O plano da extrema direita para dominar o Senado tem um número mágico: 16. Ele indica as cadeiras que faltam para garantir a maioria no plenário e a presidência da Casa a partir de 2027, o que abre caminho para ter em mãos poderes exclusivos da casa legislativa, como o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, o STF.
A matemática é simples. Na eleição de 2022, a extrema direita levou 14 das 27 cadeiras em disputa – o levantamento do Intercept Brasil considera que pertencem ao grupo aqueles que foram eleitos pelos partidos PL, PP, Republicanos e Novo. Como os mandatos de senador são de oito anos, os eleitos há quatro anos seguem no posto até 2030. Vale lembrar que, caso a fusão do PP com o União Brasil se concretize, o cenário fica ainda mais complicado, pois o bloco fica turbinado pelo Centrão em uma ‘superfederação’ partidária.
Portanto, para chegar aos 41 senadores – a maioria absoluta do Senado, que têm 81 membros –, a extrema direita terá de vencer 27 das 54 cadeiras disponíveis em 2026. Como vai tentar a reeleição em 11 delas, precisará conquistar 16 que ainda não tem. Mas onde estão essas vagas e qual é o caminho possível para chegar lá? Nós desenhamos o mapa do perigo.
Na prática, a ambiciosa estratégia – que inclusive já foi revelada publicamente por aliados de Bolsonaro – passa por ganhar as duas vagas ao Senado em todos os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Nestas regiões, os partidos de extrema direita hoje têm apenas cinco das 22 cadeiras que estarão em jogo em 2026. Se ganharem tudo, o objetivo estará alcançado.
O plano, é claro, também mira vitórias em outras duas regiões. No Nordeste, principal reduto de Lula na vitória contra Bolsonaro em 2022, a extrema direita já tem três senadores e seus líderes falam publicamente em subir para cinco, como projetou o presidente do PP Ciro Nogueira.
Já no Norte, ainda segundo Nogueira, a ideia é abocanhar ao menos sete das 14 vagas disponíveis – hoje, a extrema direita já é dona de três cadeiras. Um caminho para isso passa por Roraima, Rondônia e Acre, onde Bolsonaro venceu Lula com mais de 70% no segundo turno das eleições de 2022.
Na prática, o sonho da extrema direita em dominar o Senado pode virar realidade se concretizar seu favoritismo no Sul, Sudeste e Centro-Oeste – onde pode ganhar até 17 novas vagas. Mas, caso não gabarite essas regiões, ainda tem no horizonte seis cadeiras extras no Norte e Nordeste para chegar ao número mágico almejado por Bolsonaro.
Confira o cenário e as apostas da extrema direita nas regiões:
SUL
- 6 vagas em jogo
- 4 no alvo
- 2 já pertencem à extrema direita
Rio Grande do Sul
Luis Carlos Heinze, do PP, e Paulo Paim, do PT, encerram seus mandatos em 2026. Heinze, que integra a extrema direita, deve tentar a reeleição. Ele ficou conhecido por ser um negacionista climático, defender o uso de cloroquina na CPI da Covid e já ter dito que índios, gays e quilombolas “não prestam”.
Paim, entretanto, já afirmou que não concorrerá, o que garante que o estado mudará um de seus representantes no Senado a partir de 2027.
Entre as opções aventadas pela extrema direita para abocanhar a vaga de Paim, estão os deputados federais Marcel Van Hattem, do Novo, Coronel Zucco, do PL, e Osmar Terra, que vai trocar o MDB pelo PL. Em 2022, o RS elegeu para o Senado Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, com 44% dos votos.
Santa Catarina
Os dois senadores em fim de mandato são Esperidião Amin, do PP, e Ivete Silveira, do MDB, que assumiu em 2023 por ser suplente de Jorginho Mello, do PL, que deixou o cargo porque foi eleito governador do estado. Em 2022, SC elegeu Jorge Seif, do PL, para o Senado com 39,8% dos votos.
A extrema direita conta com a reeleição de Amin e, para a segunda vaga, tem ganhado força o nome da deputada federal Carol de Toni, do PL, que presidiu a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e é alinhada ao bolsonarismo. Outra alternativa é a também deputada federal Julia Zanatta, do PL.
Paraná
É o único estado do Sul em que a extrema direita não tem um candidato mirando a reeleição. Os senadores do Paraná em fim de mandato são Flávio Arns, do PSB, e Oriovisto Guimarães, do PSDB. Guimarães já disse que não vai disputar a reeleição, o que abre vaga para um novo representante. Em 2022, o Paraná elegeu Sergio Moro senador, com 33,5% dos votos.
