João Filho

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Extrema direita brasileira abana o rabinho para Trump, mas nenhum vira-lata será salvo por ele

Nada indica que o judiciário do Brasil se curvará à pressão política externa ou que Trump gastará energia para livrar Bolsonaro e sua gangue de golpistas.

Bolsonaro observa a partida da sua mulher Michelle Bolsonaro para acompanhar a posse de Donald Trump (Foto: Mateus Bonomi/AGIF/Folhapress)

Bolsonaro observa a partida da sua mulher Michelle Bolsonaro para acompanhar a posse de Donald Trump (Foto: Mateus Bonomi/AGIF/Folhapress)
Bolsonaro observa a partida da sua mulher Michelle Bolsonaro para acompanhar a posse de Donald Trump, em janeiro (Foto: Mateus Bonomi/AGIF/Folhapress)

A eleição de Donald Trump foi a maior vitória do bolsonarismo nos últimos tempos. Num momento em que golpistas foram para a cadeia e vários outros fazem fila para entrar, ter de volta o apoio do Tio Sam foi um alívio. Nos sonhos delirantes da nossa extrema direita de porta de cadeia, a vitória de Trump pode abrir o caminho para uma anistia aos golpistas e a reversão da inelegibilidade de Bolsonaro. 

Ao The New York Times, Bolsonaro não disfarçou a excitação: “Estou me sentindo uma criança novamente com o convite de Trump. Estou animado. Não tomo mais nem Viagra”. O ex-presidente não conseguiu comprovar que o convite era verdadeiro, mas o viralatismo explícito foi genuíno. 

O americano volta para o segundo mandato ainda mais confiante, já que foi eleito mesmo após liderar uma invasão golpista ao Capitólio que resultou em quebra-quebra e morte. É o primeiro presidente da história dos EUA condenado por crimes federais. Além do respaldo das urnas, o projeto de Trump conta ainda com o apoio declarado e desavergonhado das big techs. Esse conjunto de fatores permite que ele pise com ainda mais força no acelerador do banditismo e do nazifascismo do século XXI. A tragédia está anunciada e a distopia, só começando.

Como um chimpanzé bêbado jogando War, Trump iniciou uma guerra comercial sem sentido com vários países — inclusive com os tradicionais aliados — e deixou claro para o mundo o seu viés nazifascista em temas como imigração e o massacre em Gaza. Esses primeiros dias da administração Trump jogaram água no chope da festa bolsominion. Cidadãos brasileiros deportados foram algemados e agredidos por agentes dos EUA, fazendo até mesmo o deputado Nikolas Ferreira, do PL de MG — um dos vira-latas complexados que mais abana o rabinho para Trump — chamar de “erro grave” e admitir que houve violação dos direitos humanos

A alegria deu lugar ao constrangimento entre os políticos bolsonaristas, que estão tendo que rebolar para manter alguma coerência narrativa entre o seu patriotismo de fachada e o “Make America Great Again” colocado em prática. Como ser patriota e, ao mesmo tempo, defender maus tratos aos brasileiros? Como ser ultraliberal e defender políticas protecionistas agressivas? Trata-se de uma tarefa complicada até mesmo para esses magos da retórica nonsense.

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Perdidos, parlamentares bolsonaristas encontraram nesta semana uma bóia salva-vidas para se segurar, ou melhor, uma mamadeira de piroca para mamar. Um desses americanos doidinhos que integram a fauna nazifascista dos EUA colocou na praça uma nova teoria da conspiração para adoçar a boca do bolsonarismo. Segundo Michael Benz, um famoso troll da extrema direita americana que trabalhou no primeiro governo Trump, Bolsonaro “ainda seria presidente no Brasil” não fosse a interferência da USAID — a agência do governo voltada para o desenvolvimento internacional e que financia organizações não governamentais no mundo todo recém-dissolvida por Trump. 

Benz afirmou, de maneira categórica, que a agência teve “papel crucial” nas últimas eleições e que financiou esforços para controlar informações e censurar mensagens de apoio a Bolsonaro. Obviamente, ele não forneceu um mísero indício para sustentar essas afirmações.

A conspiração foi divulgada durante uma entrevista dada a Steve Bannon, o guru internacional das fake news. Não poderia ser mais simbólico. Michael Benz é mais uma dessas aberrações midiáticas dos novos tempos que circula entre o famoso grupinho da extrema direita composto por Alex Jones, Joe Rogan, Tucker Carlson e outros célebres disseminadores de fake news. 

