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Um dos principais aliados de Joe Biden, pré-candidato democrata à presidência dos EUA, também lucra com a pecuária na Amazônia

Larry Fink comanda a gigante de investimentos BlackRock, que contribuiu para a crise na Amazônia investindo na JBS.

Gado pasta próximo a um local de incêndio recente no estado Pará, na floresta amazônica, em 25 de agosto de 2019.

Larry Fink, o influente diretor-executivo da BlackRock, que administra mais de US$ 6 trilhões em investimentos, quer que o público saiba que ele está usando seu enorme poder para pressionar as empresas a “servirem a um propósito social”. Fink – um doador democrata que supostamente prometeu ajudar Joe Biden a se eleger presidente – escreveu, no ano passado, para as empresas na qual sua companhia investe para incentivá-las a considerar seu “impacto sobre o meio ambiente” e a ameaça das mudanças climáticas.

“As partes interessadas estão pressionando as empresas a se envolverem em questões políticas e sociais sensíveis”, escreveu Fink em uma nova carta este ano, “especialmente porque veem os governos falhando em fazer isso de maneira eficaz”.

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Esse desejo de ser visto como investidor ético, no entanto, não impediu que a BlackRock contribuísse para a crise climática, fornecendo financiamento significativo ao maior frigorífico de carne do mundo, a JBS, que vem sendo flagrada ano após ano comprando gado criado em terras amazônicas desmatadas ilegalmente.

Pelo menos alguns dos milhares de incêndios que queimam grandes áreas da floresta tropical no Brasil, corroendo uma salvaguarda crucial contra as mudanças climáticas, parecem ter sido iniciados por pecuaristas. A criação de gado é “o maior fator de desmatamento em todos os países da Amazônia, respondendo por 80% das taxas atuais de desmatamento”, de acordo com pesquisadores da Escola de Estudos Florestais e Ambientais de Yale.

Conforme reportagem de Christopher Ingraham publicada nesta semana no Washington Post, os criadores de gado brasileiros “estão empurrando seus rebanhos para a Amazônia, cortando e queimando a floresta à medida que avançam” para atender à crescente demanda por carne exportada pelas empresas brasileiras do agronegócio principalmente para China, Irã, Egito, Rússia e Estados Unidos.

Cerca de um terço dessa carne é exportada pela JBS, o espetacularmente corrupto conglomerado brasileiro de frigoríficos com a qual a BlackRock está fortemente envolvida. Mas, mesmo com Fink pedindo publicamente que os líderes empresariais levassem seu impacto ambiental em consideração, a BlackRock aumentou sua participação na JBS em US$ 41 milhões entre 2016 e 2018, de acordo com uma pesquisa realizada pela Friends of the Earth.

O Gabinete de Jornalismo Investigativo, The Guardian e o Repórter Brasil revelaram em fevereiro que uma empresa de pecuária gigante que foi multada pelo uso de terras desmatadas na Amazônia entregou centenas de cabeças de gado criadas na floresta para outras fazendas que a empresa possuía para criação de gado de corte. Posteriormente, o gado foi enviado dessas fazendas para o abate nas instalações da JBS.

Não é apenas o capital privado americano que financia a destruição da Amazônia. Há dinheiro público em ação também. O presidente Donald Trump vem compensando os agricultores americanos afetados por sua guerra comercial no valor de bilhões de dólares, e US$ 62 milhões foram para a JBS, porque a empresa detém uma subsidiária americana.

Conforme relatou o Greeley Tribune do Colorado, em maio, “a JBS USA garantiu nove contratos para compras federais de carne suína da JBS desde meados de janeiro, totalizando quase 8,5 milhões de quilos de carne suína por US$ 40,1 milhões. Isso além dos contratos anteriormente concedidos por quase 4,5 milhões de quilos de porco por US$ 22,3 milhões. No total, a empresa, uma subsidiária da JBS SA, com sede no Brasil, receberá US$ 62,4 milhões do programa, que visa mitigar os impactos da guerra comercial para os agricultores locais”.

Em 2016, Fink estava tentando se tornar secretário do Tesouro sob Hillary Clinton. Ele constava da na pequena lista para substituir Tim Geithner como secretário do tesouro do presidente Obama e, em 2013, contratou Cheryl Mills, assessora próxima de Clinton, na BlackRock. Logo antes das eleições de 2016, ele foi endossado para o cargo por Steve Schwarzman, um dos principais doadores republicanos e cofundador e CEO da Blackstone. A senadora democrata Elizabeth Warren, de Massachussets, havia prometido trabalhar para barrar qualquer candidato de Clinton da BlackRock.

