O jornalista Paulo Motoryn, editor e repórter do Intercept Brasil em Brasília, está recebendo incessantes ameaças de morte e violência física desde a última quinta-feira, 13, quando publicou uma reportagem sobre um golpista condenado pelo 8 de janeiro que está na Argentina.
Na reportagem, mostramos que Josiel Gomes de Macedo, condenado a 16 anos de prisão por incendiar uma viatura e comprar equipamentos militares para a tentativa de golpe de estado, vive tranquilo e impune em Buenos Aires apesar de ter um mandado de prisão aberto no Brasil.
Segundo o Supremo Tribunal Federal, o paradeiro de Josiel era desconhecido desde que ele quebrou a tornozeleira, após a condenação em junho de 2024.
A reportagem escancara não apenas a leniência das autoridades argentinas em relação a um condenado pelo 8 de Janeiro – mas também a tensão diplomática entre os governos do Brasil e o da Argentina.
Jair Bolsonaro e seu filho, Eduardo, deputado federal pelo PL de São Paulo, se envolveram pessoalmente no caso, com apelos para que o governo de Javier Milei dê asilo político aos golpistas brasileiros.
Ataques violentos como esse são uma tentativa de intimidar e sufocar o jornalismo que tem coragem de bater de frente com o bolsonarismo.
Depois da nossa reportagem, foi justamente um retuíte de Eduardo Bolsonaro que fez crescer a onda de ódio contra Motoryn e o Intercept. Além dele, outras personalidades e figuras públicas destilaram xingamentos, como “Judas” e “rato”, e incitaram ódio ao dizer, por exemplo, que Motoryn “desperta instintos primitivos”.
O próprio Josiel, em uma live, também fez ameaças ao repórter. “Todo mundo agora, a partir de agora, está de olho em você. Já sabe quem é você. Já sabe o que você fez. E também vão atrás de você. Você pode ter certeza disso”, ele disse.
Mas não parou por aí. Sobretudo no X, bolsonaristas partiram para ameaças mais agressivas. “Vamos arrancar sua cabeça”, “tu vai implorar pela anistia” e “merece um banho bem dado com água sanitária” são algumas das ameaças gravíssimas, que incluíram posts com endereço e informações pessoais do jornalista, além de menções a membros da sua família.
A campanha foi orquestrada por uma rede de defensores dos golpistas, que inclui emissoras de rádio e televisão e perfis influentes, além de políticos e outras personalidades. Além de escancarar a estrutura de proteção da extrema direita aos golpistas de 8 de Janeiro, também evidencia que esse grupo é capaz de atos violentos e criminosos para fazer valer sua posição política.
Para quem alega que essas pessoas são “vítimas” e “reféns”, causa surpresa que apelem para violência tão rapidamente por causa de uma reportagem.
Mas nós não toleraremos. Um boletim de ocorrência foi registrado, e o Intercept já encaminhou à polícia os posts com ameaças, verificados com uma ferramenta forense, como provas. Esse tipo de ataque ao nosso trabalho e a um membro de nossa equipe é inadmissível.
Como a história já mostrou, se aceitarmos a impunidade, aceitaremos também esse tipo de ameaça violenta como regra.
Ao contrário de Josiel e outros golpistas condenados, Paulo Motoryn está fazendo o seu trabalho: revelar fatos de interesse público. Ataques violentos como esse são uma tentativa de intimidar e sufocar o jornalismo que tem coragem de bater de frente com o bolsonarismo e chamar essas pessoas pelo que elas são: golpistas que tentaram derrubar o estado de direito no Brasil.
Nós, mais uma vez, seguiremos fazendo o nosso trabalho, mostrando como essa rede se articula, se financia e ataca seus adversários. Agora, com ainda mais elementos sobre a violência e a organização desse grupo.
Por que, como a história já mostrou, se aceitarmos a impunidade, aceitaremos também esse tipo de ameaça violenta como regra. Criminosos devem ser punidos, como prevê a lei, e pagar pelo que fizeram. Neste caso, as vítimas foram o nosso editor e o nosso jornalismo. Mas a ameaça é maior e paira sobre todos nós que lutamos para garantir que nosso país seja livre e seguro para todos.
JÁ ESTÁ ACONTECENDO
Quando o assunto é a ascensão da extrema direita no Brasil, muitos acham que essa é uma preocupação só para anos eleitorais. Mas o projeto de poder bolsonarista nunca dorme.
A grande mídia, o agro, as forças armadas, as megaigrejas e as big techs bilionárias ganharam força nas eleições municipais — e têm uma vantagem enorme para 2026.
Não podemos ficar alheios enquanto somos arrastados para o retrocesso, afogados em fumaça tóxica e privados de direitos básicos. Já passou da hora de agir. Juntos.
A meta ousada do Intercept para 2025 é nada menos que derrotar o golpe em andamento antes que ele conclua sua missão. Para isso, dependemos do apoio de nossos leitores.
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