Xico Sá

Como superar a maldição política da camisa verde e amarela na Copa do Mundo

O sentimento sobre a Seleção está abalado à esquerda e à direita. Um lado não engole Neymar; o outro tem raiva do Tite ‘comunista’.

Como superar a maldição política da camisa verde e amarela na Copa do Mundo

Ilustração: Victor Vilela para o Intercept Brasil

Ela já nos fez tão bem, mas a nódoa da extrema direita lambuzou a amarelinha de rejeição durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro. A mancha no uniforme mexeu até mesmo com aquele torcedor que curte futebol apenas durante a Copa do Mundo. Daí a tentativa urgente dos cartolas da CBF para lavar a sujeira associada aos bolsominions.

A campanha publicitária com rap e refrão chiclete de Lulu Santos veio com a tarefa de retomar a camisa para brasileiros de todas as preferências políticas. Na frente dos quartéis e nas estradas, porém, os derradeiros zumbis do golpe seguem vestidos de Neymar Jr., o mais célebre dos eleitores do candidato derrotado nas urnas.

“Ela me faz tão bem, Ela me faz tão bem/ Que eu também quero fazer isso por ela.” A levada alto astral da música pode até reduzir o estrago que restou para a camisa amarela. A D.R. (a mitológica discussão de relação), porém, será longa.

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

Há quem não consiga superar o ranço e já decidiu torcer contra. E pronto. Há quem tranquilamente vista a azulzinha e saia por aí na buena. Tem também aquele e aquela dispostos a tirar do armário a vermelha alternativa, com um “Lula Livre” no lugar do escudo, só para lembrar que no Mundial de 2018 a barra foi muito mais pesada, ora bolas.

Vale a canarinha com o 13 nas costas, o modelo adotado e defendido em discurso pelo presidente eleito. Vale a indumentária verde e amarela sob a cabeça erguida do boné CPX, estica padrão Rene Silva, o fundador do jornal Voz das Comunidades, do Complexo do Alemão e arredores. Vale toda a customização possível nos adornos do Pacheco e da Pacheca – para lembrar o torcedor cri-cri e fanático símbolo publicitário da Copa de 1982.

Se você tem crianças em casa sabe que elas não perdoarão o seu tédio ou desprezo com a Seleção. Você prometeu, no mínimo, insinuou que a vitória de Lula liberaria geral no uso das cores da bandeira. Promessa é dívida. Confesso que azularei, vestido com a 8 de Sócrates, o doutor da democracia. E que os meninos e meninas amarelem à vontade.

Até a “neymardependência” acabou, gente, a aposta é coletiva. O time vai embalar no conjunto. Não particularize o escrete no camisa 10.

Você sabia, aliás, que na extrema direita também não existe unanimidade a respeito da Seleção? Há um bode do bolsonarismo com o Tite. Milhões acreditam que ele seja um “perigoso comunista”.

Confesso que azularei, vestido com a 8 de Sócrates, o doutor da democracia.

Usam como prova o encontro do técnico com Luiz Inácio Lula da Silva em 2012, quando parte do elenco do Corinthians visitou o petista para mostrar o troféu da Libertadores das Américas.

O ódio ao “comuna” foi ampliado em 2021, quando o treinador disse que o time da CBF estava insatisfeito com a realização da Copa América durante a pandemia da covid-19. Os negacionistas piraram.

Usada politicamente por candidatos e autoridades desde 1950, a Seleção ajudou na imagem de alguns governantes – como o ditador Emílio Garrastazu Médici em 1970 –, mas nunca definiu o resultado de uma corrida eleitoral. Na hora H do embate, vale mais o pão que o circo. Conta mais a fila do osso, emblema da política econômica de Paulo Guedes, do que as firulas e influência de Neymar Jr. nas redes sociais.

Longe do romantismo da “Pátria em chuteiras”, conceito hiperbólico do cronista Nelson Rodrigues, o país remenda as vestes, cinge molambos e tenta refazer um manto minimamente democrático. É assim que chegamos à Copa do Mundo 2022.

O barato foi louco, o processo será lento, vale o versículo dos Racionais MC´s. É do jogo. Não será um clipe pop da CBF ou o agito da Nike que vai embalar o fingimento de um país unido. Os descamisados estão há muito tempo do lado de fora da festa.

🚨 O QUE ENFRENTAMOS AGORA 🚨

O Intercept está vigiando manobras eleitorais inéditas da extrema direita brasileira. 

Os golpistas estão de cara nova, com seus ternos e sapatênis. Eles aprenderam estratégias sofisticadas de marketing digital para dominar a internet, que estão testando agora nas eleições municipais.

O objetivo final? Dominar bases de poder locais para tomar a presidência e o congresso em 2026. 

Não se deixe enganar: Bolsonaro era fichinha perto dos fascistas de sapatênis…

O Intercept não pode poupar esforços para investigar e expor os esquemas que colocam em risco nossos direitos e nossa democracia.

Já revelamos as mensagens secretas de Moro na Lava Jato. Mostramos como certas empresas e outros jornais obrigavam seus trabalhadores a apoiarem Bolsonaro. E expusemos como Pablo Marçal estava violando a lei eleitoral. 

Mas temos pouco tempo, e muito mais a revelar. Agora precisamos de recursos para colocar mais repórteres nas ruas. Para isso, precisamos de sua ajuda. Somos financiados por nossos leitores, não pelas empresas ricas que mandam em Brasília.

Faça parte do nosso time para causar o impacto eleitoral que você não verá em nenhum outro lugar! Faça uma doação de qualquer valor ao Intercept hoje mesmo! 

APOIE O INTERCEPT HOJE!

Entre em contato

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar