PL usa fundo partidário para pagar sócio de Eduardo Bolsonaro e organizador do CPAC no Brasil

PL usa fundo partidário para pagar sócio de Eduardo Bolsonaro e organizador do CPAC no Brasil

Partido de Bolsonaro destinou R$ 160 mil de dinheiro público ao advogado Sérgio Sant’Ana, responsável por produzir o CPAC.

PL usa fundo partidário para pagar sócio de Eduardo Bolsonaro e organizador do CPAC no Brasil

O Partido Liberal, sigla de Jair Bolsonaro, utilizou R$ 160 mil de seu fundo partidário para pagar um sócio de Eduardo Bolsonaro, deputado federal do PL de São Paulo. 

O beneficiário do desembolso foi o advogado Sérgio Sant’Ana, diretor do Instituto Conservador-Liberal, organização criada em sociedade com o filho do ex-presidente e que tem como principal missão a organização das edições brasileiras da Conferência de Ação Política Conservadora, o CPAC.

De acordo com a prestação de contas do PL ao Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, o pagamento foi efetuado em 24 de janeiro de 2024, sob a justificativa de serviços genéricos de “consultoria jurídica”. O documento fiscal que poderia fornecer mais detalhes dos serviços prestados ainda não está disponível – o prazo é só no final do ano. Por enquanto, o extrato financeiro do PL confirma apenas a data e o valor do desembolso. 

Sant’Ana é advogado de vários integrantes do PL, como os deputados federais Adilson Barros, de São Paulo, e Gustavo Gayer, de Goiás, e o ex-deputado André Porciúncula, da Bahia, mas os processos não têm ligação com a vida partidária. O TSE proíbe a utilização do fundo para pagamento de honorários advocatícios. Não foram localizados casos em que Sant’Ana defende o PL.

O pagamento do PL ao sócio de Eduardo Bolsonaro na organização do CPAC chama a atenção porque, no ano passado, o partido utilizou sua Fundação Álvaro Valle para bancar todos os ingressos do evento. A Fundação é mantida, em parte, com recursos do fundo.

Na ocasião, foi o próprio Sant’Ana que explicou o apoio da fundação ao evento. “É uma questão de sinergia. A missão da fundação do PL é trabalhar pela difusão dos valores conservadores no Brasil, e o CPAC é o maior evento conservador do país. Essa parceria, portanto, faz todo sentido”, disse. 

Na edição de 2023, o investimento do PL no CPAC superou os R$ 150 mil, de acordo com levantamento publicado no ICL Notícias. O valor considera R$ 122 mil aplicados pela Fundação Álvaro Valle e a verba somada de R$34,6 mil gasta por deputados bolsonaristas com diárias e passagens da Câmara dos Deputados para irem ao evento.

Procurados, Sant’Ana e o PL não responderam aos questionamentos feitos pelo Intercept sobre a natureza dos serviços prestados pela advogado. Eduardo Bolsonaro e o Instituto Conservador-Liberal também foram procurados. Não houve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.

Do governo Bolsonaro para o CPAC

O CPAC é um evento criado originalmente nos EUA que reúne líderes e simpatizantes do movimento conservador. No Brasil, a conferência ocorre desde 2019, quando foi realizada em São Paulo. Já passou por Brasília e Minas Gerais e, desde 2021, é organizada pelo Instituto Conservador-Liberal.

A sociedade individual de advocacia de Sérgio Sant’Ana, beneficiária do pagamento, foi criada em janeiro de 2022. Os dados da empresa são praticamente os mesmos do Instituto Conservador-Liberal. 

A começar pelo número de telefone registrado, que é quase idêntico ao número cadastrado na Receita Federal pelo ICL, dirigido por Eduardo Bolsonaro e Sant’Ana desde sua fundação, em dezembro de 2019.

Além disso, os domínios CPAC Br e iclbr.com.br listam Sant’Ana como proprietário. Antes, a URL do ICL estava em nome do irmão de Sant’Ana, Hélio Cabral Sant’Ana, ex-diretor de tecnologia da informação na Secretaria-Geral da Presidência da República do governo Jair Bolsonaro.

Sérgio Sant’Ana, assim como o irmão, também passou por cargo comissionado no governo Bolsonaro. Ele foi assessor especial do Ministério da Educação na gestão de Abraham Weintraub e chegou até a ser cogitado para o cargo de ministro de estado. 

Depois do governo, os irmãos Sant’Ana têm se dedicado a articulações internacionais. Enquanto Sérgio se debruça na produção do CPAC, Hélio trabalha para uma empresa israelense de cibersegurança que tem conexões com o Exército Brasileiro.

CPAC 2024: oito confirmados, sete do PL

Nas redes sociais, a ONG de Sérgio Sant’Ana e Eduardo Bolsonaro se dedica quase que exclusivamente a publicações promocionais da próxima edição do CPAC, que vai acontecer em julho, em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. 

Até o momento, segundo o site do evento, foram confirmados oito palestrantes. Entre eles, sete são deputados federais do PL. Em boa parte das publicações anunciando os nomes dos convidados, quem aparece como garoto-propaganda é Sant’Ana.

Na primeira delas, em 26 de abril deste ano, o sócio de Eduardo Bolsonaro gravou um vídeo ao lado de Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas, atualmente do Republicanos – mas em negociação para ingressar no PL. Derrite escreve artigos para o site do ICL.

Derrite, deputado federal licenciado para ocupar o cargo de secretário, foi o primeiro convidado confirmado para o CPAC 2024 a ter uma peça de divulgação nas redes sociais. Em 1° de maio, Sant’Ana gravou vídeo confirmando a presença de outra figura proeminente no PL paulista: o  ex-ministro Ricardo Salles.

Além de Salles, Derrite e, claro, Eduardo Bolsonaro, estão confirmadas as presenças de outros integrantes da bancada do PL no Congresso Nacional no CPAC 2024: Nikolas Ferreira, de Minas Gerais; e Júlia Zanatta, Caroline de Toni e Ana Campagnolo, de Santa Catarina.

O único palestrante confirmado que não integra as fileiras do partido é um estrangeiro, o ator e diretor mexicano Eduardo Verástegui, autor do filme “Sound of Freedom”. A obra caiu nas graças da extrema direita ao retratar a história de um ex-agente do Departamento de Segurança Interna do governo dos EUA que larga o posto para “fazer justiça com as próprias mãos” e tentar acabar com o tráfico sexual de pessoas.

🚨 O QUE ENFRENTAMOS AGORA 🚨

O Intercept está vigiando manobras eleitorais inéditas da extrema direita brasileira. 

Os golpistas estão de cara nova, com seus ternos e sapatênis. Eles aprenderam estratégias sofisticadas de marketing digital para dominar a internet, que estão testando agora nas eleições municipais.

O objetivo final? Dominar bases de poder locais para tomar a presidência e o congresso em 2026. 

Não se deixe enganar: Bolsonaro era fichinha perto dos fascistas de sapatênis…

O Intercept não pode poupar esforços para investigar e expor os esquemas que colocam em risco nossos direitos e nossa democracia.

Já revelamos as mensagens secretas de Moro na Lava Jato. Mostramos como certas empresas e outros jornais obrigavam seus trabalhadores a apoiarem Bolsonaro. E expusemos como Pablo Marçal estava violando a lei eleitoral. 

Mas temos pouco tempo, e muito mais a revelar. Agora precisamos de recursos para colocar mais repórteres nas ruas. Para isso, precisamos de sua ajuda. Somos financiados por nossos leitores, não pelas empresas ricas que mandam em Brasília.

Faça parte do nosso time para causar o impacto eleitoral que você não verá em nenhum outro lugar! Faça uma doação de qualquer valor ao Intercept hoje mesmo! 

APOIE O INTERCEPT HOJE!

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar