Isabela Fernandes

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Meta acaba com moderação para puxar saco de Trump e lucrar mais

Zuckerberg finge que a mudança nas regras anunciadas defendem a liberdade de expressão. Na verdade, defendem Trump e o próprio bolso.

Zuckerberg puxa saco de Donald Trump.

Zuckerberg puxa saco de Donald Trump.
Mark Zuckerberg anuncia em vídeo no Instagram que Meta irá mudar sistema de moderação de conteúdo.(Fonte: divulgação no Instagram)

No dia 6 de Janeiro, o  CEO da Meta, Mark Zuckerberg, publicou um vídeo anunciando mudanças relacionadas à moderação de conteúdo e à verificação de fatos. A mensagem mostra claramente o alinhamento de Zuckerberg e da Meta com o governo Donald Trump, que tomará posse no dia 20 de janeiro.

O vídeo, com duração de cinco minutos, aborda tantas questões que o mais adequado é processá-lo por partes.

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Retrocesso

A mudança de política da Meta marca um grande retrocesso na luta mundial por uma internet mais segura, inclusiva e democrática.

A Meta começou a investir em verificação de fatos, ou fact-checking, e em melhorar a moderação de conteúdo, após o escândalo da Cambridge Analytica, em 2014. Na época, foi revelado como a Cambridge Analytica, utilizando dados privados dos usuários do Facebook, conseguiu manipular a opinião pública por meio de fake news para vencer eleições e plebiscitos.

Esse evento desencadeou uma série de ações, tanto da sociedade civil quanto de governos, que contribuíram para melhorias na moderação de conteúdo do Facebook e Instagram.

Essas melhorias protegiam as comunidades mais vulneráveis. A importância do fact-checking também foi vista durante a pandemia de Covid-19 e nas eleições recentes.

Dá para dizer que todo o problema foi resolvido? Claro que não. Até mesmo porque, quando estamos lidando com um problema complexo como esse, é impossível esperar que ele seja resolvido rapidamente. E, também, que uma única solução será suficiente ou perfeita.

O objetivo deve ser a contínua caminhada na direção da solução. Ou seja, implementar soluções, investigar as falhas, integrar melhorias, voltar a investigar novas falhas, criar novas soluções etc. É um trabalho contínuo.

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A decisão da Meta irá marcar um enorme retrocesso em relação à resolução desse problema complexo. Esse retrocesso afeta principalmente pessoas mais vulnerabilizadas porque libera o discurso de ódio e elimina políticas de proteção que ajudavam a tornar o Facebook e Instagram um lugar mais seguro e inclusivo.

A falta de moderação de conteúdos contra desinformação coloca em risco processos democráticos como eleições, questões de saúde e também a discussão sobre as mudanças climáticas, tópicos que poderão afetar milhares de pessoas em todo o mundo.

O retrocesso não é apenas na luta por uma internet mais segura, inclusiva e democrática, mas também na luta por um mundo melhor.

Viés

Zuckerberg também expressou preocupação sobre o viés da moderação. Não chegou a dizer isso em seu pronunciamento, mas faz parte das mudanças anunciadas no time de moderação, chamado de Trust and Safety, da Califórnia para o Texas.

A Califórnia é um estado mais progressista do que o Texas e, por isso, as decisões do time californiano tendem a se alinhar com a luta pelos direitos humanos. O Texas, por ser um estado mais conservador, provavelmente terá um time com menos direcionamento para a defesa dos direitos humanos.

Esse incômodo com o viés na moderação de conteúdo não aparece quando ele é adotado pelos algoritmos que a plataforma utiliza para disponibilizar conteúdos aos usuários. No momento em que as plataformas de mídia sociais deixaram de usar a ordem cronológica da publicação de conteúdo na exibição para os seus usuários, elas começaram a controlar e, de certa forma, a censurar o conteúdo consumido pelas pessoas.

Um exemplo é o famoso ‘shadow banning’, onde o algoritmo esconde certos tipos de conteúdos dos usuários. O alcance de algumas publicações é bem menor em comparação com o de outras. Isso é o que vem acontecendo com conteúdos pró-palestina no último ano. Parece que esse tipo de censura não incomoda  Zuckerberg.

