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Bolsonaristas fazem força-tarefa secreta para levar pautas extremistas à Conferência Nacional de Educação

Homeschooling, Escola Sem Partido e até defesa do agronegócio serão levados a evento do governo Lula por 'patriotas' que se organizam no WhatsApp.

Extrema direita se mobiliza para levar sua visão de temas que vão desde a educação infantil até gênero à Conae.

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Uma mobilização secreta de grupos bolsonaristas está se preparando para influenciar a Conferência Nacional de Educação, a Conae, com pautas de extrema direita. O objetivo declarado da força-tarefa é “formar famílias em todos os estados brasileiros” para lutar contra o “aparelhamento ideológico da educação”. 

Para isso, os extremistas levarão a Brasília, onde a etapa nacional da Conae ocorre, entre 28 e 30 de janeiro, na Universidade de Brasília, temas como homeschooling e o Escola Sem Partido.

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A Conae é um evento convocado pelo Fórum Nacional de Educação, um órgão de participação da sociedade civil nas políticas do Ministério da Educação, com o objetivo de construir o Plano Nacional de Educação, o PNE, para o período de 2024 a 2034. 

A conferência tem como foco principal a promoção de uma educação inclusiva e comprometida com o desenvolvimento sustentável, mas a chamada “Força Tarefa Conae” promete direcionar os debates para pautas alinhadas com a extrema direita.

Por meio de mais de 40 grupos no WhatsApp, a força-tarefa bolsonarista está convocando participantes para uma série de palestras e atividades com especialistas na área da educação. Essas palestras, que começaram no último 8 de janeiro, apresentam um cronograma extenso, incluindo temáticas como “crise de autoridade na educação” e “opção de gênero” – um termo que, por si só, já denota uma visão preconceituosa do tema, além de ser condenado por especialistas.

Apesar do engajamento de centenas de militantes bolsonaristas por meio do WhatsApp, chama a atenção que o esforço não tem sido divulgado em redes sociais abertas, como o Twitter e o Facebook – o que demonstra que a incidência na Conae tem um fator “elemento surpresa”, para pegar desprevenidos o governo Lula e os participantes da conferência. 

Imagem da comunidade de WhatsApp em que bolsonaristas têm se articulado para influenciar a Conferência Nacional de Educação.

Uma das principais estratégias é “denunciar a ditadura educacional do texto referência” do Plano Nacional de Educação, que será votada no Conae.

Entre os palestrantes confirmados para “qualificar” a participação dos patriotas na Conae estão acadêmicos de extrema direita, como Inez Augusto Borges, Adriana Marra e Fernando Nassi Nader. Cada um deles aborda temas específicos. São eles, respectivamente: educação cristã, crise de autoridade na educação e presença da família na educação. Os assuntos, segundo a organização, têm “relevância para a educação e a família brasileira”. 

As atividades do grupo têm apoio da Associação Nacional de Educação Domiciliar e da Confederação Nacional das Associações de Pais de Alunos, entidades de extrema direita engajadas no tema da educação – a última, inclusive, integra o Fórum Nacional de Educação, responsável pela convocação da Conae.

Bolsonaristas organizam frentes de trabalho para a Conae

Os participantes dos 47 grupos criados na comunidade do WhatsApp da “Força Tarefa Conae” estão sendo instigados a se organizar por frentes de trabalho, relacionadas a diferentes temas educacionais, e a se reunirem virtualmente para discutir estratégias de incidência na Conae. 

A mobilização sugere um esforço concentrado para direcionar as discussões da conferência para visões conservadoras – e, mais que isso, tumultuar o evento de participação social da gestão Lula.

A força-tarefa mobiliza adeptos para influenciar a Conae com uma diversidade impressionante de frentes de trabalho, cada uma focada em aspectos distintos da educação.

Desde a educação infantil até questões mais complexas, como gênero e pluralidade pedagógica, a variedade de frentes revela uma tentativa coordenada de abordar todos os aspectos da educação sob uma ótica ideológica específica. Há até uma frente chamada “agronegócio”. 

Além disso, há pessoas organizadas para se dedicarem à produção de materiais, como panfletos, manifestos, apostilas e vídeos, visando disseminar determinadas ideias no campo educacional.

Aspectos controversos, como homeschooling e o Escola Sem Partido, são tratados como frentes específicas, sugerindo uma intenção deliberada de promover os debates durante a Conae – sendo que, na programação oficial do evento, não há espaço para esses temas.

A estratégia da “Força Tarefa Conae” planeja ainda, até a data da etapa nacional, ações concomitantes, como reuniões por videochamada, a criação de grupos específicos por estado e a formação de líderes para atuarem localmente. 

O aparato organizacional sugere um esforço coordenado para ampliar a influência dessas frentes não apenas no âmbito da Conae, mas também em estados e municípios, depois da conferência.

Força-tarefa conseguiu emplacar cinco palestrantes na primeira semana da Conferência Nacional de Educação e tem esperança de levar outros quatro. 

Força-tarefa na educação é ‘sintoma preocupante do extremismo’

O Intercept Brasil ouviu a coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, para que ela analisasse as ações da força-tarefa bolsonarista. Segundo ela, a mobilização é um “sintoma preocupante” de um movimento mais amplo na sociedade brasileira e global.

“Esse movimento tem sido acentuado por extremismos de direita, que reagem de maneira hostil a políticas voltadas para garantia de direitos, equidade e liberdades individuais. Esta reação tem gerado a ascensão de populismos extremistas de direita, movimentos reacionários e violentos, que buscam minar os avanços conquistados em prol de uma sociedade mais inclusiva e justa”, comentou.

Pellanda apontou, no entanto, que os bolsonaristas podem ter chegado “tarde demais” ao processo de participação. “É notável que esse grupo, pequeno diante do tamanho da Conferência, foi pego de “calças curtas”, avaliou.

“Sua chegada tardia ao processo conferencial resultou na falta de representação significativa nas etapas municipais, estaduais e agora para a nacional – dado que é preciso se eleger desde a etapa municipal para chegar a delegado da nacional, por fim –, demonstrando uma desconexão com o amplo espectro do campo educacional”, disse ela.

A coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação afirmou ainda que “a tentativa, portanto, passa mais por organizar uma minoria e tentar cooptar mais delegados para sua agenda que de fato com potencial de emplacar retrocessos”. 

Segundo ela, a maioria das emendas analisadas pela relatoria da Conae, da qual a própria Pellanda faz parte, “não reflete o escopo retrógrado proposto por esse grupo, indicando que suas ideias não encontram respaldo na maioria do setor educacional”.

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