headquarters in Langley, Virginia. In his remarks Trump explained the CIA was his first visit because the "dishonest media" has made it appear he was having a feud with the intelligence community. Donald Trump visits CIA headquarters, Langley, Mclean, USA - 21 Jan 2017 (Rex Features via AP Images)

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Trump pode optar por “informações alternativas de inteligência” em respaldo a seus “fatos alternativos”, segundo ex-agentes

Outros riscos, além da politização das informações de inteligência, são a ignorância e inexperiência básica do círculo próximo a Trump.

headquarters in Langley, Virginia. In his remarks Trump explained the CIA was his first visit because the "dishonest media" has made it appear he was having a feud with the intelligence community. Donald Trump visits CIA headquarters, Langley, Mclean, USA - 21 Jan 2017 (Rex Features via AP Images)

Uma ex-analista da CIA designada pelo governo Bush para tentar vincular Saddam Hussein à al Qaeda alerta que o governo Trump pode estar adotando o mesmo modelo de “informações alternativas de inteligência” que levou à guerra do Iraque. “Eles usaram informações falsas. Além disso, usaram relatórios não revisados, escolheram a dedo os que vinham de fontes que não considerávamos confiáveis e repassaram para o presidente”, disse Nada Bakos, que trabalhou na CIA de 2000 a 2010, em entrevista a Jeremy Scahill.

Ouça a entrevista a partir do 8m40s no último espisódio do podcast Intercepted (em inglês):


Assine o podcast Intercepted no iTunes, Google Play, Stitcher, Spotify ou em outras plataformas.

 

Bakos disse temer que o governo Trump esteja operando na “expectativa de que procedamos de acordo com o que eles querem, em detrimento da realidade e da situação na linha de frente”. Essa abordagem “trará um caráter político para a estrutura da comunidade de inteligência. Dessa maneira, você pode usar informações de forma política e, quem sabe, criar uma equipe que contribua para a sua própria causa”, disse a ex-analista. “Na minha opinião, esse é um dos aspectos mais preocupantes da forma como [Trump está] lidando com a comunidade de inteligência. Se [a comunidade] sempre atende a seus anseios e serve a sua visão de mundo, não importa se ele tem uma [visão de mundo].”

Depois de 11 de Setembro, enquanto o vice-presidente Dick Cheney orquestrava os impulsos bélicos, Bakos integrava uma equipe da CIA incumbida de produzir provas em respaldo às alegações do governo de que o Iraque mantinha uma aliança com a al Qaeda. “Essa questão não apareceu de forma orgânica com base nas informações que estávamos coletando”, disse Bakos a Jeremy Scahill no último episódio de Intercepted. “A questão foi levantada pelo governo. Nós não vimos indícios. Portanto, não formaríamos uma equipe dedicada a avaliar essa informação.”

O ex-secretário de Defesa Donald Rumsfeld também criou o Gabinete de Planos Especiais do Pentágono, que se empenhou em extrair informações de todos os órgãos da comunidade de inteligência que respaldassem o argumento em favor da guerra. “As conclusões deles eram essencialmente o oposto do que constatamos”, contou. “Esse fato por si só já representava um verdadeiro carro na frente dos bois. Chegamos à nossa conclusão. Entregamos para a Casa Branca e para o Congresso. O Departamento de Defesa tinha uma opinião muito diferente sobre as relações entre Saddam e outras organizações terroristas.” Esse modelo de informações de inteligência politizadas — apresentação de relatórios não revisados e não confiáveis — leva a informações de baixa qualidade e a consequências trágicas. “Nesse caso, levou a uma guerra”, concluiu Bakos.

Durante a mesma entrevista, Clint Watts, ex-agente especial do FBI que trabalhou na Força Tarefa Antiterrorismo, observou que a estratégia inicial de Trump consistia em enfraquecer a comunidade de inteligência e “fortalecer as forças armadas e a comunidade de segurança”.

Eu acho que as pessoas mais espertas na comunidade de inteligência vão tratá-lo como um ditador. E como você trata um ditador? Você joga com o ego dele. Portanto, acho que eles vão acabar influenciando o presidente como fariam com um adversário estrangeiro. Se quiserem convencê-lo do que é verdade ou o melhor para a América, vão acabar tratando [o presidente] como um Gaddafi ou um Putin, ou alguém que queiram convencer. E terão literalmente que fazer com que suas análises e informações de apoio se compatibilizem à visão de mundo do presidente, o que é assustador já que isso acaba por criar obliterações.

Watts também estabeleceu paralelos com os dias que antecederam a guerra do Iraque e observou que o governo Trump já começou a desconsiderar os relatórios do Departamento de Segurança Interna que contradizem sua agenda política. “Já notamos isso no caso da análise de inteligência relativa à [proibição da entrada de muçulmanos]. Foi produzido um relatório que não respaldava a política que estão tentando implementar. Então, agora o governo diz: ‘bom, não vamos dar ouvidos a isso. Vamos continuar pressionando’.”

“Suponho que a Casa Branca começará a criar equipes alternativas para oferecer um ponto de vista concorrente para esses assuntos e, se isso acontecer, especialmente no Departamento de Defesa ou no Conselho de Segurança Nacional, seria muito preocupante”, disse Watts. “Na minha opinião, isso indica que [a Casa Branca] não confia nas agências de inteligência.”

Outros riscos, além da politização das informações de inteligência, são a ignorância e a inexperiência básica do círculo de pessoas próximas a Trump, especialmente os conselheiros da Casa Branca Steve Bannon e Sebastian Gorka. “O que mais me assusta é que estamos lidando com pessoas com pouquíssimo conhecimento sobre os grupos que estamos combatendo no momento.” A Casa Branca está encarando o Irã, a Irmandade Muçulmana, a al Qaeda e o Estado Islâmico como aliados no momento, disse Watts. “Isso é loucura.” Estão criando um grande inimigo para poderem lutar.

“O fato de Gorka não conseguir nem mesmo entender algo tão simples”, acrescentou Bakos, “significa que ele é a pessoa errada para lidar com antiterrorismo e entender o Oriente Médio”.

“Meu maior medo”, afirmou Watts, “é que haja um grande ataque terrorista e essa corrente ganhe força, porque isso fará com que o país se una em apoio ao presidente, que precisará ser duro e provar seu mérito, e os ideólogos vão avançar primeiro porque são mais organizados”.

“Se eu fosse a al Qaeda ou o EI, atacaria agora. Se eu fosse um estado-nação, como Rússia, China ou Irã, provocaria os EUA agora, porque assim seria gerada aquela reação exagerada que eles desejam.

A entrevista de Jeremy Scahill com Nada Bakos e Clint Watts pode ser ouvida no episódio 6 do podcast Intercepted: Donald no País das Maravilhas..

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