Um advogado de direitos civis que tem especial prazer em processar a polícia é o novo promotor da Filadélfia. Um socialista democrático arrasou um Republicano em exercício na Virgínia. Uma mulher negra que processou um policial branco por atirar em um adolescente negro foi reeleita como procuradora. Três meses depois dos eventos de Charlottesville, um vice-governador negro foi eleito na Virgínia. Uma mulher trans dedicada a combater problemas de trânsito desbancou um tradicional reacionário que se preocupava com banheiros. Um reformador da justiça penal deu aos Democratas a maioria no Senado estadual de Washington . Na Virgínia, um saco molhado de serragem derrotou um lobista conhecido pelas declarações racistas, com uma impressionante diferença de nove pontos. Os eleitores do Maine ampliaram o sistema Medicaid. Posições há muito tempo detidas por Republicanos na Georgia mudaram de lado numa eleição especial que ocorre em caso de vacância do cargo. New Jersey, cansada de Chris Christie, elegeu um Democrata por ampla maioria.
O Partido Democrata, diante do que parecia aos especialistas uma diferença insuperável de 32 vagas, está prestes a tomar de volta a Câmara da Virgínia, um resultado que agora depende de recontagens.
Nas eleições especiais realizadas desde novembro de 2016, os Democratas tiveram vitórias arrasadoras nas pesquisas, mas os Republicanos desdenharam de cada cadeira que mudou de lado, considerando todas como eventos isolados, e não, evidências de um padrão. Vai ser bem mais difícil apagar o que aconteceu nesta terça-feira.
Tome-se como exemplo duas eleições especiais que ocorreram no estado da Georgia, um dos chamados “estados vermelhos” (tradicionalmente redutos do Partido Republicano). Dois assentos na Câmara estavam disponíveis, ambos deixados vagos por Republicanos, e ambos foram ocupados por Democratas. Deborah Gonzalez, uma desses Democratas, captou 55 mil dólares em doações para sua campanha; seu oponente não conseguiu derrotá-la, mesmo tendo captado cerca de 200 mil.
Um ano atrás, Bernie Sanders começou uma campanha insurgente que ajudou a popularizar o socialismo democrático e o populismo entre os progressistas dos Estados Unidos. Na terça-feira, candidatos populistas venceram em lugares inesperados – de Manassas, Virgínia a Knoxville, Tennessee.
Na Virgínia, o candidato apoiado pelos Socialistas Democráticos da América (Democratic Socialists of America, DSA), Lee Carter, derrotou um dos líderes do Partido Republicano na Câmara estadual, Jackson Miller. Patrick Wilson, repórter do jornal Richmond Times-Dispatch, destacou que o Partido Democrata estadual deu pouco apoio a Carter. Ainda assim, ele saiu vencedor. Vários aliados do Partido Democrata se uniram em torno de Carter, incluindo facções como a Planned Parenthood, organização de planejamento familiar que apoiou Hillary Clinton nas eleições presidenciais.
Candidatos do DSA conseguiram mandatos em todos o país, vencendo pelo Partido Democrata ou como candidaturas independentes. A socialista Seema Singh Pereza conquistou uma vaga na Câmara de Vereadores de Knoxville. Em Pittsburgh, uma dupla de candidatos apoiados pelo DSA venceu, incluindo Mik Pappas, um candidato independente que derrotou um Democrata que estava no cargo há 24 anos para se tornar o 31º juiz federal de primeira instância. Pappas concorreu com uma plataforma pesada de reforma do sistema penal e foco na justiça restaurativa no lugar das medidas punitivas.
Em Somerville, Massachusetts, JT Scott e Ben Ewen-Campen , membros do DSA, desbancaram vereadores em exercício há vários mandatos e ingressaram na Câmara Municipal. Charles Decker, membro do DSA, irá integrar a Câmara de New Haven, Connecticut.
Na Filadélfia, o promotor Larry Kresner – que foi apoiado pelo DSA – logo tomará posse, prometendo reformar radicalmente o sistema de justiça penal da cidade.
Os populistas tiveram algumas baixas. Em Ohio, um referendo pelo controle de preços dos medicamentos sofreu uma enorme derrota movida pela oposição da indústria farmacêutica, que teve gastos da ordem de 60 milhões de dólares nessa empreitada. Uma lista de candidatos apoiados pelo Our Revolution foi derrotada nas eleições locais em Columbus.
Na eleição para prefeito em Atlanta, o populista Vincent Fort foi derrotado por uma pequena margem pela conservadora Mary Norwood e pela Democrata Keisha Lance-Bottoms, que tem boas relações com o empresariado e é a sucessora escolhida pelo atual prefeito, e que irão ao segundo turno. Embora Fort não tenha vencido a corrida eleitoral, sua campanha foi bem-sucedida ao pressionar a Câmara de Atlanta a aumentar os salários dos funcionários da cidade para 15 dólares por hora, e descriminalizar a posse de pequenas quantidades de maconha.
Na eleição para prefeito e vereadores de Minneapolis, Ray Dehn, progressista e reformador do sistema penal, e Ginger Jentzen, candidata do partido Alternativa Socialista (Socialist Alternative), tiveram bons resultados como primeira preferência, mas pelo sistema de voto preferencial adotado na cidade os resultados só devem estar disponíveis perto do fim da semana – o que abre a possibilidade de que o Partido Democrata mantenha seu controle.
Em Seattle, o socialista Jon Grant foi derrotado na eleição para vereador, mesmo tendo construído uma campanha forte, com financiamento público e organizada com a ajuda dos sem-teto; além disso, o candidato mais favorável ao empresariado foi eleito prefeito. Em Brooklyn, o socialista Jabari Brisport, do Partido Verde, tornou a disputa acirrada, mas não conseguiu derrotar o membro do Partido Democrata em exercício; Brisport, no entanto, recebeu mais votos do que qualquer outro candidato de terceiros partidos a concorrer na cidade.
Tradução: Deborah Leão
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