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Marielle Franco, minha vereadora, assassinada

Marielle Franco lutava contra a violência no Rio de Janeiro e foi mais uma vítima dela, morta a tiros, junto com seu motorista.

Marielle Franco, minha vereadora, assassinada

O caso Marielle

Parte 1

Marielle Franco virou um símbolo internacional após seu assassinato no dia 14 de março de 2018. Com os olhos do mundo no Rio de Janeiro, todos estão perguntando: #QuemMandouMatarMarielle? E por quê?


“Tiros nas imediações da rua do Matoso, na Praça da Bandeira #TirosRJ #FogoCruzadoRJ”.

Eu postei essa informação no Fogo Cruzado às 21h36 desta quarta-feira. O Fogo Cruzado é um aplicativo que monitora a incidência de tiroteios e disparos de arma de fogo na região metropolitana do Rio de Janeiro e ao qual venho me dedicando nos últimos 2 anos.

Pouco depois da postagem, meu WhatsApp começou a receber mensagens. 21h51: “Mataram uma vereadora do PSOL e seu motorista agora. Rua do matoso esquina com rua joão primeiro”. 21h52: “Tem contatos no PSOL?”.

Paralisei e pensei: “Puta merda. Só tem uma vereadora no PSOL. Não pode ser a Marielle. Ela tava ao vivo no Facebook agora há pouco”. O evento onde ela estava ao vivo já tinha acabado. Ela estava indo pra casa. Acionei contatos na polícia e imprensa até descobrir que sim: era a Marielle. Aos 38 anos, ela foi assassinada por pessoas que atiraram de dentro de um carro que emparelhou com o dela na região central do Rio de Janeiro. Foram ao menos nove tiros. O motorista, Anderson Pedro Gomes, também foi morto. Uma assessora foi ferida por estilhaços e socorrida.

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Foto: Mídia NINJA

Essa é a terceira vez que eu notifico um tiro no Fogo Cruzado e ele atinge uma pessoa que eu conheço. Duas delas morreram. Duas delas eram da Complexo da Maré.

Vocês já foram em velórios de gente assassinada? É horroroso. Os gritos de dor, os clamores por justiça. Justiça que raramente chega.

Conheci Marielle pouco depois que me mudei pro Rio, há quase uma década, na mesma Maré onde ela nasceu – e da qual se orgulhava –, primeiro lugar onde trabalhei e onde fiquei por cerca de 3 anos. Ela já trabalhava dando suporte a vítimas de violência. Trabalho que ela começou a fazer após perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes na Maré.

Quando Marielle decidiu se candidatar ao cargo de vereadora na cidade do Rio, não tive dúvidas: era dela meu voto. Conhecia a pessoa, acompanhava seu trabalho há anos. Sequer hesitei. Lembro do dia da apuração dos votos, amigos na Lapa, celular na mão, atualizando sistematicamente o aplicativo do TSE. Marielle bateu 5 mil, 6 mil, 10 mil, 15 mil votos. Era inacreditável. Foi a 46 mil votos. Uma votação histórica. Uma coisa raríssima: uma mulher negra, moradora de favela eleita vereadora no Rio.

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Foto: Oliver Kornblihtt/Mídia NINJA

Me lembro que sua primeira medida foi propor um projeto para que as creches municipais atendessem também à noite. Ela sabia a hora que mães periféricas chegavam em casa. Pensei: “valeu meu voto”.

Marielle se foi. Sabe quantas fotos de Marielles mortas eu vejo todos os dias? Dezenas, de todos os ângulos, compartilhadas pelas redes, imagens com legendas como “toda furada”. A banalidade do mal. Por causa do trabalho eu vejo corpos – ou pedaço de corpos – diariamente, nesse Rio de Janeiro ocupado, usado por gente como os políticos que decidiram intervir nele militarmente apenas como cavalo de batalha eleitoral.

38 anos. Minha idade. Marielle tinha muita vida pela frente. Vai fazer muita falta. Falta para família, amigos, para a política do Rio de Janeiro.

Sigamos. Por Marielle.

Foto de destaque: Marielle Franco, vereadora, ativista de direitos humanos.

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