General Heleno minimiza 8 de janeiro, defende Bolsonaro e debocha de CPI dos atos golpistas no DF

General Heleno minimiza 8 de janeiro, defende Bolsonaro e debocha de CPI dos atos golpistas no DF

Em depoimento à CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o ex-ministro protagonizou um espetáculo de deboche e desinformação.

General Heleno minimiza 8 de janeiro, defende Bolsonaro e debocha de CPI dos atos golpistas no DF

Em depoimento à CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, o general Augusto Heleno protagonizou um espetáculo de deboche e desinformação. Na quinta-feira, 1, diante dos deputados distritais responsáveis por investigar a destruição de prédios públicos e a tentativa de golpe de estado, o ex-ministro do GSI de Jair Bolsonaro não poupou esforços para minimizar os atos terroristas e a própria comissão. Ainda fez da cadeira de depoente um palanque, com propaganda do governo Bolsonaro e ataque ao governo Lula.

Logo nos primeiros minutos da sessão, Heleno foi questionado sobre a visita de Romário Garcia dos Santos, um dos integrantes do acampamento golpista do QG do Exército em Brasília, à sede do Gabinete de Segurança Institucional no dia 18 de novembro de 2022. “Como é o nome desse rapaz? Não conheço mesmo. O Romário que eu conheço é outro (risos). O senador (risos)”, brincou. “O jogador de futebol?”, perguntou o presidente da CPI, Chico Vigilante (PT-DF). “Isso, isso, isso”, disse Heleno, já às gargalhadas.

Tal deboche, aliás, foi uma constante ao longo de seu depoimento, com piadas e respostas evasivas que buscavam desqualificar algumas das perguntas, principalmente as que falaram em golpe de estado. “Precisamos refletir sobre o emprego sobre essa palavra golpe e verificar se isso não está sendo exagerado, mas tudo bem…”, afirmou. Pouco depois, chamou os atos terroristas de “demonstração de insatisfação”.

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“Eu acho que o tratamento que estão dando a essa palavra golpe não é um tratamento adequado porque um golpe, para ter sucesso, precisa ter líderes, um líder principal, alguém que esteja disposto a assumir o papel de liderar um golpe”, disse o ex-ministro do GSI. “Não é uma atitude simples, ainda mais em um país do tamanho e da população do Brasil. Esse termo golpe está sendo empregado com extrema vulgaridade”.

Em outro momento, Heleno negou que tenha feito referência ao presidente Lula quando disse “não” a bolsonaristas que questionaram se “bandido subia a rampa”. A cena foi flagrada em vídeo, revelado em dezembro na coluna de Guilherme Amado, do Metrópoles. O general apostou no cinismo: alegou que “não tinha nome na pergunta”, como se não tivesse feito referência ao presidente eleito.

“Eu continuo achando que ladrão não sobe a rampa. Não tinha nome. Eu estava dentro do carro, apareceu uma pergunta que eu nem me lembro exatamente. Mas tenho certeza que não tinha nome. Tinham várias perguntas na mesma hora, eu respondi não. Aí atribuíram esse ‘não’ a essa pergunta. Não vejo problema com isso, não”, justificou Heleno. O deputado Fábio Félix, da bancada do Psol, que fazia as perguntas naquele instante não escondeu o espanto com a desfaçatez: “Me parece uma brincadeira com a nossa inteligência”.

O ex-ministro do GSI também disse que “não viu problema” com a interação com um post de teor golpista no Twitter durante os atos de 8 de janeiro. Questionado se a “curtida” havia sido feita antes ou depois da invasão aos prédios públicos, silenciou por alguns segundos e tentou fugir da pergunta, dizendo apenas que estava em casa. Com a insistência do relator, o deputado Hermeto, do MDB, respondeu: “Não me lembro se curti Twitter. Precisaria ver com calma. Eu recebeu cerca de 300, 400 zaps por dia”. O relator, então, perguntou: “Você que responde no Twitter?”. “Eu que respondo”, admitiu Heleno.

Como de costume, o militar bolsonarista caiu na velha contradição. Apesar de dizer que tem um papel estritamente técnico, Heleno faz política – da música “se gritar, pega Centrão“, cantada em 2018, aos ataques a jornalistas, uma postura constante no governo Bolsonaro, o general nunca deixou de ser um grande agitador. Nem mesmo durante o depoimento à CPI. Ele não demorou para atacar Ricardo Capelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça do governo Lula, que ocupou o cargo de ministro-interino do GSI durante o mês de abril. “Cappelli não conhece nada de GSI. Lamento que ele seja tão mal informado sobre o GSI”, ressaltou.

Heleno ainda aproveitou, em outros momentos, para espezinhar escolhas do governo petista. Disse que o ministro do GSI escolhido inicialmente por Lula, o general G. Dias, ouviu “quatro palestras” de sua equipe e que, em uma delas, “levou o ministro Mercadante” – de forma irônica. Apesar de citar bom relacionamento com G. Dias, Heleno deu a entender que o militar não era capaz de conduzir o GSI. 

“O general Gonçalves Dias – eu sempre tive um bom relacionamento com ele –, e me coloquei à disposição para conversar com ele sobre o que ele quisesse. Meu secretário executivo fez quatro palestras pra ele [general Gonçalves Dias], em uma delas ele levou, inclusive, o ministro [Aloizio] Mercadante. Então foi passado tudo que ele quisesse saber sobre o GSI. [O secretário executivo] colocou pra ele [Gonçalves Dias] que ele tiraria [do GSI] quem ele quisesse e colocaria quem ele quisesse.”

Sobre uma live em que Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas, o general disse não se lembrar da transmissão e que confiava apenas “em termos” nos equipamentos. “Eu acredito, em termos, mas eu acho que é preciso que haja uma evolução rda urna eletrônica, para que ela 4seja totalmente confiável. Houve uma série de questionamentos em relação à confiabilidade da urna. Isso é normal em um regime democrático. Isso é normal. O resultado da eleição foi respeitado.”

Já no final da tarde, o deputado distrital Gabriel Magno, do PT, ao questionar o general, afirmou que o golpe de 1964 foi um “atentado contra os direitos humanos, contra a vida, contra os direitos políticos e contra os direitos físicos dos brasileiros”.  Heleno respondeu que a ação impediu o Brasil de virar um país comunista. “O deputado acha que o movimento de 64 matou mais de mil pessoas, o que não aconteceu. Acha que foi um movimento de vingança, de ódio, quando o movimento de 64 salvou o Brasil de virar um país comunista, isso não tem nenhuma dúvida”.

Pessoas na plateia reagiram à fala de Heleno com gritos de “sem anistia” e Gabriel Magno virou a cadeira para ficar de costas para o general em símbolo de protesto. “Ele cometeu um crime aqui. Foi uma apologia à ditadura. Nenhum de nós estaria aqui na ditadura” afirmou Fábio Félix.

Mais um ponto intrigante – ou tragicômico – foi a alegação de Heleno de que não sabia se seu número dois no GSI, o ex-secretário-executivo Carlos José Russo Assumpção Penteado, havia permanecido no cargo depois do fim do governo Bolsonaro. Demitido por Lula em abril, o general Penteado, como é conhecido, foi apontado como um dos “homens de Heleno” no GSI de Lula – e que, por isso, teria facilitado a invasão do Palácio do Planalto. É difícil acreditar que Heleno não tivesse conhecimento sobre a permanência ou saída de seu braço direito. Mesmo assim, optou por se fazer de desentendido. “Não sei”, disse.

Heleno ainda pode ser convocado para outra comissão que investiga os atos terroristas – a CPMI instalada no Congresso Nacional. Resta saber se, desta vez sob olhos da nação e não apenas da capital federal, Heleno repetirá o papel debochado.

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