“Saudações petistas”. Foi assim que o deputado federal Waldir Maranhão encerrou uma carta, entregue no dia 26 de março ao Diretório Regional do PT, em São Luís, capital de seu estado. Com elogios rasgados à legenda, o parlamentar, então no Avante (ex-PTdoB), afirmou que queria fazer parte dos quadros do partido de Lula “não só para ser um ‘filiado’, mas sobretudo um militante para travar os enfrentamentos que a conjuntura nacional e local nos impõem”.
Dois dias depois, em 28 de março, ele caiu nos braços daqueles que seriam seus futuros companheiros de luta, numa reunião que terminou em clima de festa:
Por fim, em 6 de abril, Waldir Maranhão publicou uma nota “em respeito ao povo maranhense”: estava se filiando ao PSDB.
Em tempos de janela partidária, o caso de Waldir Maranhão escancara a absoluta falta de coerência no jogo político nacional. Em busca de mais tempo de TV, de mais recursos para a campanha, parlamentares têm encenado um grande troca-troca nas últimas semanas. Até agora, somente na Câmara dos Deputados, já são ao menos 80 os que pularam de legenda.
Para quem não se lembra – ainda que o bigode seja bastante marcante – Maranhão é aquele típico integrante do chamado baixo clero da Câmara – deputados sem grande influência nacional – que ganhou seus minutos de fama em 2016 durante o processo que culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Naquele período, após o afastamento do deputado Eduardo Cunha – preso na Operação Lava Jato -, Maranhão, então vice-presidente da Casa, assumiu um mandato tampão de cerca de dois meses como presidente da Câmara. Seu momento mais marcante foi quando anulou a sessão que tinha aprovado o início do processo de afastamento de Dilma. E, 12 horas depois, voltou atrás, e anulou a anulação.
Se nesse momento ele está abraçado ao PSDB, no primeiro dia em que presidiu uma sessão, em 17 de maio em 2016, foi recebido a vaias por tucanos e parlamentares do DEM.
Em 15 de abril daquele ano, seguindo sua linha de incoerência, ele havia anunciado a mudança de rumos em relação ao impeachment, do qual era a favor até então. Sem dar muitos detalhes, disse ao Estadão: “Eu e mais 12 deputados vamos votar a favor da democracia e contra o golpe”.
PSB, PDT, PTB…
Maranhão assumiu seu primeiro mandato como deputado federal em 2007, quando era filiado ao PSB. Na segunda e na terceira legislaturas, pulou para o PP. No ano passado, foi para o Avante. Na década de 1980, chegou a fazer parte dos quadros do PDT. Depois, passou a década de 1990 e o início dos anos 2000 no PTB.
Atualmente, responde a um inquérito em andamento no Supremo Tribunal Federal em que é acusado de suposto recebimento de propina do Grupo Queiroz Galvão, junto com outros membros do partido. Em seu currículo, ainda carrega uma atitude no mínimo inusitada: na campanha para a eleição de 2010, o parlamentar realizou a venda fictícia de um imóvel para poder justificar uma doação que fez a si próprio.
Com Dino, amor e ódio
Em seu estado, o deputado se consolidou nos últimos anos como aliado do atual governador Flávio Dino, do PCdoB. A lua de mel parecia firme e forte até poucos dias atrás, com direito até a fotos com sorrisos mútuos no Facebook:
Dias depois, com Maranhão rejeitado pelo PT, tudo se acabou:
“É lamentável a forma como o governador Flávio Dino usou e abusou para vetar a minha filiação ao PT. O que houve nesse processo foi uma verdadeira intervenção branca no PT para evitar a minha entrada nos quadros do partido. Logo Flávio Dino a quem confiei quando me convenceu de anular o impeachment da presidente Dilma. Agora sinto que fui usado por quem queria não a defesa da presidenta, mas o fortalecimento e engrandecimento de um ego quase doentio”, disse o deputado, na nota de filiação ao PSDB.
Nem Maranhão nem Flávio Dino quiseram falar com The Intercept Brasil.
O parlamentar agora tucano sonha em um lugar no Senado em 2018.
Resta ver a resposta das urnas.
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