Uma das opções ventiladas pela extrema direita para abocanhar uma das vagas de senador é o deputado federal Filipe Barros, do PL. Outra é Cristina Graeml, do Podemos, que surpreendeu e chegou ao segundo turno na eleição municipal em Curitiba.
O atual governador Ratinho Junior, do PSD, que apoiou a Bolsonaro em 2022, pode tentar o Senado se sua candidatura presidencial não decolar. Embora não pertença a um partido de extrema direita, ele tem a simpatia de aliados do ex-presidente.
SUDESTE
- 8 vagas em jogo
- 6 no alvo
- 2 já pertencem à extrema direita
Rio de Janeiro
Os dois senadores em fim de mandato são da extrema direita e do PL: Flávio Bolsonaro e Carlos Portinho, suplente de Arolde de Oliveira, que morreu em 2020. Ambos devem tentar a reeleição no ano que vem.
Outro nome que pode surgir na disputa é o do governador Cláudio Castro, também do PL. Sem chance de tentar um novo mandato a governador, ele tem sido sondado como um possível candidato para o Senado em 2026.
O Rio de Janeiro, onde Bolsonaro representou por sete mandatos consecutivos na Câmara, reelegeu em 2022 o senador Romário, também do PL, com 29,19% dos votos. É o único estado em que todos os senadores são da extrema direita.
São Paulo
Os senadores em fim de mandato não são de partidos da extrema direita: Mara Gabrilli, do PSD, e Alexandre Giordano, do MDB, suplente de Major Olímpio, que morreu em 2021 vítima de covid-19. O astronauta Marcos Pontes, do PL, foi eleito senador pelo estado em 2022, com 49,7% dos votos.
A estratégia da extrema direita passa por uma dobradinha liderada por Eduardo Bolsonaro, atual deputado federal pelo PL – isso caso ele não seja alçado à disputa presidencial devido à inelegibilidade do pai, Jair Bolsonaro.
O segundo nome ainda está em aberto, mas também deve ser do PL. O mais cotado é Guilherme Derrite, secretário estadual de Segurança Pública no governo Tarcísio. Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro e filiado ao Novo, é outra alternativa e já manifestou a intenção em diversas oportunidades.
Minas Gerais
Carlos Viana, do Podemos, e Rodrigo Pacheco, do PSD, que presidiu o Senado, terminam seus mandatos em 2026. Enquanto Viana deve ir à reeleição, Pacheco é cotado para concorrer ao governo do estado, o que deixaria sua vaga em aberto.
Uma das opções da extrema direita seria o deputado federal Nikolas Ferreira, do PL, que declarou recentemente que o Senado “encaixaria como uma luva”. Só que ele não tem 35 anos, idade mínima para ser senador. Apesar disso, Nikolas ainda alimenta a esperança de uma mudança na lei até a eleição de 2026 para concorrer.
Sem o deputado federal, Bolsonaro tem uma aposta pessoal no radar: Paulo Guedes, ex-ministro da Fazenda. Outros nomes ventilados são os dos deputados federais Eros Biondini e Maurício do Vôlei, ambos do PL, e até mesmo do atual governador Romeu Zema, do Novo, que já foi reeleito e não pode disputar um novo mandato.
Espírito Santo
Os dois senadores em fim de mandato no próximo ano são Marcos do Val, bolsonarista fiel, mas filiado ao Podemos, e Fabiano Contarato, do PT. Em 2022, o estado elegeu para o Senado Magno Malta, do PL, com 41,95% dos votos.
Malta tem encampado a candidatura do deputado federal Gilvan da Federal, do PL. Mas Bolsonaro estaria incentivando o também deputado Evair de Melo, do PP, a entrar na disputa. No estado, o atual governador Renato Casagrande, do PSB, tem sido apontado como um dos favoritos, o que pode dificultar o plano da extrema direita em conquistar as duas vagas.
CENTRO-OESTE
- 8 vagas
- 7 no alvo
- 1 já pertence à extrema direita
Distrito Federal
Estão em fim de mandato os senadores Izalci Lucas, do PL, e Leila do Vôlei, do PDT. Em 2022, o Distrito Federal elegeu Damares Alves, do Republicanos, com 44,98% dos votos.
Izalci Lucas, que já é da extrema direita, deve concorrer à reeleição. Quem também se coloca no páreo é a deputada federal Bia Kicis, do PL, e o atual governador do DF, Ibaneis Rocha, que é filiado ao MDB, mas alinhado ao bolsonarismo.
Os três sonham com a possibilidade de fazer uma dobradinha na campanha ao Senado com Michelle Bolsonaro, do PL. A ex-primeira-dama é um dos principais nomes do clã bolsonarista e, caso concorra, deve encabeçar a chapa. Mas ela ainda não confirmou se vai disputar uma vaga no Senado – Michelle também é cogitada para outros cargos em 2026.
Goiás
Vanderlan Cardoso, do PSD, e Jorge Kajuru, do PSB, encerram seus mandatos em 2026. Nenhum dos dois pertence a um partido da extrema direita. Em 2022, Goiás elegeu Wilder Morais, do PL, para o Senado, com 25,25% dos votos.
Os nomes mais cotados da extrema direita são o do deputado federal Gustavo Gayer, do PL, e o do ex-deputado e atual vereador de Goiânia, Major Vitor Hugo, também do PL. Mas há um racha entre as candidaturas de ambos, na esteira do confronto entre Bolsonaro e Ronaldo Caiado, do União Brasil, atual governador de Goiás e pré-candidato a presidente.
À parte neste duelo, há um terceiro nome: Gracinha Caiado, do União Brasil, esposa do governador. A avaliação é que a primeira-dama tem se destacado em sondagens de intenção de voto, o que aumenta as chances de concorrer em 2026.
Mato Grosso do Sul
Os senadores em fim de mandato são Nelsinho Trad Filho, do PSD, e Soraya Thronicke, do Podemos, nenhum de partidos da extrema direita. Em 2022, o Mato Grosso do Sul elegeu Tereza Cristina, do PP, ex-ministra da Agricultura no governo Bolsonaro, com 60,85% dos votos.
A mais cotada para representar o bolsonarismo na disputa ao Senado é Gianni Nogueira, do PL, vice-prefeita de Dourados e esposa do deputado federal Rodolfo Nogueira, também do PL.
Outra opção é o ex-governador Reinaldo Azambuja, que tem alinhamento com Bolsonaro e poderia migrar do PSDB ao PL. Como são duas vagas, ainda há a possibilidade de Bolsonaro se aliar à Tereza Cristina, apesar do abalo na relação entre os dois, e apoiar uma candidatura de direita do PP.
Mato Grosso
Estão em fim de mandato Jayme Campos, do União Brasil, e Carlos Fávaro, do PSD, atual ministro da Agricultura de Lula. Em 2022, os matogrossenses reelegeram Wellington Fagundes, do PL, com 63,54% dos votos.
Entre as opções da extrema direita que contam com o aval de Bolsonaro, está o produtor rural Antonio Galvan, que já presidiu a Associação Brasileira dos Produtores de Soja, Aprosoja Brasil.
Outro nome é o atual governador Mauro Mendes, do União Brasil, que não pode tentar um novo mandato. Quem também está no páreo por uma indicação é o atual deputado federal e ex-senador José Medeiros, do PL.
NORTE
- 14 vagas
- 7 no alvo
- 3 já pertencem à extrema direita
A extrema direita deve trabalhar pela reeleição dos três senadores que já têm na região, todos filiados ao PL: Marcos Rogério, em Rondônia, Mecias de Jesus, em Roraima, e Eduardo Gomes, no Tocantins.
A busca por mais quatro vagas deve se concentrar, em especial, nos estados que Bolsonaro ganhou com folga de Lula em 2022 – Acre, Rondônia e Roraima – e no Amazonas.
Acre
Estão em fim de mandato Marcio Bittar, do União Brasil, e Sérgio Petecão, do PSD. Nenhum deles pertence a um partido de extrema direita, apesar de Bittar ser bolsonarista. Em 2022, o estado elegeu Alan Rick, do União, com 37,46% dos votos.
Para conquistar as duas vagas de senador do Acre, a extrema direita já tem uma articulação engatilhada: Bittar vai se filiar ao PL para tentar a reeleição. “Agora é quando o Bolsonaro quiser. A hora que ele achar conveniente, eu vou para o PL”, afirmou, em entrevista ao Poder360 no início do mês passado.
