Orlando Calheiros

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Por que o governo está cada vez mais refém da direita?

Perdendo para fake news nas redes e sem mobilização, Lula 3 negocia em termos cada vez mais desiguais. Solução depende de comunicação, mas também de uma mudança estrutural da esquerda.

BRASÍLIA, DF, 03.02.2025: LULA-CONGRESSO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebe nesta segunda-feira (3), no Palácio do Planalto, os presidentes eleitos da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Os parlamentares assumiram no último sábado (1º) o comando das Casas do Legislativo. Os mandatos, de dois anos, vão até fevereiro de 2027. (Foto: Fatima Meira/Agência Enquadrar/Folhapress)

BRASÍLIA, DF, 03.02.2025: LULA-CONGRESSO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebe nesta segunda-feira (3), no Palácio do Planalto, os presidentes eleitos da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Os parlamentares assumiram no último sábado (1º) o comando das Casas do Legislativo. Os mandatos, de dois anos, vão até fevereiro de 2027. (Foto: Fatima Meira/Agência Enquadrar/Folhapress)
Foto: Fatima Meira/Agência Enquadrar/Folhapress

Diante da queda de popularidade do governo Lula e da chamada Crise do Pix, quando uma fake news de Nikolas Ferreira, impulsionada pelo Instagram da Meta, causou uma queda do uso da ferramenta bancária, o governo ainda hesita em como reagir. Coube à Erika Hilton fazer um vídeo viral desmentindo, enquanto o governo batia cabeça.

O problema não é apenas a comunicação. Antes fosse! A atuação desastrosa do governo durante a chamada Crise do Pix e sua reiterada incapacidade de gerir crises são sintomas de um problema que vai além da comunicação: é a expressão de um problema mais profundo.

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O resultado direto da aposta do governo em uma estratégia repisada, em um modelo desgastado de conciliação entre agendas que, por definição, são inconciliáveis: uma aliança, por exemplo, entre os interesses dos trabalhadores e as demandas de setores industriais, entre o desenvolvimento social e os interesses do mercado, entre a promoção da diversidade e as pressões de grupos conservadores.

O resultado? Uma espécie de estado contínuo de crise de identidade que não apenas mina, dia após o outro, a popularidade do governo, como a sua própria capacidade de governar. Tornando-o um alvo fácil para a rapinagem do Centrão e campanhas de desinformação da direita.

E escrevo esta coluna no momento em que mais de 100 deputados, inclusive parlamentares que pertencem à base do governo, assinam um pedido de impeachment, provavelmente, natimorto.

Aqui, como sempre, é necessário recorrer à história para entendermos o presente. Como todos sabem, essa aposta na conciliação não é nenhuma novidade quando se trata das gestões petistas.

Desde o primeiro governo Lula – de fato, desde antes –, a estratégia sempre foi a de costurar alianças com setores historicamente antagônicos. Acreditava-se que um projeto desenvolvimentista consistente, o crescimento da nação, seria suficiente para mediar os conflitos entre os contrários.

Todos estariam bem enquanto fosse um bom negócio para todo mundo. Funcionou até deixar de funcionar.

O governo de Dilma Rousseff expôs os limites desse projeto já em seu primeiro mandato, quando ficou claro que a sanha pelo poder de alguns destes setores não seria contida por ganhos financeiros. E que quem me lê tenha em mente que não estou falando de manobras ilegais.

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A solução desesperada para frear o avanço golpista foi convocar Lula, como um Messias político, para salvar o barco à deriva. Não deu certo. O então ex-presidente foi impedido e o governo de Dilma caiu, vítima de um golpe promovido e financiado por setores que foram amplamente beneficiados pelo seu governo, como o agronegócio.De fato, setores que formavam a base de seu próprio governo.

Desde então, uma pergunta nos persegue: não tivesse sido impedido em 2016, Lula teria revertido a escalada conservadora? É factível imaginar que um único homem, por mais carismático e astuto que fosse, seria capaz de desmantelar o conluio entre militares, judiciário, agro, mercado e grupos conservadores ávidos pelo poder? A resposta me parece óbvia, inclusive para o próprio Lula, que afirmou categoricamente que seria incapaz de impedir o impeachment da ex-presidenta.

