Trump e Zelenskyy conversam sobre situação da Ucrânia.

APOIE O JORNALISMO INDEPENDENTE!

O Intercept revela os segredos dos mais poderosos do Brasil.

Você vai fazer sua parte para que nosso jornalismo independente não pare?

Garanta que esse trabalho continue. Faça uma doação de R$ 20 hoje!

QUERO DOAR

APOIE O JORNALISMO INDEPENDENTE!

O Intercept revela os segredos dos mais poderosos do Brasil.

Você vai fazer sua parte para que nosso jornalismo independente não pare?

Garanta que esse trabalho continue. Faça uma doação de R$ 20 hoje!

QUERO DOAR

Trump não liga para a Ucrânia, mas quer lucrar

Proposta de Trump para manter apoio à Ucrânia exige gigantescas concessões e expõe estratégia predatória dos EUA - que favorece a Rússia.

Trump e Zelenskyy conversam sobre situação da Ucrânia.

Como parte de seu plano de paz no Leste Europeu, o presidente dos EUA, Donald Trump, está exigindo a completa colonização econômica da Ucrânia.

Os termos da proposta inicial de Trump, detalhados em um documento vazado obtido pelo jornal The Telegraph, propõem que os EUA controle os recursos naturais, os portos e a infraestrutura da Ucrânia, incluindo US$500 bilhões (R$2,8 trilhões) em riquezas minerais, como “contrapartida” pela ajuda militar. Após anos de ajuda militar, Trump decidiu que agora é hora de lucrar.

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

A proposta de Trump exige da Ucrânia direitos exclusivos “em definitivo” sobre seus recursos naturais e sua infraestrutura. “Este acordo será regido pela lei de Nova York, sem consideração pelos princípios de conflito de jurisdição”, dispõe o contrato. E os rendimentos devem ser pagos aos EUA antes de qualquer outra parte. “Essa cláusula significa ‘pague primeiro para nós, depois alimente seus filhos'”, disse ao Telegraph uma fonte próxima às negociações.

A espantosa pretensão de Trump sobre a riqueza mineral da Ucrânia não é nova. O próprio Volodymyr Zelenskyy, presidente da Ucrânia, já propôs abrir mão de recursos naturais do país para garantir a ajuda dos países ocidentais. E, em Washington, o senador Lindshey Graham, do Partido Republicano da Carolina do Sul, já havia lançado anteriormente a ideia. “Eles estão sentados sobre um trilhão de dólares de minerais que poderiam ser bons para a nossa economia”, disse Graham, ao lado de Zelenskyy, durante uma visita à Ucrânia no ano passado. “Então quero continuar a ajudar nossos amigos da Ucrânia.”

‘Trump pretende usar a tragédia da guerra na Ucrânia para encher os cofres do complexo militar industrial e das classes capitalistas dos EUA.”

O valor de US$ 500 bilhões equivale a quase três vezes o PIB da Ucrânia. E, como já apontaram os observadores, a extensão da riqueza mineral da Ucrânia pode estar sendo exagerada. Ainda assim, é inegável que Trump pretende usar a tragédia da guerra na Ucrânia para encher os cofres do complexo militar industrial e das classes capitalistas dos EUA

É o que ele faz em todo lugar. A notícia da proposta inicial de Trump para a Ucrânia vem a reboque de seu projeto extremista de expulsar à força os palestinos de Gaza e transformar a região na “Riviera do Oriente Médio”, uma tramoia que poderia ser usada para enriquecer seus amigos no ramo da incorporação imobiliária.

Da mesma forma que no caso dos palestinos em Gaza, os planos de Trump para enriquecer seus amigos da classe dominante dos EUA virão às custas dos ucranianos. E, como em Gaza, a Ucrânia não tem boas alternativas, e qualquer acordo que aceite com a Rússia ou os EUA incluirá concessões dolorosas.

Não precisava ser assim.

Houve vários momentos em que um término negociado para o conflito poderia ter sido obtido. Em meados de 2022, quando a Ucrânia tinha mais margem de manobra, um grupo de parlamentares progressistas dos EUA pressionou o governo Biden a condicionar o apoio às vitórias da Ucrânia com um “empurrão diplomático proativo” em busca de um cessar-fogo.

