João Filho

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Ex-PM, olavista e braço direito de Frias: a trágica atuação de André Porciuncula

Número 2 da Cultura do país, Porciuncula recebeu a missão de paralisar os incentivos da pasta. Em 2021, sua gestão gastou menos de um terço das verbas.

Ex-PM, olavista e braço direito de Frias: a trágica atuação de André Porciuncula

Ex-PM, olavista e braço direito de Frias: a trágica atuação de André Porciuncula

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Todas as gestões da Secretaria da Cultura durante o governo Bolsonaro ficaram marcadas por incompetência técnica e obsessão ideológica dos seus gestores. Entre os secretários que mais se destacaram nesse quesito estão Ricardo Alvim e Regina Duarte. Alvim era um sujeito incompetente e obcecado com o nazismo — copiava a estética nazista e chegou a plagiar um discurso de Hitler em um pronunciamento. Em seu lugar entrou Regina Duarte, a atriz reacionária e infantiloide que enxergava cultura até na flatulência de um palhaço.

Agora a pasta está sob o comando de Mário Frias, cuja gestão está também marcada pela absoluta incompetência e obsessão ideológica. Frias dedica boa parte do seu tempo de trabalho para alimentar polêmicas nas redes sociais, atacar esquerdistas e protagonizar bate-bocas públicos. Nas últimas semanas, por exemplo, o eterno ex-ator de Malhação iniciou uma discussão de baixo nível com a atriz Antonia Fontenelle, que hoje atua como uma subcelebridade a serviço da extrema direita. O Brasil do Bolsonaro parece ter se transformado em um imenso palco do Superpop.

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Frias é mais um reaça forjado na cracolândia do pensamento conhecida como olavismo. Toda sua atuação na pasta é norteada pela ideia delirante de que o comunismo domina o mundo através da cultura. Esse delírio faz com que o secretário se imagine numa guerra cultural maniqueísta em que atua como um dos líderes do bem contra o mal.

Mas as coisas não andam boas para Frias. Ele vem sofrendo um processo de fritura junto ao presidente nos últimos dias. O motivo é uma viagem que fez para Nova York para tratar de um assunto da maior irrelevância para a cultura do país: um projeto do lutador de jiu-jitsu bolsonarista Renzo Gracie. Em 2019, o lutador foi convidado para ser embaixador do turismo brasileiro, papel em que se destacou ao chamar o presidente da França Emmanuel Macron de “palhaço” e de “pescoço de franga”.

‘Frias é mais um reaça forjado na cracolândia do pensamento conhecida como olavismo’.

Também debochou da aparência física da primeira-dama francesa ao chamá-la de “dragão”. Essa visita inútil a um aliado bolsonarista custou quase R$ 80 mil para os cofres públicos — um valor bastante alto para um homem que diz combater a mamata dos artistas brasileiros. Há mais de uma ação na Justiça pedindo o afastamento de Frias, e o comentário nos bastidores é de que ele deve ser demitido em breve.

Quem também pode ser demitido da pasta é o secretário de Fomento e Incentivo, André Porciuncula, o braço direito de Frias na secretaria, o número 2 da Cultura no Brasil. É sobre ele que quero falar.

Porciuncula completa o bingo bolsonarista: é um ex-capitão da Polícia Militar que teve o cérebro lavado pela ideologia doentia de Olavo, amigo pessoal de Eduardo Bolsonaro, adora aparecer exibindo armas, vive brigando nas redes sociais repetindo chavões reacionários, e não entende lhufas de cultura. É difícil imaginar alguém mais despreparado do que ele para o cargo.

Mas, para Frias, Porciuncula é um super-herói. Ganhou do chefe o apelido de “Capitão Cultura” pela sua implacabilidade contra os “mamateiros da Lei Rouanet”.

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Porciuncula posa com armas ao lado de Eduardo Bolsonaro, que o ajudou a ascender na carreira política, e Mário Frias. Ele mesmo publicou a foto em rede social.

Foto: Reprodução/Instagram

Desde o final de 2020, Porciuncula tem transformado a sua área em uma trincheira de resistência contra uma fictícia hegemonia cultural esquerdista. Responsável pela aprovação de projetos para captação na Lei de Incentivo à Cultura, o braço direito de Frias tem barrado todos os projetos que julga ter algum fundo ideológico de esquerda. Entre tantas barbaridades, algumas se destacam: ele defendeu o veto da Ancine a um filme sobre o ex-presidente FHC que já havia sido aprovado pelo órgão e também o veto da Funarte ao uso de incentivo para um festival de jazz que se apresentou como antifascista.

O resultado disso é uma pasta parada, cheia de projetos emperrados e recursos travados. A trágica atuação de Porciuncula é uma das principais responsáveis pela baixa execução orçamentária da Secretaria de Cultura, que gastou apenas R$ 425 milhões em 2021 — menos de um terço do R$ 1,69 bilhão disponíveis.

Muitos secretários estaduais de Cultura reclamam da falta de diálogo e tentam destravar os recursos por meio de articulações no Congresso Nacional. Mas aquela disposição da pasta para aprovar o projeto de um lutador de jiu-jitsu bolsonarista que mora em Nova York é inversamente proporcional à disposição para aprovar projetos que não estejam alinhados aos ideias bolsonaristas..

O tempo que Porciuncula gasta do seu expediente de trabalho brigando no Twitter mostra que ele trabalha pouco. São vários tweets publicados por dia, praticamente todos envolvendo brigas com desafetos, polêmicas e lacrações contra a esquerda.

Porciuncula gosta de escrever de forma rebuscada, muitas vezes inteligível tal qual Carluxo, o que parece ser uma tentativa fracassada de disfarçar o primitivismo dos seus pensamentos.

Para o número 2 da Secretaria da Cultura, o artista que encara a cultura como um trabalho “é um idiota arrogante”.

Diante das acusações de censura contra artistas brasileiros, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA convocou a gestão Mário Frias para uma audiência para analisar se está havendo cerceamento de liberdade artística e cultural no Brasil. O Capitão Cultura foi o escolhido por Frias para representar o governo Bolsonaro na audiência.

Munido dos seus superpoderes de tergiversação, Porciuncula não respondeu nenhuma das perguntas objetivas sobre alguns episódios que motivaram a audiência. Perguntas sobre o cancelamento de um edital com séries de temática LGBTQIA+ e a censura de biografias de lideranças negras no site da Fundação Palmares, por exemplo, ficaram sem respostas. Porciuncula se limitou a fazer proselitismo ideológico.

Em defesa da Fundação Palmares, o policial militar mentiu ao dizer que “nunca presenciamos no Brasil apartheid, nunca presenciamos nenhum tipo de segregação relacionada a nossa cor de pele”, ignorando quase 4 séculos de escravidão.

Boa parte do discurso de Porciuncula na CIDH foi gasto em bobagens rebuscadas que nada dizem. Exemplos: “a cultura é a pedra angular onde o exercício da civilização é brotado e germinado”, “a cultura é como uma heráldica mística sagrada tremulando”, “(a cultura) esse algo místico, esse algo indescritível, que pertence tão peculiarmente ao nosso povo, consegue se expor e se maravilhar nessa coisa fantástica que chamamos de comunidade”. Trata-se de um amontoado de palavras complicadas que juntas não querem dizer absolutamente nada. Esse é o tamanho do constrangimento ao qual o país foi exposto na OEA.

Mas não é só de delírio olavista que vive Porciuncula. Ele não chegou ao mundo da política por acaso, mas fazendo articulação política. Foi a amizade com o vereador soteropolitano do Democratas Alexandre Aleluia, filho do ex-deputado José Carlos Aleluia, que o aproximou de Eduardo Bolsonaro e alavancou sua nova carreira. Além da amizade, os dois também mantêm sociedade na Alpen Security, uma empresa do ramo de segurança.

O vereador Aleluia é próximo do governo Bolsonaro e foi um dos raros candidatos para os quais Jair Bolsonaro pediu votos em suas lives semanais no ano passado. Os parças sempre se ajudaram. Em 2017, o vereador Aleluia indicou Porciuncula para receber uma honraria da Câmara Municipal de Salvador, a Medalha Thomé de Souza, pelos serviços prestados na Polícia Militar. No ano retrasado, Porciuncula nomeou como seu chefe de gabinete um ex-assessor de Aleluia que já atuou como advogado do vereador em diversos processos judiciais.

Esse é um dos principais homens à frente da Secretária Nacional da Cultura: enquanto posa de combatente dos “mamateiros da Lei Rouanet” nas redes sociais com muita lacração e proselitismo, distribui tetas para os parças da trupe bolsonarista.

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