O ano em que resistimos

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Saiba o que fizemos com o seu apoio em 2021.

O ano em que resistimos

Dois mil e vinte e um foi fundamentalmente um ano de resistência. Se 2020 pegou o mundo de surpresa com uma pandemia em que o essencial foi sobreviver, 2021 já nasceu em meio à maior crise sanitária e humana do século e impôs o enorme desafio de resistir. Nesse contexto, graças à nossa comunidade de apoiadores, podemos listar os maiores destaques do ano no Intercept. São impactos concretos gerados a partir de nossas reportagens, o lançamento de novos formatos de conteúdo para ampliar o alcance de histórias que precisam ser contadas, a indicação e a vitória em importantes prêmios nacionais e internacionais. É assim que o investimento mensal de 12 mil pessoas em jornalismo independente e combativo retorna para a sociedade.

Impacto: as notícias que mudaram vidas em 2021

Ao longo de 2021, publicamos centenas de reportagens, videorreportagens, colunas e newsletters. Algumas delas não só denunciaram injustiças, crimes e abusos, mas geraram efeitos práticos na vida das pessoas. Foi o caso de “Esqueça sua filha“. Publicada em março e assinada pela repórter Nayara Felizardo, a investigação durou 12 meses e revelou um esquema em que famílias ricas do Amapá, em conluio com o Judiciário, driblaram a Lei da Adoção e tiraram crianças de famílias pobres. No mesmo mês da publicação, a Corregedoria do Tribunal de Justiça do Amapá determinou a investigação de todos os processos de adoção no estado desde 1991 — ou seja, nos últimos 30 anos.

Ainda em março, outra investigação de Felizardo revelou como o prefeito de Teresina, o médico José Pessoa Leal, além de participar de aglomeração na inauguração de um supermercado e se posicionar contra o lockdown, demorou a comprar medicamentos essenciais para a intubação de pacientes, como sedativos. Após a publicação e a grande repercussão local, a prefeitura emitiu nota se explicando e decretou medidas restritivas.

No segundo semestre, a apuração dos repórteres Amanda Audi e Fábio Bispo em grupos de WhatsApp e Telegram chegou na origem do financiamento dos movimentos golpistas de 7 de Setembro que ameaçavam o STF: a Associação Brasileira dos Produtores de Soja, a Aprosoja. A reportagem “O agro é golpe” revelou declarações do presidente da Aprosoja convocando militantes às manifestações contra o Supremo Tribunal Federal, que bloqueou, no dia 6 de setembro, R$ 20 milhões da Aprosoja-MT e da Aprosoja Brasil.

Não foi a única punição milionária gerada por nossas reportagens. O repórter Hyury Potter, em parceria com a Rainforest Investigations Network, mostrou que uma mineradora novata no meio da Amazônia já havia extraído um volume de ouro 32 vezes maior que o estimado, com licença irregular. A empresa Gana Gold Mineração é investigada pela Polícia Federal e só operava porque a prefeitura de Itaituba, no Pará, atropelou a legislação graças ao lobby do governo Bolsonaro. Uma semana depois da publicação, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio, embargou as atividades da Gana Gold. A empresa foi multada em R$ 10 milhões e está proibida de funcionar.

Os impactos não se restringiram a investigações atuais. O ano trouxe desfechos importantes para pelo menos duas coberturas de 2020 imprescindíveis para o Intercept: a série sobre o esquema de respiradores fantasmas em Santa Catarina e a denúncia do tratamento abusivo recebido pela promotora de eventos Mariana Ferrer durante uma audiência em que acusava o empresário André de Camargo Aranha de estupro.

Na saga dos respiradores, que em 2020 já tinha gerado prisões, queda de secretários e uma CPI do caso, o Ministério Público denunciou 14 pessoas envolvidas pela compra dos 200 respiradores fantasmas em agosto de 2021. E, se em outubro o Tribunal de Justiça de Santa Catarina absolveu André de Camargo Aranha, acusado por Mari Ferrer de estupro, em novembro a Lei 14.245, a Lei Mariana Ferrer, foi sancionada. O texto proíbe que vítimas de crimes sexuais e testemunhas sejam constrangidas, como Mariana foi, durante audiências e julgamentos. É uma conquista histórica.

No rastro da milícia

Na esteira das investigações do Intercept sobre milícias, que já haviam revelado a proximidade da milícia carioca com a execução de Marielle Franco e Anderson Gomes, o repórter Sérgio Ramalho revelou ainda mais neste ano: a relação entre o esquema corrupto de apropriação de salários de assessores no gabinete de Flávio Bolsonaro e a construção de prédios da milícia na Zona Oeste do Rio.

Com acesso exclusivo ao conteúdo de grampos telefônicos dos comparsas do miliciano Adriano da Nóbrega, assassinado em 2020, mostramos que o Ministério Público suspendeu as escutas após menções a Jair Bolsonaro. Revelamos também o espólio milionário de Nóbrega (que levou o MPRJ a deflagrar operação contra acusados de lavagem de dinheiro e movimentação de recursos ilícitos) e mostramos que as conversas entre seus comparsas citavam “o cara da casa de vidro”, o que sugere que recorreriam a Jair Bolsonaro.

A cobertura do Intercept sobre o fenômeno das milícias é uma das mais contundentes e corajosas do jornalismo brasileiro. E não tenha dúvida: continuará sendo.

