Após um juiz federal da Pensilvânia exigir que Donald Trump apresentasse evidências para as alegações de fraude no sistema de votação por correio do estado, a campanha do presidente encontrou poucos casos de irregularidades nos últimos anos – nenhum deles envolvendo essa modalidade de votos. A revelação ganhou forma em 524 páginas produzidas pela campanha de Trump na segunda semana de agosto. A documentação enfraquece a alegação da equipe do presidente de que há um grande risco de fraude nos votos da Pensilvânia.
A campanha de Trump está processando a secretária comunitária da Pensilvânia, Kathy Boockvar, e cada uma das juntas eleitorais dos condados do estado, visando impedir que sejam fornecidas caixas de correio para o depósito seguro de votos – o que permite aos eleitores depositarem suas cédulas com as próprias mãos, sem precisar enviá-las pelo correio e evitando atrasos. A campanha de Trump alega que a prática “fornece aos fraudadores uma oportunidade fácil de se envolver na coleta de votos, manipulando ou destruindo cédulas, fabricando votos duvidosos e semeando o caos”.
Na semana passada, uma moção assinada pela entidade Citizens for Pennsylvania’s Future e pelo Sierra Club exigiu que a equipe da campanha de reeleição do presidente apresentasse evidências de fraude eleitoral, argumentando que os processos movidos pela campanha de Trump estavam “repletos de alegações obscenas e advertências nefastas” sobre as eleições na Pensilvânia e que a equipe do candidato “deve ser obrigada a fornecer descobertas sobre suas alegações de fraude ou ser impedida de prosseguir com tais demandas”. O juiz J. Nicholas Ranjan aceitou a moção, ordenando à campanha “apresentar as provas em seu poder e, se não as tivesse, que assim o declarasse”.
A resposta da campanha de Trump aos advogados responsáveis pela moção foi compartilhada com o Intercept e a Type Investigations. A documentação de 524 páginas apresenta exemplos escassos de fraude eleitoral – nenhum deles envolvendo votos por correio.
“A campanha não só fracassou em fornecer evidências de que a fraude eleitoral era um problema generalizado na Pensilvânia como tampouco apresentou qualquer evidência de má conduta nas eleições primárias ou de que a alegada fraude eleitoral seja um problema comum na Pensilvânia”, afirmou Suzanne Almeida, diretora interina da Common Cause PA, uma das partes que atuam no processo. A campanha de Trump não respondeu a um pedido de comentário para esta matéria.
Em grande medida, a parcela da resposta da campanha de Trump disponível para análise consiste em notícias e cópias de solicitações enviadas às administrações locais dos condados. Não há qualquer nova evidência de fraude além do que já foi relatado pelos veículos de comunicação locais. Os exemplos mencionados incluem o caso de quatro pessoas que trabalharam em processo eleitoral e que admitiram abuso e intimidação de eleitores durante um pleito especial em 2017. Outro caso citado é de um juiz eleitoral que alterou números totais de votos em seu local de votação, entre 2014 e 2016, a pedido de um assessor político. Embora a resposta da campanha se refira a incidentes de fraude em votos por correio, nenhum exemplo é apresentado na documentação.
“A campanha não só fracassou em fornecer evidências de que a fraude eleitoral era um problema generalizado na Pensilvânia, como tampouco apresentou qualquer evidência de má conduta nas eleições primárias.”
Não é a primeira vez que os republicanos não conseguem comprovar suas alegações de que a fraude eleitoral é um problema recorrente nas eleições americanas. Em 2018, um tribunal distrital exigiu que o então secretário de Estado do Kansas, Kris Kobach – um dos nomes mais proeminentes dos EUA na “cruzada” contra a fraude eleitoral –, apresentasse provas de que pessoas sem cidadania estavam votando em seu estado natal. Kobach reuniu testemunhas, mas os depoimentos se revelaram inconsistentes. A juíza Julie Robinson afirmou que “as evidências de que as listas de eleitores incluem cidadãos inelegíveis são fracas. No máximo, 39 [não] cidadãos integraram as listas de eleitores do Kansas nos últimos 19 anos”. Os raros casos conhecidos de fraude não seriam a ponta de um iceberg de irregularidades maiores: “não há iceberg; apenas um pedaço de gelo, em grande parte criado por confusão e erros de gestão”.
Após assumir a presidência, Trump criou uma controversa comissão para estudar fraudes eleitorais. O grupo se reuniu apenas duas vezes antes de se dissolver, sem apresentar evidências de fraudes generalizadas nas eleições americanas.
Com os democratas movendo processos para afirmar a legalidade das caixas de correio para depósito de votos na Pensilvânia, Boockvar pediu à Suprema Corte estadual que resolva as questões relevantes da lei eleitoral antes da conclusão do julgamento na instância federal. As cédulas de voto por correio começarão a ser enviadas aos eleitores em meados de setembro.
Tradução: Ricardo Romanoff
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