Citada nas investigações da Operação Lava Jato pelo ex-diretor de infraestrutura da Odebrecht Leandro Azevedo como parte de um suposto esquema de caixa 2 para abastecer a campanha do ex-prefeito Eduardo Paes, em 2012, a agência de publicidade Prole, do marqueteiro Renato Pereira, renovou na sexta-feira (23) um contrato assinado em 2015 para cuidar da propaganda da prefeitura do Rio. O termo aditivo, publicado pela Secretaria Municipal da Casa Civil, prevê que a empresa poderá receber até R$ 18,5 milhões ao longo dos próximos 12 meses.
A renovação do contrato com a Prole faz parte de um pacote que inclui outras duas agências de publicidade, a Binder e a Propeg, também contempladas com termos aditivos semelhantes. Ou seja, juntas, mesmo num período em que o Executivo municipal vem alegando estar com o orçamento apertado, essas empresas poderão receber até R$ 56,2 milhões. O valor é quatro vezes maior, por exemplo, do que o corte da verba das escolas de samba (R$ 11 milhões) para o desfile do ano que vem, que a prefeitura disse que irá remanejar para creches.
No caso da Prole, há ainda uma curiosidade a mais. Durante os embates no segundo turno para a campanha que o elegeu, Crivella chegou até a cometer exageros ao criticar os contratos milionários que a agência recebeu ao longo das gestões de Eduardo Paes. Enquanto tentava fazer uma ligação – não comprovada – entre a empresa e seu então adversário Marcelo Freixo (PSOL), o bispo licenciado da Igreja Universal afirmou, durante uma sabatina no SBT, que a Prole teria recebido R$ 800 milhões do município. O valor correto acumulado até a época, porém, era de R$ 191,6 milhões.
Em sua delação, o ex-diretor da Odebrecht Leandro Azevedo citou pagamentos via caixa 2 para a campanha de Paes em 2012 nos valores de R$ 11,6 milhões e US$ 5,7 milhões. Ele contou que, apesar de ter feito transações financeiras com a Prole em 2010, só conheceu o diretor da agência Renato Pereira em 2012, por indicação do atual deputado federal e ex-secretário da Casa Civil do Rio Pedro Paulo (PMDB). A partir daí, segundo Leandro, foram feitas “entregas semanais/quinzenais de dinheiro” no escritório da empresa. Foi citado também o uso de contas no exterior. O deputado Pedro Paulo não quis se manifestar.
Agência é cliente de longa data do PMDB do Rio
Usada agora por Crivella, a Prole é uma antiga conhecida do PMDB no estado do Rio. Durante a gestão do ex-governador Sérgio Cabral, preso em desdobramentos da Lava Jato, a agência, que chegou a se chamar PPR (Profissionais de Propaganda Reunidos), recebeu R$ 199,5 milhões. Na gestão de Luiz Fernando Pezão, foram mais R$ 30 milhões.
Numa das planilhas relacionadas à delação da Odebrecht, que consta num dos processos da Lava Jato, os nomes de Renato Pereira e da Prole aparecem ligados ao codinome Proximus, atribuído ao governador do Rio Luiz Fernando Pezão, no recebimento de caixa 2 da empreiteira para a campanha de 2014. O valor total citado foi R$ 20,3 milhões.
A Prole lista em seu site nove clientes: governo do estado e prefeitura do Rio; prefeitura de Niterói; Fiesp; Light; Senai; Sesi; Supervia e Banco Santander. A empresa se apresenta como uma agência que “defende causas, conta histórias e ajuda pessoas”. No início deste ano, chegou a ser ventilada uma possível delação premiada do marqueteiro Renato Pereira, o que até agora não se concretizou. The Intercept Brasil tentou contato por telefone e por e-mail com algum representante da empresa, sem sucesso.
A prefeitura do Rio não comentou as acusações que pesam sobre a Prole. Em nota, afirmou que “os contratos de dois anos com as agências de publicidade Binder, Propeg e Prole foram firmados na gestão passada, em julho de 2015, e terminam no próximo dia 30 de junho, como resultado de um único processo licitatório, cuja renovação deve ser feita obrigatoriamente com as três empresas”.
A prefeitura disse ainda que “a extensão contratual será de no máximo 12 meses e vai vigorar apenas até o resultado de uma nova licitação, cuja publicação do edital está prevista para julho”. E conclui: “Importante ressaltar que o valor destinado às agências nessa renovação de contrato é uma previsão de despesa, não sendo necessariamente o valor que será liquidado com o total dos serviços prestados. Esse montante representa apenas 44% do que foi desembolsado pela prefeitura em 2015. Neste ano, o então prefeito Eduardo Paes gastou R$ 127 milhões com publicidade”.
Crivella já remanejou no orçamento da prefeitura este ano um total de R$ 25,4 milhões para usar em publicidade. Deste valor, R$ 22,2 milhões, originalmente voltados para ações como a conservação de logradouros e a manutenção de asfalto em vias públicas, foram retirados da Secretaria Municipal de Conservação.
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