Os parlamentares, como o restante do campo favorável à diplomacia, foram implacavelmente atacados e difamados por adotarem esse posicionamento. Os “falcões”, favoráveis a uma postura agressiva, em conjunto com o lado chamado de pró-Ucrânia, acusavam qualquer pessoa que ousasse propor um caminho democrático de não se importar com as vidas ou a soberania da Ucrânia. Eles aplaudiam o auxílio militar agressivo, defendendo que mesmo as mais contidas propostas de negociação eram um presente para o presidente russo Vladimir Putin.

A realidade é que o esforço de guerra ucraniano nunca foi tão estável quanto afirmavam seus apoiadores ocidentais.

Desde o início, os parlamentares dos EUA repetiram o mantra de que apoiariam a Ucrânia “pelo tempo que fosse necessário”. Essa foi uma promessa profundamente enganosa. As guerras são caras, e a capacidade dos EUA de financiá-las é determinada pelas condições econômicas, pela política interna, e pelas mudanças da opinião pública. A vontade política para continuar indefinidamente a guerra nunca foi sustentável, e no entanto os soldados ucranianos foram enviados para a batalha sob a ilusão de que os EUA permaneceriam inabaláveis em seu compromisso.

A política do governo Biden na Ucrânia reflete uma mentalidade semelhante à de Trump, embora menos explícita. Antes de Putin iniciar essa guerra, houve saídas possíveis. Um alto funcionário do governo Biden admitiu que os EUA não fizeram nenhum esforço para negociar um dos principais receios de Putin antes da invasão: a possível adesão da Ucrânia à OTAN. Quando Kiev e Moscou começaram a conversar diretamente durante as primeiras semanas do conflito, os governos dos EUA e do Reino Unido agiram para minar as negociações, segundo diversos relatos.

‘Os decisores políticos de Washington nunca enfrentaram a sério o imenso custo humano, econômico e social da guerra na Ucrânia.’

O governo Biden também pressionou a Ucrânia a reduzir sua idade de convocação militar, de 25 para 18 anos, para aumentar o número de soldados e lidar “mais agressivamente” com o problema de ter dezenas de milhares de soldados que não querem lutar. Aliados de Trump, como Graham e o consultor de segurança nacional Mike Waltz também pressionaram a Ucrânia a reduzir a idade de recrutamento — propostas que Zelenskyy também rejeitou, e são politicamente impopulares entre os ucranianos.

Os decisores políticos de Washington nunca enfrentaram a sério o imenso custo humano, econômico e social da guerra na Ucrânia, porque nunca precisaram. Para eles, sempre foi um conflito distante, um meio para enfraquecer a Rússia e posicionar os interesses estadunidenses na região.

A exigência de Trump de “contrapartida” pela Ucrânia — tratando o conflito mais sangrento na Europa desde a Segunda Guerra Mundial como se fosse uma espécie de favor sem reconhecimento — representa a política externa dos EUA em sua forma mais crua.

Como resultado da recusa dos países ocidentais em considerar a sério os meios diplomáticos, a Ucrânia foi levada a uma escolha impossível: travar uma guerra perdida sem apoio dos EUA, ou se submeter à vassalagem econômica sob as mesmas potências que prolongaram seu sofrimento.

JÁ ESTÁ ACONTECENDO

Quando o assunto é a ascensão da extrema direita no Brasil, muitos acham que essa é uma preocupação só para anos eleitorais. Mas o projeto de poder bolsonarista nunca dorme.

A grande mídia, o agro, as forças armadas, as megaigrejas e as big techs bilionárias ganharam força nas eleições municipais — e têm uma vantagem enorme para 2026.

Não podemos ficar alheios enquanto somos arrastados para o retrocesso, afogados em fumaça tóxica e privados de direitos básicos. Já passou da hora de agir. Juntos.

A meta ousada do Intercept para 2025 é nada menos que derrotar o golpe em andamento antes que ele conclua sua missão. Para isso, dependemos do apoio de nossos leitores.

Você está pronto para combater a máquina bilionária da extrema direita ao nosso lado? Faça uma doação hoje mesmo.

Apoie o Intercept Hoje

Entre em contato

Conteúdo relacionado

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar