Esses deputados estão fingindo nunca ter apoiado os terroristas após posts comprometedores

Esses deputados estão fingindo nunca ter apoiado os terroristas após posts comprometedores

Parlamentares que defenderam ou minimizaram terrorismo em Brasília editaram e apagaram posts para esconder apoio aos atos de 8 de janeiro.

Esses deputados estão fingindo nunca ter apoiado os terroristas após posts comprometedores

Ao menos quatro deputados federais apagaram das redes sociais mensagens de apoio aos atos de terrorismo praticados por bolsonaristas no dia 8 de janeiro. Depois que as postagens repercutiram mal, André Fernandes, Silvia Waiãpi, Eros Biodini – respectivamente do PL do Ceará, Amapá e Minas Gerais – e Clarissa Tércio, do PP de Pernambuco, bem que tentaram pular do barco golpista e repudiaram a depredação e violência, mas os prints já estavam eternizados.

Na noite anterior ao ato, o deputado cearense tuitou que estaria lá. Depois, em um vídeo no qual acusa o PT e o Psol de o denunciarem injustamente ao Supremo Tribunal Federal por “estimularem o golpismo e o terrorismo nas redes sociais”, Fernandes disse que pensava que seria apenas uma manifestação contra o presidente Lula, “algo comum em toda democracia” – exceto quando se trata de um protesto cujo objetivo é depor um presidente eleito por maioria dos votos por meio de uma intervenção inconstitucional.

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No vídeo em que tenta limpar a própria barra, o deputado usou a estratégia bolsonarista de comparar manifestações legítimas da esquerda com os atos terroristas recentes, mas deixou de mencionar que comemorou quando os golpistas arrancaram a porta do gabinete do ministro do Supremo Alexandre de Moraes. No tuíte que apagou logo em seguida, ele postou a imagem e escreveu “quem rir vai preso”.

Já a deputada Clarissa Tércio apagou o vídeo em que exaltava a invasão aos prédios dos Três Poderes e, em seguida, postou o print de um tuíte do ex-presidente Jair Bolsonaro, também comparando manifestações legítimas da esquerda com os atos golpistas e se dizendo contra “qualquer ato de violência, vandalismo ou de destruição do patrimônio público, que venha ameaçar a nossa democracia”. Quando saiu a notícia da inclusão do seu nome no pedido de inquérito da Procuradoria-Geral da República, Tércio se defendeu, alegando que apenas postou um vídeo “pedindo oração” pelo país. O que as imagens mostram, porém, são os golpistas invadindo os prédios públicos.

Quem também apagou postagens foi a deputada Sílvia Waiãpi, assim como o colega Eros Biondini. Ela apagou três stories no Instagram em que comemorava a invasão dos golpistas. Em um deles, escreveu que os atos terroristas eram “o povo tomando o poder”. Embora tenha excluído as postagens, a deputada até agora não se manifestou contra os atos.

Já Biondini apagou do Facebook uma foto que mostrava os terroristas em Brasília com a legenda “a casa do povo”. Depois, postou que “os que invadem e destroem patrimônio público são criminosos e precisam ser identificados e punidos exemplarmente”, mas já era tarde demais.

A estratégia do deputado Evair de Melo, do PL do Espírito Santo, foi um pouco diferente. Em vez de apagar a postagem em que reproduzia a mentira da morte de uma idosa na quadra da Polícia Federal após a prisão de centenas de golpistas, ele apenas editou a legenda e disse que averiguaria depois a veracidade da informação. Embora a Polícia Federal já tivesse informado a verdade no dia anterior e o deputado tenha ido ao local onde estavam os detidos, ele não desmentiu a história no vídeo que publicou por volta das 16h do dia 10.

Repúdio tardio

Para o deputado federal Carlos Sampaio, do PSDB paulista, a ficha parece ter caído aos poucos. Na manhã do dia 9, ele escreveu no Twitter que entendia e compartilhava a “indignação de milhões de brasileiros que consideram a eleição de Lula como um retrocesso absoluto”. Somente quatro horas depois, por volta do meio-dia, ele voltou ao Twitter para se contrapor ao absurdo dos acontecimentos de forma mais enfática e escreveu que “violência e depredação de patrimônio público não são aceitáveis”.

Já o deputado Joaquim Passarinho, do PL do Pará, aparentemente demorou para entender o que claramente estava acontecendo – atos terroristas contra um governo eleito democraticamente. Pouco antes da invasão começar, ele tuitou que “o povo na rua é democracia em essência”. Somente perto das 17h, o deputado repudiou a “invasão de prédios públicos e depredação”, lamentando que os golpistas estivessem “produzindo provas contra eles mesmos”.

O Coronel Chrisóstomo e o Gerenal Girão, respectivamente do PL de Rondônia e do Rio Grande do Norte, só fizeram um pronunciamento enfático contra o terrorismo após a reportagem do Intercept, que apontou os 46 deputados federais que apoiaram ou minimizaram os atos golpistas. Os nomes deles constam no levantamento.

O coronel postou um vídeo cerca de três horas depois que a reportagem foi publicada, dizendo que não apoia nem concorda com vandalismo. Até então, ele tinha apenas comparado os atos terroristas com manifestações da esquerda e dito: “a direita do Brasil sempre terá meu apoio total. Contem comigo”.

General Girão defendeu ‘aplicação rígida da lei’ contra vândalos, mas só depois de criticar a existência de medidas de segurança no dia 8.

Na tarde do dia 8, pouco antes de ter início a depredação, o General Girão não parecia tão contrário às manifestações golpistas, pois criticou as medidas de segurança que eram adotadas naquela ocasião e escreveu no Twitter que estavam “transformando a proximidade da Praça dos Três Poderes/Brasília numa fortaleza medieval. E tudo porque precisam afastar o povo, o verdadeiro soberano do Brasil”. As imagens que todos acompanharam mostram que a segurança, na verdade, foi insuficiente.

Após a publicação da reportagem do Intercept, o discurso do general mudou e ele até defendeu a “aplicação rígida da lei contra quem vandalizou e depredou os Três Poderes”, mas continuou passando pano para quem estava “há 70 dias acampadas pacificamente nos quartéis” – outro ato golpista.

O levantamento do Intercept ainda mobilizou seis parlamentares citados a se manifestarem publicamente. A deputada Bia Kicis, do PL do Distrito Federal, o Coronel Meira, do PL de Pernambuco, e o Tenente Coronel Zucco, do Republicanos do Rio Grande do Sul, repudiaram a inclusão de seus nomes entre os defensores ou simpatizantes disfarçados e alegaram que nunca defenderam depredação e atos de vandalismo. A classificação, porém, foi feita com base em manifestações públicas dos próprios parlamentares.

Todos os citados da reportagem defenderam, incentivaram ou ao menos tentaram justificar de alguma forma os atos terroristas – com ou sem violência e depredação, ainda se tratava de uma manifestação antidemocrática, pois pretendia invalidar uma eleição legítima.

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