Esforço premiado

Entre privações de um trabalho integralmente remoto, com toda a equipe em casa, e a severa crise econômica que nos fez perder milhares de apoiadores para o desemprego e cortes de gastos, alguns momentos nos deram forças para seguir acreditando no jornalismo que fazemos. Em 2021, levamos para casa o prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, a principal premiação do jornalismo brasileiro, pela reportagem “Café com pólvora“, da repórter Sabrina Felipe, sobre como a gigante de alimentos Maratá usou a violência para invadir terras de camponeses maranhenses. A outra finalista, “Os filhos esquecidos de Itaipu“, de Mauri König, levou menção honrosa.

Revelando a difícil realidade de jovens de favela que não tinham acesso à internet para estudar na pandemia, a videorreportagem “O Enem, a favela e o coronavírus“, de Luiza Drable e Pablo Francischelli, ganhou o prêmio Abmes de Jornalismo em agosto. Foi o primeiro produto audiovisual do Intercept a receber um prêmio. Antes, a postagem do vídeo nas redes já havia chamado a atenção — e resultado na doação de cinco computadores para os alunos.

Outra história emocionante, dessa vez sobre os profissionais da saúde e sua intensa relação com os pacientes que perderam para a covid-19, foi contada pela repórter Nayara Felizardo em parceria com nossa equipe de vídeo no especial “Cartas a quem não pude salvar“, em abril. Na série, médicos, uma técnica de enfermagem e um fisioterapeuta narram mensagens que diriam a pacientes que perderam na pandemia. Felizardo recebeu o Digital Media Latam Award pelo trabalho.

Na reta final do ano, nossa repórter e apresentadora Nathalia Braga, de 24 anos, venceu a categoria Diversidade no Troféu Mulher Imprensa, e, em dezembro, abocanhamos o primeiro lugar no 38º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, com a reportagem “É quase escravo“, de Naira Hofmeister, um retrato do trabalho análogo à escravidão na China Tabacos. Ainda recebemos duas menções honrosas: “Os filhos esquecidos de Itaipu”, de Mauri König, e “O amigo americano“, de Paulo Vitor Silva do Nascimento.

Uma indicação que nos encheu de orgulho foi a do livro “Vaza Jato – Os bastidores das reportagens que sacudiram o Brasil“, uma parceria com a repórter Letícia Duarte, ao Prêmio Jabuti. Nosso primeiro livro, publicado com a editora Mórula, foi eleito um dos cinco melhores títulos do ano na categoria Biografia, Documentário e Reportagem. Essa é uma indicação com gosto de prêmio, e somos profundamente gratos por isso.

Outros formatos

O ano também foi um momento de explorar novos formatos e tirar projetos do papel. Em 7 de julho, estreamos nosso primeiro programa ao vivo no YouTube: o semanal Cama de Gato, apresentado por nosso editor-executivo, Leandro Demori. Toda quarta, ao longo de uma hora, Demori analisou um tema em evidência no cenário nacional, abordando de política a tecnologia.

Evolução das quase 30 lives que o Intercept apresentou durante a pandemia, Cama de Gato foi um sucesso imediato, chegando a reunir milhares de espectadores simultâneos e criando um público cativo. Alguns furos importantes do ano, como o vídeo em que Mayra Pinheiro, a Capitã Cloroquina, aparece pedindo a um médico perguntas que levaria aos senadores aliados do governo fazerem na CPI, foram lançados no programa. Outro destaque do CDG foi a entrevista com a pesquisadora Adriana Dias. Ela encontrou uma carta de Bolsonaro publicada em sites neonazistas em 2004, reforçando a ideia de que a base do presidente é neonazista.

Os minidocumentários foram outro formato que exploramos. Apesar de não ser uma linguagem nova no Intercept, vídeos como “Elemento tinta: A periferia contra o governo genocida”, de Luiz Maudonnet e Iuri Salles, e “Dos entregadores antifascistas ao fogo no Borba Gato, Paulo Galo quer criar a faísca da revolução”, também de Iuri com Felipe Larozza, elevaram a produção audiovisual do Intercept a outro nível, com roteiro, direção e finalização que não deixaram nada a dever a curtas cinematográficos. Conteúdos como esses dão orgulho em entregar.

Recentemente lançamos o livro “Jornalismo Wando: Os personagens bizarros que explicam a nova política“, de João Filho, em parceria com a editora Mórula. O livro reúne os 20 melhores perfis que o colunista traçou de figuras saídas do submundo político para os holofotes, em uma tentativa de entender a crise institucional do Brasil.

No Intercept, buscamos revelar o que os poderosos não querem que você saiba e queremos trazer narrativas historicamente silenciadas para o debate nacional – personagens que, na crise que o país atravessa, são as primeiras e principais vítimas. Ter ao nosso lado a maior comunidade de membros apoiadores do jornalismo nacional permitiu que seguíssemos nessa missão iniciada há cinco anos. Em 2022, precisamos que esse apoio se multiplique, para que também possa ganhar fôlego nossa cobertura investigativa contundente, humanista e destemida, em um ano crucial para a manutenção da democracia brasileira. O Brasil não pode perder a chance que o próximo ano nos traz.

Obrigado pela parceria até aqui. Contamos com você em 2022!

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O Intercept é quase inteiramente movido por seus leitores?

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Isso nos torna completamente diferentes de todas as outras redações que você conhece. O apoio de pessoas como você nos dá a independência de que precisamos para investigar qualquer pessoa, em qualquer lugar, sem medo e sem rabo preso.

E o resultado? Centenas de investigações importantes que mudam a sociedade e as leis e impedem que abusadores poderosos continuem impunes. Impacto que chama!

O Intercept é pequeno, mas poderoso. No entanto, o número de apoiadores mensais caiu 15% este ano e isso está ameaçando nossa capacidade de fazer o trabalho importante que você espera – como o que você acabou de ler.

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