Alinhamento com Trump

A preocupação não é com censura ou liberdade de expressão – mas sim em se alinhar politicamente com a administração Trump e garantir o lucro. Acima de tudo está o lucro. Não ter que investir em mudanças para respeitar regulamentações também irá aumentar o lucro. Além disso, conteúdos polêmicos como fake news ou discursos de ódio tendem a manter as pessoas engajadas e, assim, mais anúncios serão visualizados, aumentando o lucro com anunciantes.

Zuckerberg não está apenas copiando o X ao mudar suas políticas de moderação. A participação ativa de Elon Musk na política é um exemplo visto como uma grande oportunidade para as empresas do Vale do Silício.

Zuckerberg fez questão de demonstrar seu engajamento com o governo Trump. A política de Trump cai muito bem com os interesses das big techs. Ter uma administração que irá bancar as brigas contra as tentativas de regulamentações vinda de outros países e que, possivelmente, apoiará mudanças de governo (golpes) em lugares estratégicos e com recursos naturais que essas empresas precisam é uma oportunidade de lucro e crescimento.

No vídeo, ele fez questão de mencionar a interferência internacional como problema, citando a China, Alemanha (Europa) e a América Latina. E, de quebra, deu uma indireta ao Brasil devido ao caso recente do STF contra o X ao dizer que ‘existem cortes secretas’ na América Latina. É engraçado ver Zuckerberg preocupado com cortes secretas na América Latina enquanto nos EUA existe a FISC ou FISA, uma corte secreta que emite as ordens de coleta de dados para o sistema de vigilância massiva do país.

A falta de transparência nesse processo é tão grande que, se alguém for responsável por um serviço online e receber uma carta da FISA obrigando a entrega de dados dos seus clientes, não se pode nem mesmo conversar com um advogado sobre o assunto.

Mas o problema nunca é nos EUA. A visão de excepcionalismo que os EUA têm fica bem clara na declaração de Zuckerberg.

O futuro está em nossas mãos

O sinal dado pelo anúncio de Zuckerberg, do perigo do monopólio das big techs à democracia, não é novo, mas sim mais um sinal forte. É preciso agir. As lideranças mundiais devem pedir explicações sobre como a Meta irá funcionar em relação às suas legislações locais.

As regiões que ainda não possuem regulamentação específica para as big techs precisam avançar no debate e começar a implementar essas regulamentações o quanto antes.

Mas não basta regulamentar as big techs: é preciso, também, criar alternativas ao monopólio tecnológico que elas controlam. Para mim, o melhor exemplo de como fomentar essas alternativas é a partir do apoio de governos ao desenvolvimento de software livre (FOSS). A América Latina teve um avanço gigantesco quando esse tipo de apoio era parte da política regional. Todos saíram ganhando: os setores público e privado, bem como a sociedade civil.

A declaração do CEO da Meta não deveria ser vista como uma derrota, apesar de marcar um grande retrocesso. Ela demonstra que precisamos sair do domínio das big techs o quanto antes. Essa é mais uma etapa na batalha contínua por um mundo menos dominado pelas big techs, onde a internet é segura, inclusiva e democrática.

JÁ ESTÁ ACONTECENDO

Quando o assunto é a ascensão da extrema direita no Brasil, muitos acham que essa é uma preocupação só para anos eleitorais. Mas o projeto de poder bolsonarista nunca dorme.

A grande mídia, o agro, as forças armadas, as megaigrejas e as big techs bilionárias ganharam força nas eleições municipais — e têm uma vantagem enorme para 2026.

Não podemos ficar alheios enquanto somos arrastados para o retrocesso, afogados em fumaça tóxica e privados de direitos básicos. Já passou da hora de agir. Juntos.

A meta ousada do Intercept para 2025 é nada menos que derrotar o golpe em andamento antes que ele conclua sua missão. Para isso, dependemos do apoio de nossos leitores.

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