A BlackRock começou como um fundo dentro da Blackstone, mas Fink e Schwarzman tiveram uma briga nos anos 1990 que levou a uma cisão. Como o Intercept relatou no início desta semana, a Blackstone também está fortemente envolvida no desmatamento da Amazônia por meio do financiamento de projetos de rodovias e portos que facilitam o agronegócio.

De acordo com um estudo recente da Amazon Watch, um grupo de monitoramento sem fins lucrativos, a AgroSB, fornecedora da JBS, foi multada em 2017 e 2018 pelo Ibama. A agência perdeu um quarto do seu financiamento desde janeiro, quando o presidente Jair Bolsonaro assumiu o cargo prometendo reverter a proteção da Amazônia para impulsionar o agronegócio. Dados do governo fornecido à Reuters por parlamentares da oposição mostraram que os cortes no orçamento do Ibama incluíam uma redução de 23% no financiamento para prevenção e controle de incêndios florestais.

Nos últimos meses, segundo reportagem do New York Times, “o Ibama não pode realizar operações no estado do Pará, onde o desmatamento tem aumentado, porque os policiais locais não forneceriam apoio”.

Enquanto a Amazônia queima, Bolsonaro ironizou ambientalistas por apelidá-lo de “Capitão Motosserra”, contestou dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, que mostravam que o desmatamento na Amazônia aumentou 88% em junho em comparação com o mesmo mês em 2018, prometeu “desenvolver esta maravilhosa região chamada Amazônia” e chegou a promover uma teoria da conspiração de que ambientalistas locais, não fazendeiros, foram os responsáveis pelos incêndios.

Porém, embora seja fácil se horrorizar com os pronunciamentos de Bolsonaro, um grande número de americanos está, de fato, lucrando com a queima da Amazônia sob a guarda dele, graças à decisão da BlackRock de investir dinheiro com seus fundos de pensão e aposentadoria na JBS e em outras empresas que contribuem para o desmatamento.

Como a Amazon Watch relatou este ano, a BlackRock não está sozinha. Os 20 maiores investidores americanos e europeus da JBS “detêm quase 500 milhões de ações da empresa, avaliadas em US$ 2 bilhões. Nesse conjunto de empresas, o Capital Group, a BlackRock, a Fidelity Investments e a Vanguard detêm os investimentos de capital mais significativos da JBS”.

Em um novo relatório divulgado na sexta-feira, com base em dados financeiros da Profundo, empresa holandesa de pesquisa financeira, a Amazon Watch e a Friends of the Earth US, revelou que, entre 2014 e 2018, a BlackRock aumentou sua participação em mais de meio bilhão de dólares em “25 das maiores empresas listadas em bolsa com ‘risco de desmatamento’ do mundo – empresas ativas na produção e na comercialização de soja, carne bovina, óleo de palma, celulose e papel, borracha e madeira”.

Moira Birss, diretora de campanha financeira da Amazon Watch, disse que, embora a grande maioria das participações em commodities ligadas ao desmatamento da BlackRock seja feita por meio de fundos de índice (fundos gerenciados passivamente que acompanham o mercado global), a BlackRock poderia usar sua influência como maior investidor do mundo para pressionar essas empresas a fazer mudanças reais. “A BlackRock alega que tem as mãos atadas pelos fundos de índice”, afirmou Birss em um comunicado. “Isso está errado. A BlackRock pode seguir a liderança de outros gerentes de ativos globais e fazer mudanças para o bem da floresta tropical, do clima e de seus clientes, retirando investimentos de empresas que estejam destruindo o planeta e aplicando pressão máxima para mudar o comportamento das empresas.”

O relatório também observa que a BlackRock comercializa fundos negociados em bolsa como “sustentáveis”, que ainda incluem dezenas de empresas envolvidas na destruição de florestas, uma vez que a empresa usa diferentes padrões para definir esse termo em diferentes mercados e regiões. Segundo a Amazon Watch, coletivamente, entre dez desses fundos oferecidos pela BlackRock, esses ETFs incluem “mais de US$ 423 milhões em empresas de combustíveis fósseis e mais de US$ 29 milhões em empresas que impulsionam o desmatamento”.

Tradução: Cássia Zanon

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