Contudo, essa constatação, um tanto óbvia, não impediu que o seu terceiro governo investisse na mesma estratégia, revisando o tom messiânico de sua convocação ministerial de outrora. Mais uma vez, repetiu-se a aposta de que o presidente Lula seria capaz de, sozinho, pela sua mera presença, carisma e astúcia, desmantelar o conluio de forças conservadores que tomou conta do país nos últimos anos, de cooptá-las para um novo projeto comum de desenvolvimento da nação brasileiro.

Não tem funcionado. Em larga medida, pois o Brasil de 2025 não é o mesmo de 2002.

A sociedade mudou. E muito! Os grupos conservadores de outrora, os mesmos que aceitaram participar dos primeiros governos Lula, que se beneficiaram de suas políticas desenvolvimentistas, que foram contemplados pela sua diplomacia conciliatória, muitos deles já não se satisfazem mais com um papel secundário na política. Querem mais do que apenas serem contemplados pela política, querem controlá-la. Desejam estar no centro do poder, desejam propriamente governar!

Um desejo que se ancora na capacidade desse conluio de manipular e surfar na insatisfação dos “endividados”, os “novos pobres” do Brasil. Estes que, diferente dos famélicos e pobres do passado, não se sentem contemplados pelas ações do governo voltadas para, justamente, os mais pobres. As mesmas que, no passado, garantiram a Lula uma ampla margem de aprovação popular, especialmente ao fim de seu segundo mandato.

Dito de outra forma, o PT e Lula, que nos anos 1990 e 2000 souberam canalizar tão bem a fome literal do povo, transformando-a em revolta política, hoje não conseguem dialogar com a fome simbólica de uma classe trabalhadora endividada, asfixiada pela diminuição de seu poder de compra e consumo.

E é aqui, justamente, que aparecem os problemas de comunicação do governo. As estratégias adotadas até o momento não tem se mostrado capazes de angariar e manter o apoio da população, especialmente dos “endividados”.

Não há grandes esforços na segmentação da mensagem, na consolidação de novos interlocutores capazes de alcançar públicos distintos, em novas linguagens e mídias. Há, apenas – e quando há – uma aposta na palavra e na imagem do presidente Lula, na esperança de que, mais uma vez, ele sozinho seja capaz de fazer algo acontecer, de mobilizar a população contra o conluio conservador.

O governo se percebe encurralado no Planalto. Incapaz de reverter o jogo por meio da pressão popular, se vê, mais uma vez, obrigado a negociar com aqueles que “representam” a insatisfação da população. Justamente com os políticos que representam o conluio conservador.

Percebem o tamanho do problema? Se antes o governo negociava com esses setores conservadores tendo a pressão popular ao seu favor, agora o faz em termos cada vez mais desiguais. Lula, sozinho, não será capaz de reverter esse quadro, como nunca foi.

Ao contrário do que se imagina, Lula não governou sozinho. O sucesso de seus governos anteriores, inclusive do seu projeto de conciliação, foi, em larga medida, o resultado de um esforço coletivo, do trabalho de pessoas que iam de José Dirceu a anônimos que atuavam na base.

O campo progressista atuava em uma espécie de – com o perdão do oxímoro – consonância dissonante que lhe garantia um poder de barganha diante dos setores conservadores.

Uma consonância dissonante que se dissolveu ao longo dos últimos anos, seja pelo abandono do “trabalho de base”, e aqui se inclui a renovação das estratégias de comunicação, por parte dos setores progressistas, seja pela ossificação partidária que impede a renovação dos quadros políticos, tornando-os mais alinhados com a população, e pelo fortalecimento da tendência autofágica do próprio campo, cada vez mais comprometido com disputas internas do que com a construção de um projeto verdadeiramente coletivo.

O descompasso do nosso campo explica as crises recentes do governo, mas também o fracasso retumbante da esquerda nas eleições municipais. E isso só irá mudar quando ocorrer uma mudança estrutural na própria forma como as esquerdas se organizam. Uma mudança que passa pela compreensão de que Lula é apenas um homem e não um messias reencarnado capaz de continuamente redimir a esquerda de seus pecados.

Temos uma oportunidade, e ela pode ser a última:

Colocar Bolsonaro e seus comparsas das Forças Armadas atrás das grades.

Ninguém foi punido pela ditadura militar, e isso abriu caminho para uma nova tentativa de golpe em 2023. Agora que os responsáveis por essa trama são réus no STF — pela primeira e única vez — temos a chance de quebrar esse ciclo de impunidade!

Estamos fazendo nossa parte para mudar a história, investigando e expondo essa organização criminosa — e seu apoio é essencial durante o julgamento!

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