Mais de um ano depois da eleição de Donald Trump, a taxa mediana de aprovação da liderança mundial dos EUA é de 30%, 18 pontos percentuais a menos do que em 2016. É a menor taxa de aprovação dos últimos governos americanos, segundo a Gallup.
Mas dois pequenos países são uma estranha exceção à impopularidade quase universal de Trump. Segundo uma pesquisa da Gallup realizada em 134 países, a maior taxa de aprovação da liderança mundial do atual governo dos EUA vem de dois países no oeste dos Bálcãs: 75% em Kosovo e 72% na Albânia.
Trump tem mais apoio nessas duas pequenas nações do que no estado mais republicano dos EUA. De acordo com a Gallup, 61% dos habitantes da West Virginia aprovam o governo – muito abaixo dos percentuais de Kosovo e da Albânia.
A grande admiração de albaneses e kosovares pelos Estados Unidos se deve, em parte, aos bombardeios americanos de 20 anos atrás contra o exército sérvio, que empreendia uma limpeza étnica em Kosovo. Os albaneses veem os EUA como o primeiro país a defender o povo de Kosovo quando a região ainda fazia parte da Iugoslávia, evitando uma tragédia humanitária ainda maior. Décadas mais tarde, os albaneses em geral ainda consideram a iniciativa americana – em conjunto com a Otan – um claro sinal de apoio.
E esse histórico tem um peso maior do que a política americana atual.
No início de 2017, Trump proibiu a entrada nos EUA de cidadãos de diversos países de maioria muçulmana – era a realização de uma promessa de campanha. Porém, na Albânia e em Kosovo, dois países majoritariamente albaneses e muçulmanos sunitas, isso não foi visto como um problema. Parte da população da região não se identifica com o suposto tipo de muçulmano que seria o alvo da medida. “Acho que os albaneses não se consideram tão religiosos a ponto de ser incluídos na proibição. Acredito que os albaneses têm muito mais medo do declínio da liderança americana, causado pela política unilateral de Trump”, diz Ylli Rakipi, apresentador do talk show mais popular da Albânia, chamado “Të Paekspozuarit” (“O Inexplorado”, em tradução livre).
“Não é nenhuma surpresa que Kosovo e Albânia sejam os maiores defensores da liderança americana”, afirma Fred Abrahams, autor do livro Modern Albania (“A Albânia Moderna”, em português, não lançado no Brasil). “Os EUA ajudaram a acabar com a opressão sérvia em Kosovo e a derrubar o regime comunista na Albânia, e por isso muitas pessoas veem os americanos de forma positiva, independentemente de quem está no governo”, explica.
Mziu, um político de centro-direita, não esconde seu entusiasmo pelo presidente dos Estados Unidos. Além de dar o nome de Trump a uma das principais vias da cidade, ele concedeu o título de cidadão honorário de Kamëz ao governante americano.
“O presidente defende valores conservadores, principalmente em economia, política externa e em termos de harmonia religiosa. Trump também é um ótimo exemplo de como melhorar a economia, pois a bolsa disparou e o desemprego caiu para um dos menores níveis da história”, disse Mziu à imprensa em seu gabinete, nas proximidades da Avenida Donald J. Trump.
Mziu também destacou o papel determinante dos EUA na entrada da Albânia para a Otan. “Os governos americanos sempre apoiaram as reformas dos governos albaneses, e um dos maiores exemplos disso foi a nossa entrada na Otan em 2008”, disse o prefeito. “Se o número um dos Estados Unidos decidir visitar a nossa capital, vai ser um prazer recebê-lo. Aliás, eu gostaria de aproveitar a ocasião para fazer um convite ao presidente Trump”, completou.
Com o desemprego em alta e uma grande parte da população desejando sair do país, o sonho americano está muito presente na mentalidade albanesa – a taxa de desemprego na Albânia é quase quatro vezes maior do que a dos EUA; em Kosovo, ela é 7,5 vezes maior. Muitos albaneses decidiram emigrar para a União Europeia nos últimos anos, e as embaixadas americanas recebem muitos pedidos de visto de cidadãos da Albânia e de Kosovo. Em 2015, por exemplo, cerca de 200 mil albaneses – quase 7% da população – e aproximadamente 19 mil kosovares tentaram a sorte no Diversity Visa Program, um programa que sorteia vistos de residência para cidadãos de países que historicamente não enviam muitos imigrantes para os EUA. Também conhecido como “loteria do green card”, o programa pode ser abolido por Trump, que já se referiu a ele como “terrível”.
Embora a taxa de aprovação da liderança americana na Albânia seja a maior do mundo, o país não coloca mais todas as suas fichas nos EUA. Nos últimos anos, a Albânia tem se aproximado da Turquia, considerada uma parceira estratégica por Tirana. As empresas turcas têm uma forte presença no país, e a Turquia está ajudando o governo albanês a desenvolver o setor turístico, ainda pouco explorado. Além disso, as autoridades albanesas, com o apoio da Turkish Airlines, estão criando sua própria companhia aérea. As boas relações entre os dois países se refletem até no plano pessoal: o primeiro-ministro albanês, Edi Rama, foi convidado de honra no casamento da filha do presidente turco Recep Tayyip Erdogan em 2016.
Para o apresentador Rakipi, o amor não correspondido dos albaneses pelos EUA é mais patético do que comovente. “Os albaneses costumam achar que a Albânia é o centro do mundo, o que não é verdade. É ridículo achar que o mundo se importa e fala sobre nós. Se alguém perguntasse a Trump onde fica a Albânia, ele provavelmente nem saberia dizer”, afirma.
Tradução: Bernardo Tonasse
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