A aliança secreta dos EUA que defendeu Israel de ataque iraniano

A aliança secreta dos EUA que defendeu Israel de ataque iraniano

Esses mesmos países árabes são agora fundamentais para impedir que Israel intensifique ainda mais a guerra após o ataque do Irã com mísseis e drones.

A aliança secreta dos EUA que defendeu Israel de ataque iraniano

Embora Iraque, Jordânia e Arábia Saudita tenham participado diretamente da defesa de Israel, interceptando mísseis e drones iranianos e apoiando a operação, nenhum dos países árabes envolvidos está disposto a admitir publicamente sua participação, e Washington está ajudando a manter o silêncio. Todas as operações aéreas “parceiras” em resposta ao Irã agora foram adicionadas à rede de bases secretas, alianças militares ocultas e armas não reveladas que marcam a região. Agora, quando a região se encontra diante da possibilidade de uma guerra mais ampla, a população foi mais uma vez deixada no escuro.

Enquanto mísseis e drones de fabricação iraniana se dirigiam para Israel na operação do dia 13 de abril, que durou 12 horas, militares dos EUA estavam posicionados em toda a região para coordenar a resposta unificada e treinar os parceiros secretos, de acordo com fontes militares. Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Bahrein também estavam ligados à rede de defesa aérea e antimísseis liderada pelos EUA, embora esses países tenham permanecido em silêncio.

Agora, os parceiros secretos estão fazendo de tudo para negar sua colaboração, ao mesmo tempo em que passam uma mensagem sutil a Israel (e aos Estados Unidos) de que não serão tão cooperativos caso o país intensifique a ofensiva.

Vejamos o caso da Jordânia, um aliado de longa data dos EUA e um dos mais fiéis parceiros militares norte-americanos na luta contra o Estado Islâmico. Embora reconheça que os caças F-16 de fabricação americana do reino tenham se juntado aos dos EUA, Reino Unido, França e Israel para abater drones e mísseis iranianos, Amã não revelou detalhes específicos sobre a localização dos jatos, nem acima de qual espaço aéreo estavam ou quando eles dispararam contra alvos. (Como o The Intercept relatou anteriormente, as aeronaves de ataque F-15E dos EUA operavam principalmente a partir da Base Aérea de Muwaffaq Salti, na Jordânia. E combatentes israelenses derrubaram drones e mísseis sobre o território jordaniano.)

Apesar de seu envolvimento como eixo central, o ministro das Relações Exteriores da Jordânia fez um aviso sério, embora genérico, dando a entender que a paciência que demonstrou em relação a Israel e aos Estados Unidos pode estar diminuindo. Em 14 de abril, o vice-primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores e Expatriados, Ayman Safadi, disse que a participação da Jordânia “é uma política firme de que qualquer coisa que represente uma ameaça à Jordânia será confrontada, porque nossa prioridade é proteger a Jordânia, proteger as vidas dos jordanianos, proteger os recursos”.

O rei Abdullah II disse na terça-feira que a “segurança e a soberania da Jordânia estão acima de todas as considerações”.

Safadi acrescentou que medidas semelhantes serão tomadas para responder a quaisquer ataques de Israel contra o Irã. “Vamos interceptar todos os drones ou mísseis que violem o espaço aéreo da Jordânia para evitar qualquer perigo”, disse ele ao canal de notícias estatal Al-Mamlaka.

Por iniciativa própria, a fim de distanciar seu país do crescente conflito, o primeiro-ministro iraquiano, Mohammed Shia al-Sudani, negou que armas de fabricação iraniana tenham sido lançadas de dentro das fronteiras de seu país. As declarações do primeiro-ministro foram feitas depois que as Forças de Defesa de Israel e a mídia iraniana identificaram Irã, Iêmen, Iraque e Líbano como os países de origem de drones e mísseis. Na terça-feira (16), o Pentágono declarou que as armas iranianas eram originadas do Irã, Síria e Iêmen.

“Nós (…) condenamos o fato de que as armas lançadas contra Israel violaram o espaço aéreo de vários Estados regionais, colocando em risco a vida de pessoas inocentes nesses países”, disseram os EUA na ONU, na quarta-feira (17). (O Iraque também hospeda secretamente baterias de mísseis Patriot superfície-ar, do Exército dos EUA, que derrubaram alguns mísseis iranianos, como o The Intercept relatou anteriormente. A presença de mísseis americanos Patriot em solo iraquiano não era de conhecimento público até sábado.)