A mentira de Benz foi impulsionada por Elon Musk, virou hit entre o núcleo bolsonarista e levou vários parlamentares a compartilhar trechos da entrevista. Além de Bolsonaro e seus filhos, Julia Zanatta, Helio Lopes, Carlos Jordy e muitos outros engrossaram o coro conspiratório. O site Poder360, que cada vez menos disfarça o alinhamento editorial ao bolsonarismo, escolheu esse enquadramento para uma reportagem sobre o assunto a manchete “Bolsonaro era visto como ‘Trump tropical’ pela USaid”, com a submanchete “Ex-secretário de Trump, Michael Benz também afirmou que a agência influenciou no resultado das eleições de 2022 no Brasil”. 

O site trata com a maior credibilidade a declaração de um notório arruaceiro que trabalhou como um irrelevante secretário adjunto por menos de dois meses na área de política de informação do primeiro governo Trump. Depois dessa breve passagem, Benz, que é advogado de formação, passou a se apresentar como especialista em tecnologia, censura e ciberpolítica. O fato é que ele não passa de mais um extremista conhecido por divulgar vídeos racistas, antissemitas e se associar com grupos neonazistas. 

Até pouco tempo, Benz administrava um perfil anônimo nas redes sociais que disseminava teorias conspiratórias e defendia abertamente o supremacismo branco. Chamado de “Frame Game”, o perfil culpou os judeus por “controlar a mídia” e pelo declínio da raça branca. “Se não fosse a influência judaica no Ocidente, os brancos não enfrentariam a ameaça de genocídio branco que enfrentam hoje”, afirmou Michael Benz, protegido pelo anonimato. É esse o tipo de delinquente que hoje o jornalismo declaratório do Poder360 fez questão de destacar como fonte de credibilidade.

“Não haverá pressão externa que interfira nos rumos tomados pela nossa democracia”

Não é de agora que Michael Benz fabrica teorias da conspiração sob medida para o bolsonarismo. Em setembro do ano passado, por exemplo, ele afirmou que o Departamento do Estado dos EUA interferiu nas eleições brasileiras e alegou que as urnas eletrônicas foram construídas pelo governo americano. Tudo comprovadamente mentira, claro. O roteiro que se seguiu foi o mesmo: o conteúdo foi impulsionado por Elon Musk e caiu nas graças dos políticos bolsonaristas.

O mundo se tornou um lugar mais perigoso com Trump como presidente dos EUA. Iniciou-se uma distopia com tendências nazifascistas apoiadas pelas big techs. Mesmo assim, o bolsonarismo não deveria sonhar tão alto. Nada indica que o judiciário brasileiro se curvará à pressão política externa ou que Trump gastará energia para salvar um aliado barnabé latino-americano da cadeia. O desdém com que o núcleo trumpista tratou a comitiva bolsonarista na festa de posse é um indicativo claro.

Aos olhos de Trump, Bolsonaro é só um “cucaracha” que eventualmente lhe pode ser útil. O fato é que, ainda que lentamente, Bolsonaro e sua gangue de golpistas continuam andando em direção à cadeia e não haverá pressão externa que interfira nos rumos tomados pela nossa democracia. Trump, Musk e cia podem até nos infernizar com discursos agressivos, tweets provocativos e teorias da conspiração, mas dificilmente haverá algo além disso. 

Lembremos como Musk colocou o rabinho entre as pernas e respeitou o judiciário brasileiro depois de passar meses provocando. Mesmo sabendo de tudo isso, não há dúvidas de que os bolsonaristas continuarão lambendo o Tio Sam em troca de migalhas. Nós conhecemos a fidelidade dos nossos vira-latas.

JÁ ESTÁ ACONTECENDO

Quando o assunto é a ascensão da extrema direita no Brasil, muitos acham que essa é uma preocupação só para anos eleitorais. Mas o projeto de poder bolsonarista nunca dorme.

A grande mídia, o agro, as forças armadas, as megaigrejas e as big techs bilionárias ganharam força nas eleições municipais — e têm uma vantagem enorme para 2026.

Não podemos ficar alheios enquanto somos arrastados para o retrocesso, afogados em fumaça tóxica e privados de direitos básicos. Já passou da hora de agir. Juntos.

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