 de janeiro.
Afinal, até o gramado da Esplanada dos Ministérios sabe que o plano que envolvia até mesmo o assassinato de Lula e Moraes em dezembro de 2022, e que seria bancado pelo agro, está diretamente conectado à massa de insandecidos que invadiu os prédios públicos em janeiro de 2023, igualmente financiada por empresários bolsonaristas. Bolsonaro e seus patrocinadores precisam ser punidos não só por um, mas pelos dois crimes.
É fato público e notório: a tentativa de golpe de Estado não foi espontânea.
Afinal, dois anos depois, é evidente que as declarações ambíguas de Bolsonaro sobre a democracia, seu desprezo pelas instituições e o uso sistemático de fake news criaram o terreno fértil para os atos de 8 de janeiro. É fato público e notório: a tentativa de golpe de Estado não foi espontânea, mas, sim, fruto de anos de desinformação, de manipulação política e de muito dinheiro jorrando nesse projeto.
Qualquer hesitação em tratar Bolsonaro como o mentor intelectual e líder máximo do 8 de janeiro enfraquece a democracia brasileira. A cada dia que passa, seus apoiadores veem na sua liberdade uma permissão para continuar alimentando o extremismo. Sem um desfecho firme, sem Bolsonaro atrás das grades, sem um punhado de empresários na cadeia, o país seguirá para sempre sob a sombra da instabilidade política.
O problema é que, enquanto o STF acelera julgamentos dos terroristas que participaram diretamente dos ataques, Bolsonaro se beneficia do ritmo mais lento de investigações e denúncias formais sobre suas responsabilidades no golpe.
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Para cada “Tia do Zap” presa, ainda está ali o ex-presidente rodando o Brasil, espalhando mentiras, minimizando o que houve em 8 de janeiro e até pedindo anistia para os golpistas. Teve até espaço na Folha de S.Paulo para escrever artigo em que supostamente defende a democracia. É esse o exemplo que fica: é possível ser golpista em liberdade.
A defesa da democracia exige mais do que discursos, simbolismos e heróis. Exige ações concretas e, sobretudo, velozes. Bolsonaro e seus empresários de estimação na cadeia o mais rápido possível, respeitando o devido processo legal, seria um recado claro: o Brasil não tolera tentativas de golpe e protege suas instituições. Até isso acontecer, não consigo proferir tal frase.
A liberdade do ex-capitão é um convite para que novos ataques sejam planejados.
Por ora, nos resta aguardar que a Procuradoria-Geral da República ofereça as denúncias cabíveis contra tudo o que fizeram Bolsonaro e seus asseclas – e que não deixe de conectar a trama golpista dos gabinetes aos atos de terror de dois anos atrás. Só aí que o STF poderá entrar em campo e, se tudo sair como se prevê, virão as condenações.
Sim, é preciso respeitar, com cuidado, cada passo do processo judicial. Mas o Brasil não pode esperar o próximo 8 de janeiro para punir Bolsonaro. A liberdade do ex-capitão é um convite para que novos ataques sejam planejados.
Temos uma oportunidade, e ela pode ser a última:
Colocar Bolsonaro e seus comparsas das Forças Armadas atrás das grades.
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