Como acrescentou o ministro das Relações Exteriores da Jordânia, al-Sudani: “O Iraque rejeita o uso de seu espaço aéreo por qualquer país. Não queremos que o Iraque esteja envolvido na área de conflito.” Ainda não está claro que medidas Bagdá pode tomar para proteger seu espaço aéreo. 

A Arábia Saudita é um caso ainda mais estranho. A imprensa israelense informou que “a Arábia Saudita reconheceu que ajudou a recém-formada aliança militar regional”, segundo uma reportagem da KAN News, a rádio pública israelense em língua inglesa. Mas a monarquia saudita refutou a informação. “A Arábia Saudita não esteve envolvida na interceptação dos recentes ataques iranianos contra Israel, de acordo segundo fontes informaram ao canal de TV Al Arabiya”, noticiou a Gazeta Saudita. “As fontes enfatizaram que não houve declarações oficiais emitidas sobre o envolvimento saudita no combate a esses ataques. Este esclarecimento vem na sequência de relatos de alguns sites de notícias israelenses que atribuíram declarações a uma fonte oficial saudita, alegando a participação do Reino na aliança defensiva que respondeu aos ataques iranianos.”

Alguns relatos dizem que jatos americanos KC-135 de reabastecimento aéreo circularam no ar sobre o espaço aéreo saudita no momento do ataque iraniano. Sabe-se que os EUA mantêm esses postos de abastecimento voadores em solo saudita, na Base Aérea Rei Abdulaziz, em Dhahran. Outros relatos dizem que a Arábia Saudita fechou seu espaço aéreo para aeronaves dos EUA durante a operação, exigindo que os EUA se abstivessem de lançar qualquer contra-ataque ao Irã a partir de seu território.

Os Estados Unidos venderam baterias de mísseis Patriot e os sistemas de mísseis antibalísticos Terminal High Altitude Area Defense (THAAD) de longo alcance para a Arábia Saudita, e posicionaram mísseis Patriot em solo saudita. Mísseis Patriot também foram vendidos para o Kuwait, Catar, Bahrein e Emirados Árabes Unidos; o antimísseis THAAD também está em operação ou desenvolvimento nos Emirados Árabes Unidos, Omã e Catar. O Exército dos EUA implanta suas próprias baterias de mísseis Patriot no Bahrein, Iraque, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Mas o que essas nações “parceiras” escolherem fazer para proteger seu espaço aéreo e soberania, caso Israel decida atacar o Irã, é um fator importante em qualquer decisão israelense.

“O secretário [de Defesa, Lloyd] Austin continua a se comunicar com governantes em toda a região do Oriente Médio e em outros lugares, para enfatizar que, embora os Estados Unidos não busquem um acirramento, continuaremos a defender Israel e cidadãos dos EUA”, disse o porta-voz do Pentágono, major-general Pat Ryder, no dia 16, recusando-se a nomear quais governantes e referindo-se aos países árabes apenas como “parceiros na região”.

Quase não houve cobertura da mídia americana sobre o papel desses vários países árabes na defesa de Israel, aumentando ainda mais o sigilo imposto pelo Estado. Mas o que essas nações “parceiras” escolherem fazer para proteger seu espaço aéreo e soberania, caso Israel decida atacar o Irã, é um fator importante em qualquer decisão israelense. 

“Você tem uma vitória”, teria dito o presidente americano Joe Biden ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no domingo. “Fique com a vitória”, pedindo que Israel se abstenha de novas investidas.

Biden também afirmou que os EUA não ajudariam Israel em nenhuma iniciativa de retaliação contra o Irã. Mas, como acontece com a atual guerra em Gaza, e com os relatos sobre a relutância de Israel em compartilhar planos sobre o ataque à embaixada do Irã na Síria até poucos momentos antes de ser executado, Israel frequentemente confirma que os limites impostos pelos EUA não são muito relevantes. Em breve, os EUA podem ter que decidir de que lado ficar caso os países árabes se envolvam com aeronaves, drones ou mísseis israelenses.

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