Um nome da extrema direita que tem sido cotado é o do ex-senador e atual governador do Acre, Gladson Cameli, do PP, que foi eleito pela primeira vez ao cargo no embalo da onda bolsonarista de 2018. Outra opção cogitada é Tião Bocalom, do PL, político fiel aos ideais do bolsonarismo e atual prefeito reeleito da capital Rio Branco.
Amazonas
Eduardo Braga, do MDB, e Plínio Valério, do PSDB, estão no fim do mandato. Em 2022, o estado elegeu Omar Aziz, do PSD, mas com uma diferença de menos de 3% para Coronel Menezes, do PL, que ficou em segundo lugar e não foi eleito.
Entre as opções da extrema direita no Amazonas, o mais cotado é o deputado federal Capitão Alberto Neto, do PL, que foi inclusive citado pelo próprio Bolsonaro, em entrevista no fim de fevereiro, como candidato do partido.
Também pode entrar no páreo o atual governador reeleito, Wilson Lima, do União Brasil. Lima, que é bolsonarista, já afirmou publicamente sua intenção de manter a aliança com o ex-presidente. “Meu compromisso é com Bolsonaro e com esse grupo. É com eles que caminharei em 2026”, afirmou.
Rondônia
Marcos Rogério, do PL, e Confúcio Moura, do MDB, terminam seus mandatos em 2026. Em 2022, o estado elegeu Jaime Bagattoli, do PL, com 35,8% dos votos.
Apesar de não haver uma definição ainda, a extrema direita deve apoiar a reeleição de Marcos Rogério, mas o senador também é cotado para concorrer ao governo do estado.
Outros nomes são o do atual governador de Rondônia, Marcos Rogério, do União Brasil, que é bolsonarista e amigo do ex-presidente, e o pecuarista Bruno Scheid, do PL, que já foi apontado por Bolsonaro como potencial candidato.
Roraima
Os senadores em fim de mandato são Mecias de Jesus , do Republicanos, e Chico Rodrigues, do PSB. Em 2022, o estado elegeu para o Senado Dr. Hiran, do PL, com 46,43% dos votos.
A tendência é de que a extrema direita apoie Mecias de Jesus à reeleição e busque emplacar outro nome para a segunda vaga. Uma estratégia é a migração do deputado federal Hélio Lopes, do PL do Rio de Janeiro. O parlamentar tem viajado com frequência ao estado, em um sinal da intenção em concorrer.
Outra alternativa é uma dobradinha de Mecias de Jesus com o governador bolsonarista Antonio Denarium, do PP, que foi reeleito em 2022 e não pode tentar um novo mandato.
NORDESTE
- 18 vagas em jogo
- 5 no alvo
- 3 já pertencem à extrema direita
A primeira meta da extrema direita será manter suas três cadeiras em Alagoas, Ceará e Piauí. O maior desafio é em Alagoas, pois a atual senadora do PL, Eudócia Caldas assumiu cadeira como suplente de Rodrigo Cunha, que renunciou após ter sido eleito vice-prefeito de Maceió.
Eudócia é mãe de JHC, prefeito eleito da capital em 2024, e deve tentar a reeleição. Caso ela vença, uma alternativa para a extrema direita é apoiar Arthur Lira, do PP. O ex-presidente da Câmara avalia concorrer ao Senado e, apesar de ser do Centrão, esteve alinhado com Bolsonaro no seu governo e em 2022.
Já no Ceará, Eduardo Girão, do Novo, disse que não pretende disputar a reeleição e deve se lançar ao governo do estado. O nome que representará a extrema direita na disputa pelo Senado ainda não foi definido. Por outro lado, Ciro Nogueira, do PP, entra como favorito à reeleição no Piauí.
Apesar da meta de conquistar cinco cadeiras em 2026, até o momento a extrema direita não tem favoritismo ou nomes de peso despontando em outros estados da região.
Mas já há indicativos de que uma aposta dos bolsonaristas será Pernambuco. Embora Humberto Costa, do PT, surja como um dos favoritos à reeleição, Bolsonaro deve apostar em Gilson Machado, do PL, que liderou o Ministério do Turismo em seu governo e ficou conhecido como “ministro sanfoneiro”. Em 2022, Machado foi o segundo colocado na disputa pelo Senado em Pernambuco, com 29,55%% dos votos.
Outro nome cotado pela extrema direita no estado é o do ex-deputado federal Anderson Ferreira, que hoje preside o PL no estado. Ele conta com o aval de Valdemar Costa Neto, presidente nacional do partido, para disputar o Senado em 2026.
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